Arquivos da RAF
25 de abril de 2007A Procuradoria Geral da República voltou a investigar o assassinato do procurador-geral da República, Siegfried Buback, executado em 7 de abril de 1977 por integrantes da organização terrorista Fração do Exército Vermelho (RAF).
"Existe a suspeita de que o ex-integrante da RAF Stefan Wisniewski participou do crime", explicou a procuradora-geral, Monika Harms, nesta quarta-feira (25/04) em Karlsruhe, ao anunciar a reabertura do processo.
O inquérito sobre o caso foi reaberto depois que um dos ex-integrantes da organização terrorista, Peter-Jürgen Boock, quebrou o silêncio de três décadas sobre os crimes da RAF que abalaram a Alemanha nas décadas de 1970 e 1980. No último fim de semana, ele revelou à revista Der Spiegel que Wisniewski matou Buback.
Até agora, Christian Klar, Knut Folkerts e Günter Sonnenberg eram considerados os principais suspeitos do assassinato. Wisniewski não havia sido vinculado ao crime. Ele fora condenado duas vezes à prisão perpétua em 1981 pelo seqüestro e assassinato do líder empresarial Hans-Martin Schleier, mas se encontra em liberdade desde 1999.
Vasculhando os arquivos da RAF
Harms anunciou uma minuciosa análise dos arquivos do processo e que serão ouvidas novas testemunhas, entre elas Boock, cujas declarações à imprensa inocentam Christian Klar. Klar cumpre pena de prisão perpétua há quase 25 anos e pediu indulto ao presidente alemão.
Segundo a procuradora, as novas investigações não terão qualquer efeito sobre as sentenças contra Klar (condenado como co-autor do assassinato) e Folkerts.
Acusações contra serviços secretos
Vários meios de comunicação na Alemanha noticiaram que o Departamento Federal de Investigações (BKA) e o Departamento Federal de Proteção da Constituição omitiram informações cruciais durante o processo original, o que teria levado a Justiça a cometer erros no julgamento. A denúncia causou indignação junto aos familiares da vítima.
Segundo o presidente da Comissão de Controle dos Serviços Secretos do Bundestag (câmara baixa do Parlamento alemão), Max Stadler, "em casos tão graves, como o de um assassinato, é inadmissível que alguém seja condenado enquanto outras autoridades têm informações que o inocentam".
Segundo a Spiegel, a ex-terrorista Verena Becker havia informado o Departamento Federal de Proteção da Constituição em 1985 que o assassino de Buback foi Wisniewski. A autoridade não teria repassado essa informação à Justiça sob o pretexto de proteger a fonte. Becker, condenada à prisão perpétua em 1977, recebeu indulto do presidente alemão Richard von Weizäcker no final de 1989, depois de renegar o terrorismo.
A procuradora-geral da República, Monika Harms, disse não ter informações que justifiquem essas acusações contra os serviços secretos. Ela deixou claro também que as investigações sobre os assassinatos da RAF nos anos 70 nunca foram encerradas. "Ainda há vários inquéritos em andamento em que a Procuradoria Geral tenta descobrir os autores dos crimes", disse. (gh)