Jornal venezuelano para de circular por pressão do governo
14 de dezembro de 2018O último grande jornal oposicionista na Venezuela, El Nacional, encerrou sua edição impressa depois de 75 anos, em meio à pressão do regime de Nicolás Maduro. O Estado venezuelano controla as importações do papel de impressão usado pelo diário.
O popular El Nacional interrompeu por completo sua edição impressa nesta quinta-feira (13/12), mas seguirá com publicações na internet. Seus editores culpam a pressão exercida pelo governo. Assim, a Venezuela fica sem nenhum jornal impresso independente de circulação nacional.
"Nós suportamos mais do que os outros. Conseguiram silenciar o rádio e a televisão, éramos o último jornal nacional que mantinha edição impressa", salientou o presidente-executivo do El Nacional, Miguel Otero, em entrevista ao diário espanhol ABC. "Mas no fim não conseguimos persistir."
Segundo os editores, a razão imediata para o encerramento da edição impressa é a falta de papel, pois na Venezuela a importação de papel requer permissão especial do governo. Vários outros jornais menores também se viram forçados a suspender suas versões impressas.
O El Nacional conseguiu continuar seu trabalho graças a doações de papel da mídia local e de países estrangeiros. No entanto o jornal já precisara cortar sua circulação e o número de páginas. Otero relata que o diário também foi atingido por ações judiciais apoiadas pelo governo, revisões de impostos e restrições de anúncios publicitários. Anos atrás, o presidente do jornal foi forçado a deixar a Venezuela para fugir da repressão.
Apesar de admitir que a interrupção da edição impressa ser uma "medida drástica", ele frisou que o jornal não estava fechando e descreveu a suspensão como "temporária".
O gerente geral do diário, Jorge Makriniotis, prometeu, em carta enviada aos funcionários e publicada no site do El Nacional, que os trabalhos continuarão. "EL Nacional não morreu, mas se reinventa para apostar no futuro. Porque ninguém vai nos calar."
A Venezuela tem o maior número de jornalistas presos pelo exercício da profissão na América, com três detenções em 2018. O Brasil registrou uma detenção. No mundo todo houve um aumento pelo terceiro ano consecutivo: 251 jornalistas foram presos, a maioria deles na Turquia (68), seguida pela China (47), de acordo com relatório publicado nesta quinta-feira pelo Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ).
PV/ap/efe
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