"Já nos acostumamos às sirenes", dizem moradores de Kursk
15 de agosto de 2024Há uma semana, as Forças Armadas da Ucrânia estabeleceram-se em várias localidades da região de Kursk, na Rússia. Na última segunda-feira (12/08), 28 cidades e vilarejos estavam sob controle ucraniano, segundo afirmou o governador interino de Kursk, Alexei Smirnov, ao presidente russo, Vladimir Putin.
A maior dessas localidades seria Sudzha, com 5 mil habitantes. Unidades especiais ucranianas afirmaram no Telegram que a cidade estava sob seu controle. De acordo com veículos de propaganda russos, Sudzha é atualmente o principal palco de combates.
Unidades ucranianas estariam atacando em várias direções, e foi ordenada a evacuação da cidade de Lgov, que tem 17 mil habitantes. Também na região vizinha de Belgorod, localidades estão sendo evacuadas.
Segundo Smirnov, cerca de 2 mil pessoas, cujo destino seria desconhecido, se encontravam nas áreas controladas pelas tropas ucranianas.
A DW conversou com moradores de Belgorod e Kursk sobre a situação em suas cidades, bem como sobre o quanto confiam nas autoridades russas.
Televisão estatal fala apenas de "dificuldades temporárias"
Segundo relataram vários moradores, somente no dia 9 de agosto houve dez alertas de ataque aéreo em Kursk. Margarita, que preferiu não revelar seu nome verdadeiro, afirma que a situação na região está "tranquila" e que as pessoas continuam trabalhando, fazendo compras e passeando como de costume.
"As sirenes tocam com frequência, mas já nos acostumamos. O alarme é para toda a região, não apenas para nós", ressalta.
A televisão estatal fala apenas de "dificuldades temporárias". No entanto, Margarita ouviu de parentes que os combates são mais intensos do que o mostrado na TV, e que as pessoas estão fugindo das áreas da região de Kursk que fazem fronteira com a Ucrânia. Mesmo assim, ela acredita que tudo isso será "apenas passageiro" e planeja permanecer em sua cidade natal.
Antonina vive na cidade de Kursk, centro administrativo da região homônima, e tem uma irmã em Sudzha. "Quando o bombardeio começou, minha irmã Julia fugiu às pressas", relata.
Julia e a família se abrigaram na casa de parentes em Oriol, cerca de 260 quilômetros ao norte de Sudzha, e ela teve que deixar para trás todos os seus documentos, incluindo cartões bancários, conta Antonina. "Mas o que mais a preocupa são a casa e seus animais. Ela deixou para trás leitões, patos e galinhas", diz.
Agora, Julia e a família estão em busca de outro lugar para morar. Devido a dificuldades no abastecimento, ela ainda não teria conseguido ter acesso a rações de alimentos. Além disso, estaria esperando para receber 10.000 rublos (cerca de R$ 615) prometidos pelo governo russo para todos que tiveram que deixar suas casas.
Críticas a Putin
Em Belgorod, os alertas de ataques aéreos também se tornaram frequentes, conta Nina, que vive na região e também preferiu não revelar seu nome verdadeiro. Enquanto conversava com a DW pelo telefone, uma sirene soou, mas a jovem permaneceu em seu quarto.
"Já nos acostumamos com isso, eu parei de ir para o corredor", diz ela.
Segundo Nina, moradores da cidade estão aliviados pelo fato de o Exército ucraniano ainda não ter chegado até eles, mas falam sobre a possibilidade de uma invasão na região. Desde o início da ofensiva ucraniana na vizinha Kursk, o número de militares russos em Belgorod tem aumentado, relata.
Segundo Nina, as pessoas em Belgorod estão criticando cada vez mais as autoridades russas, incluindo o presidente. "Meus amigos e parentes que apoiam a guerra já consideram Putin um líder fraco por ele não estar fazendo nada."