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Juristas iranianos criticam sistema religioso do país

3 de novembro de 2022

Numa iniciativa arriscada, 40 advogados acusam governo encabeçado por aiatolá Khamenei de "reprimir, prender e matar para silenciar". Protestos pela morte da jovem Mahsa Amini entram na 7º semana com quase 180 vítimas.

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Polícia reprime protesto estudantil no Irã
Polícia reprime protesto estudantil na Universidade Azad, em Teerã, 31/10/2022Foto: UGC

Um grupo de conceituados advogados de direitos humanos iranianos criticou publicamente os governantes religiosos do país.

"O governo ainda está afogado em ilusões e crê que pode reprimir, prender e matar para silenciar", acusaram, em comunicado enviado à agência de notícias Reuters e divulgado nesta quinta-feira (03/11). "Mas a avalanche dos cidadãos vai acabar por remover o governo, pois a vontade divina está do lado do povo. A voz do povo é a voz de Deus."

Os 40 juristas que assinaram o comunicado vivem em parte no Irã, parte no exterior. Quem vive no país arrisca ser preso por seus comentários. O manifesto é mais um exemplo do número crescente de iranianos que estão se libertando da paralisia do medo que os manteve na linha durante décadas.

Um dos signatários é Saeid Dehghan, que representou no Irã réus de dupla nacionalidade acusados de delitos contra a segurança nacional. Outra é Giti Pourfazel, que esteve entre os ativistas presos por assinarem uma carta aberta em 2019 exigindo a renúncia do líder supremo Ali Khamenei. Ela foi liberada em 2021.

Ira por Mahsa Amini

Os protestos desencadeados pela morte de Mahsa Amini, de 22 anos, em 16 de setembro – sob custódia policial por ter "usado de forma inapropriada" o véu islâmico – vêm abalando o sistema político iraniano, que é uma complexa combinação de autoridade clerical xiita e presidente e parlamento eleitos.

O presidente cuida das questões governamentais do dia a dia, mas se orienta pelo profundamente antiocidental aiatolá Ali Khamenei. Um órgão de vigilância composto por clérigos e juristas – alinhado ao líder supremo e inclinado a drásticas restrições políticas e sociais – tem o poder de vetar leis e decidir quem pode concorrer a cargos políticos.

As presentes manifestações em âmbito nacional – que anunciam um "ano de sangue" e incluem palavras de ordem exigindo a morte de Khamenei – representam um dos desafios mais sérios a Teerã desde a Revolução Islâmica de 1979. O governo culpa seus inimigos estrangeiros e os agentes destes pelos protestos, acusando-os de tentarem desestabilizar o país.

Segundo a organização Iran Human Rights (IRH), 176 indivíduos já foram vítimas da repressão policial aos protestos por Amini que sacodem o país há quase sete semanas, mil foram indiciados por "ações subversivas". Outros 101 manifestantes morreram numa onda de protesto paralela em Zahedan, na província de Sistão-Baluchistão, no sudeste. Dos mortos, 40 tinham menos de 18 anos de idade.

av/lf (Reuters,AFP)