Kurt Tucholsky, autor satírico e combativo
25 de agosto de 2012Kurt Tucholsky foi uma personalidade inquieta e contraditória, um mestre da autoencenação, elegante, impetuoso, um sedutor, festeiro, "don juan". Mas, acima de tudo, era um autor e observador crítico de sua época.
Durante sua breve vida, de 1890 a 1935, ele estudou Direito, antes de se dedicar inteiramente à literatura. A obra que o tornou conhecido da noite para o dia, em 1912, foi Rheinsberg, que trazia o subtítulo "Livro ilustrado para enamorados", uma narrativa erótica e lúdica.
Uma estratégia desenvolvida pelo próprio autor ajudou o livro a se tornar um best-seller: junto com seu amigo, o ilustrador Kurt Szafranski, abriu um bar literário provisório, na avenida Kurfürstendamm de Berlim. Quem comprava um exemplar de Rheinsberg ganhava grátis uma dose de aguardente. O bar foi fechado em breve, mas o livro continuou vendendo.
Um antimilitarista na guerra
Pouco mais tarde, Tucholsky publicava seus primeiros artigos, adotando diferentes pseudônimos para cada um dos jornais que o publicavam: Peter Panter, Theobald Tiger, Ignaz Wrobel – mais tarde, também, Kaspar Hauser.
Sua carreira jornalística é interrompida pela Primeira Guerra Mundial. O antimilitarista convicto, que desprezava toda pompa e circunstância militar, é recrutado.
Agora, o bon vivant passa por experiências totalmente inéditas: no Báltico, como auxiliar de comunicações e escrivão da companhia, mais tarde na polícia política na Romênia – um país que, como escreveria, ele execrava por suas injustiças sociais e sua classe de funcionários e políticos corruptos. Só o vinho romeno lhe agradava.
Na Romênia, aliás, o judeu Tucholsky se batiza protestante. Uma decisão antes casual, pois ele já se distanciara há muito tempo do judaísmo religioso.
"Soldados são assassinos"
Em 1918, o autor retorna a Berlim, onde testemunha toda a polêmica em torno do Tratado de Versalhes, observa manifestações de massa e a radicalização política. Ele fica horrorizado com o clima político na Alemanha, os atentados políticos, o recrudescimento das forças reacionárias – e durante algum tempo vai parar num cargo de redator de um jornal de propaganda com tendências de direita.
Tucholsky, o vira-casaca. Mais tarde, também trabalhará para o comunista Arbeiter Illustrierte Zeitung, mas permaneceria republicano e democrata, registrando como um sismógrafo os perigos de seu tempo e a ameaça fascista que já despontava no horizonte.
Em 1931, formula numa crônica uma frase que provocaria celeuma até bem recentemente: "Soldados são assassinos". Em consequência, o então editor Carl von Ossietzky teve que responder a processo por "ofensa às Forças Armadas do Reich", mas foi absolvido.
Na Alemanha Ocidental, 65 anos mais tarde, essa afirmação, em formas variadas, seria a causa de confrontos jurídicos que iriam até o Tribunal Constitucional Federal: Tucholsky, a consciência crítica de uma época e uma nação, um "solitário entre os intelectuais da República de Weimar", como o descreve Rolf Hosfeld em sua recente biografia, Tucholsky – ein deutsches Leben (Uma vida alemã).
A República canta e dança
E essa República não faz só política, ela dança. Freneticamente – ao menos na capital. Lá, a indústria de entretenimento floresce, desde os anos 1920. Realizam-se shows de strip-tease e "cabarés humorísticos", mas também o teatro sério floresce e o cinema ganha popularidade.
Nesse meio Tucholsky descobre o seu palco, escreve letras de canções para as revues, as estrelas dos cabarés literários. São textos burilados, polêmicos, com um toque de humor irreverente. Ele lança seu primeiro disco, Wenn der alte Motor wieder tackt (Quando o velho motor volta a popocar), um estrondoso sucesso em 78 rpm.
Mas também há a pessoa privada: um homem charmoso, adorado pelas mulheres. Por ele, arriscam uma prevaricação, abandonam marido e filhos, o perseguem de automóvel, sobem em aviões, quase despencam do céu.
Mas o escritor permanece um amante indeciso, infernizado por acessos de ciúme. Casa-se, separa-se, retorna arrependido. Seu verdadeiro amor é Mary Gerold, natural de Riga, a qual, por sua vez, o abandona após anos de vai-e-vem. Mas é dela a carta de despedida que Tucholsky leva no bolso do paletó, anos a fio, até a morte.
"Poeta acabado"
Kurt Tucholsky – que agora escreve para os mais importantes periódicos da época, é um orador eloquente e se apresenta em diversas plataformas, agita em nome da paz e contra a guerra, filia-se à Liga Alemã dos Direitos Humanos – é também um viajante incansável.
Berlim, Paris, Lugano, Riviera, Hamburgo, Suécia, novamente Berlim, novamente Paris: ele nunca chega a realmente se assentar em lugar nenhum. Em 1931, lança o romance de verão Palácio Gripsholm, também com enorme êxito.
Em 10 de maio de 1933, também os livros dele são queimados publicamente pelos nazistas. Assim como tantos outros artistas e intelectuais de origens judaicas, ele é agora considerado "antigermânico". O autor proscrito consta da primeira lista de expatriação do Reich Alemão, que os nacional-socialistas haviam usurpado, seu passaporte é cancelado.
Tucholsky se muda para a Suécia, onde não tem permissão de trabalhar: o dinheiro escasseia, sua saúde sofre. O nazismo e a disseminação da ideologia fascista na Europa o deprimem. Seu amigo Carl von Ossietzky, também autor e jornalista, é levado para o campo de concentração e cruelmente torturado. No exílio, Kurt Tucholsky se sente "um poeta acabado". Seu espírito combativo fica seriamente abalado.
Em 21 de dezembro de 1935, ele falece num hospital. O diagnóstico oficial é overdose de medicamentos.
Autora: Cornelia Rabitz (av)
Revisão: Alexandre Schossler