Julia Jentsch no mundo de Sophie Scholl
23 de fevereiro de 2005Ela já brilhou no palco interpretando personagens como a Desdêmona de Shakespeare, a Brunhilde do Anel do Nibelungo e outros com os quais jovens atrizes apenas sonham no início de carreira.
Mas começo de carreira já é passado para Julia Jentsch. Aos 27 anos, a berlinense viu seu rosto estampado nos principais jornais e revistas do país, acompanhado de títulos como "talento surpreendente" ou "nova estrela do cinema alemão".
Mas de ares de estrela, Julia não tem muito. "Ela personifica um novo tipo de mulher: aberta, simpática, séria, introspectiva. Enfim, normal – e talvez por isso tão bem-sucedida", escreveu a revista Funk Uhr.
No fundo, normal
Filha de juristas, Júlia nasceu e cresceu no bairro de Charlottenburg, na então Berlim Ocidental. Após completar a escola, optou pela formação de atriz. Desde 1995, subiu ao palco diversas vezes, até aceitar em 2001 o convite da Münchner Kammerspiele e mudar-se para a capital da Baviera, onde vive até hoje. Há três anos, foi eleita pela revista Theater heute a maior descoberta do ano.
Mas, mesmo após tantos palcos e diversas produções para televisão, Júlia só se tornou conhecida do grande público após sua participação no filme Die fetten Jahren sind vorbei (Os anos gordos acabaram), de Hans Weingartner, que lhe rendeu o Prêmio de Cinema da Baviera em 2004 e chamou a atenção da crítica internacional durante o Festival de Cannes, para onde o cinema alemão retornava após um jejum de 11 anos.
Em Schneeland, Julia fez o papel de uma menina maltratada pelo pai durante os anos 30, que foge para encontrar a salvação no amor. Até que veio a Berlinale e ela foi celebrada como a mais nova queridinha tanto do público quanto da crítica. "Julia Jentsch só é maior que ela mesma nos personagens que representa. E nisso ela é, no momento, a maior de todas", elogiou o Tageszeitung de Berlim.
No filme, que chega aos cinemas na quinta-feira (24), ela faz o papel da jovem Sophie Scholl, que, junto ao movimento estudantil de resistência Weisse Rose (Rosa Branca), distribuiu panfletos contra o regime nazista pelas caixas de correio do sul da Alemanha e acabou sendo executada no dia mesmo de sua condenação.
Trabalhar, depois comemorar
O resultado desta Berlinale não poderia ter causado reações mais opostas às do ano passado. Em 2004, as atenções da mídia se voltaram para a atriz Sibel Kekilli, protagonista do filme vencedor do Urso de Ouro Gegen die Wand (Contra a parede), abafando seu sucesso devido a seu passado como atriz de filmes pornográficos. Agora, a imprensa decidiu colocar Julia Jentsch nas alturas.
"Sua Sophie Scholl se sobressai entre os outros rostos deste festival, mesmo quando se considera que Cathérine Deneuve, Natasha Richardson e Anjelica Huston também representaram papéis centrais", escreveu o Frankfurter Allgemeine Zeitung. O diretor da Berlinale, Dieter Kosslick, já aposta numa carreira internacional: "Ela é capaz de carregar um filme inteiro nos ombros".
Julia permanece modesta. Ela abriu mão da noite de gala e recebeu seu troféu durante a entrevista coletiva, para poder tomar o primeiro avião em direção a Munique e voltar ao palco. "Não é tão mau assim. Espero que os outros tenham uma boa festa. Eu penso neles", disse.