Jornalista alemão completa 100 dias preso na Turquia
24 de maio de 2017Em 14 de fevereiro de 2017 o jornalista Deniz Yücel se apresentou para depor no Departamento de Polícia de Istambul, onde foi imediatamente encarcerado. "Eu parti do princípio que ele ia dar sua declaração e depois ser libertado", recorda a irmã Ilkay Yücel, que vive na cidade de Flörsheim, nas cercanias de Frankfurt.
Mas os fatos foram outros. Em 27 de fevereiro, um tribunal turco decretou prisão preventiva para o correspondente de nacionalidade turca e alemã. Desde então ele cumpre a medida cautelar, que pode durar até cinco anos, na penitenciária de Silivri, próxima a Istambul. As autoridades o acusam de ter divulgado "propaganda terrorista" e "incitado o povo ao ódio e hostilidade".
Seu irmão está relativamente bem e procura se manter forte, relata Ilkay Yücel. Desde abril, todas as segundas-feiras ele tem a permissão de passar uma hora com a família, além de poder ler livros e jornais e escutar rádio. Assistir à televisão é proibido, mas há uma no pátio diante de sua cela, que lhe é permitido frequentar.
Deniz sofre especialmente com a solidão, prossegue sua irmã: no confinamento solitário, a que foi condenado desde o início, ele não pode se comunicar com os demais detentos.
Indiciamento protelado
Na opinião de Oya Aydın, da Câmara dos Advogados de Ancara, é irregular Deniz Yücel estar em prisão solitária. Por outro lado, os decretos lançados no contexto do estado de exceção, em vigor desde o golpe de Estado frustrado de julho de 2016, também acarretaram o endurecimento do sistema penal. E agora, tudo é possível.
Para confirmar, a advogada atuante no campo dos direitos humanos cita o fato de os jornalistas do jornal Cumhuriyet estarem igualmente isolados. Ela considera ilegal a própria detenção do jornalista turco-alemão. Embora ele esteja encarcerado há mais de três meses, seus advogados esperam até hoje pelo sumário de culpa.
"Eles estão protelando de propósito o indiciamento, para prolongar o tempo de prisão", esclarece Aydın. "O prolongamento da detenção poderá influenciar o futuro juiz competente. Ele poderá ser parcial, e não mais independente e apartidário", teme a jurista.
"Trunfo na manga" de Ancara
Nesta quarta-feira (24/05), que marca o 100º dia desde a prisão do jornalista, sua esposa, Dilek Mayatürk Yücel, publicou uma carta aberta intitulada "Não espero misericórdia, mas um indiciamento".
"Os jornalistas presos e seus familiares ficam loucos de felicidade quando, passados meses, finalmente chega um sumário da culpa. Pois aí eles pelo menos sabem quando começará o processo. [...] Isso mostra quantos absurdos marcam agora a nossa vida, do lado de dentro e de fora [...] Dentro e fora, o que vigora é a espera conjunta e tenaz de que os moinhos enferrujados da Justiça voltem a se mover."
Também os amigos de Deniz Yücel na Alemanha procuram manter o assunto na ordem do dia. A repórter do jornal TAZ Doris Akrap organiza regularmente eventos de solidariedade, para mostrar que o colega não está esquecido e sinalizar um "nós apoiamos vocês" aos familiares dos presos na Turquia.
O caso Yücel também gera tensões entre Ancara e Berlim. "As relações entre a Turquia e a Alemanha atravessam no momento o maior teste de resistência da história recente", analisou há algum tempo o ministro alemão do Exterior, Sigmar Gabriel. Ainda assim, o governo turco ainda não reagiu a nenhum dos apelos de Berlim. No início de março, o presidente Recep Tayyip Erdogan chegou a afirmar que o correspondente seria um "agente alemão".
Erol Önderoğlu, da ONG Repórteres Sem Fronteiras, delineia a dimensão política do caso: "A prisão de Yücel veio exatamente nos dias em que veio a público a espionagem de imãs na Alemanha." O governo turco achou que devia responder de alguma forma, e por isso encarcerou o jornalista, acredita o ativista: "Parece que a Turquia mantém Yücel como um trunfo na manga, enquanto a Alemanha não chegar a um acordo com Ancara em outros pontos."