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Julia Klöckner desponta como novo rosto do partido de Merkel

Kate Brady (ek)11 de março de 2016

Ex-rainha do vinho é esperança dos conservadores para acabar com domínio social-democrata na Renânia-Palatinado. E ela não se esforça para esconder suas ambições também na política federal, de olho na era pós-Merkel.

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Foto: picture-alliance/dpa/T. Frey

"Não planejamos combinar os ternos", disse Julia Klöckner, em tom de brincadeira, quando ela e a chanceler federal Angela Merkel vestiam um blazer vermelho muito parecido. Klöckner, promessa da União Democrata Cristã (CDU) para o estado da Renânia-Palatinado, acrescentou, porém, que a dupla estava vestida de forma apropriada para a região alemã famosa pelo vinho tinto.

Nesta quarta-feira (09/03), as duas uniram forças e deram um último impulso na campanha da CDU antes da eleição no estado da Renânia-Palatinado, que acontece neste domingo.

Para Merkel, que além de chanceler é presidente da CDU, a votação é a chance que o partido tem de vencer os social-democratas do SPD, há 25 anos no poder no estado. Para Klöckner, uma vitória no domingo pode funcionar como alavanca para sua carreira política, tornando-a uma excelente candidata à sucessão de Merkel.

Mas, além de jornalista, teóloga e ex-rainha alemã do vinho, quem é Julia Klöckner?

Juventude

Filha de vinicultores, Klöckner começou sua carreira política aos 24 anos, quando integrou a ala jovem da CDU. Cinco anos mais tarde, em 2002, ela se tornaria deputada no Bundestag, o Parlamento alemão, antes de assumir o cargo de secretária parlamentar do Ministério da Alimentação, Agricultura e Defesa do Consumidor.

Após a desastrosa eleição estadual de 2006 na Renânia-Palatinado, a CDU encontrou um farol de esperança em Klöckner e, em setembro de 2010, nomeou-a principal candidata para a eleição de 2011, trazendo juventude para um partido de certa forma antiquado. Dois anos depois, ela foi eleita uma das vice-presidentes da CDU.

Em 2016, pesquisas mostram uma disputa acirrada entre Klöckner e a candidata do SPD e atual governadora, Malu Dreyer. Uma pesquisa divulgada nesta sexta-feira afirmou que Dreyer tem 36% dos votos, contra 35% de Klöckner. Outra deu 36% para Klöckner e 34% para Dreyer.

"Nossa Julia"

Depois que Klöckner ingressou no Bundestag, a admiração do eleitorado democrata-cristão por ela cresceu de forma acelerada, em grande parte graças a um equilíbrio entre o moderno e o conservador.

Ao mesmo tempo em que preserva os traços conservadores que os eleitores devotos da CDU tanto sentem falta, Klöckner também se esforça para dar uma cara mais moderna ao partido.

O orgulho ferrenho de sua terra natal – a Renânia-Palatinado – e do dialeto local da região também aproximam Klöckner das pessoas, levando muitos de seus eleitores a chamarem-na carinhosamente de "nossa Julia".

Julia Klöckner Deutsche Weinkönigin
Filha de vinicultores, Julia Klöckner foi eleita Rainha Alemã do Vinho em 1995Foto: picture-alliance/dpa/O.Berg

Conservadora e moderna

Klöckner quer ampliar as oportunidades para as mulheres jovens da Alemanha. Em 2013, ela propôs uma lei que estabelece uma cota de gênero para empresas de capital aberto, a fim de garantir cargos de chefia para mulheres. Ela também criticou revistas femininas por estimular garotas a seguir a "dieta do momento".

Porém, um aspecto criticado por muitos ativistas dos direitos femininos é a oposição declarada de Klöckner ao aborto. E, apesar de condenar a homofobia e defender tratamentos fiscais igualitários em casos de uniões homoafetivas, Klöckner é contra a adoção de crianças por casais homossexuais e também é contra o casamento entre pessoas do mesmo sexo.

A política de 43 anos, eleita Rainha Alemã do Vinho em 1995, também sabe usar sua experiência na mídia a seu favor, aproveitando a crise migratória para se mover cada vez mais para o centro do espectro político da CDU. Ela não se esforça para esconder suas ambições e continua elevando sua presença na política federal – suas propostas para a crise de refugiados são prova disso.

Propostas controversas de integração

Após a série de agressões sexuais ocorridas na noite de Ano Novo em Colônia, o debate sobre a crise migratória ganhou uma nova dinâmica na Alemanha, e Klöckner o transformou num ponto central de sua campanha.

Sem medo de críticas, ela tem defendido o que chama de "dever de integração", a fim de exigir que os requerentes de asilo assumam os valores da sociedade alemã e aprendam o idioma do país. "Aquele que não for capaz de defender esses princípios claramente escolheu o país errado", afirmou Klöckner nesta quarta-feira.

Em janeiro, ela propôs uma política alternativa para a crise de refugiados, conhecida como "A2", que desafia a política de portas abertas adotada pela chanceler federal. Desde então, Klöckner tem conseguido manter o difícil equilíbrio entre criticar a política de Merkel e ao mesmo tempo se manter fiel à "querida Angela", como ela chama a chefe de governo.

Esse exercício de equilíbrio político tem de durar até domingo, pois Klöckner e Merkel tem um objetivo comum de curto prazo: acabar com o poder dos social-democratas na Renânia-Palatinado.