Jogos de Londres serão históricos para a participação feminina
27 de julho de 2012A Arábia Saudita foi o último país a tomar a decisão, depois de Brunei e Catar: a judoca saudita Ali Seraj Abdulrahim Shahrkhani vai lutar na categoria 78 quilos enquanto sua compatriota Sarah Attar, de apenas 17 anos, vai correr os 800 metros.
Quando os primeiros Jogos Olímpicos foram realizados em Atenas, em 1896, as mulheres eram proibidas de participar. Agora, 116 anos depois, pela primeira vez todas as nações participantes terão mulheres em suas delegações.
"A ONU Mulheres [Entidade das Nações Unidas para a Igualdade de Gênero e o Empoderamento das Mulheres] saúda a decisão como um importante passo e um sinal de progresso rumo à melhoria das condições políticas, sociais e econômicas das mulheres e meninas na região", disse o diretor da entidade à DW.
"Mesmo em número pequeno, [Arábia Saudita, Brunei e Qatar] estão mandando mulheres para competir. Vejo isso como um progresso", disse Lisa Maatz, diretora de políticas públicas e relações governamentais da Associação Americana de Mulheres Universitárias (AAUW, na sigla em inglês), uma organização de defesa dos direitos das mulheres dos Estados Unidos.
Uma Olimpíada histórica
O processo para se chegar à plena participação das mulheres nos Jogos Olímpicos foi lento. Nas Olimpíadas de Atlanta, em 1996, ainda restavam 26 países que não incluíam mulheres entre os seus atletas. Doze anos depois, em Pequim, o número caiu para três.
Também o percentual de mulheres entre os atletas aumentou significativamente ao longo dos anos. Em 1908, apenas 1,8% dos atletas que participaram dos Jogos Olímpicos de Londres eram mulheres. Dos 10.947 atletas que competiram em 2008, 4.639 eram do sexo feminino, ou mais de 42%, de acordo com a Comissão de Mulheres no Esporte do Comitê Olímpico Internacional.
Mas não só o fato de haver mulheres em todas as delegações é histórico. Com a inclusão de competições femininas de boxe e luta, pela primeira vez as mulheres vão competir em todos os esportes em que os homens competem. Na verdade, como os homens estão fora do nado sincronizado e da ginástica rítmica, as mulheres vão competir em mais esportes que os homens.
Passo isolado
A decisão da Arábia Saudita, uma monarquia absoluta governada sob a sharia (leis baseadas nos preceitos do Islã), foi saudada como um avanço nos direitos das mulheres no país, mas é um passo isolado.
"É um longo processo", comenta o especialista em Oriente Médio Christoph Wilcke, da Human Rights Watch. Ele diz que o país ainda tem um longo caminho a percorrer para avançar nos direitos das mulheres, incluindo a participação em modalidades esportivas.
No início deste ano, a Human Rights Watch denunciou que mulheres estavam excluídas dos 153 clubes esportivos controlados pelo governo, do Comitê Olímpico Saudita e de outras 29 federações esportivas.
Exemplos para outras garotas
Se, por um lado, a participação feminina nos Jogos de Londres já é histórica, por outro muitos esperam que daí resultem efeitos duradouros.
Maatz espera que a participação feminina em Londres sirva de inspiração para outras mulheres e meninas pelo mundo. "Pode inspirar muitas garotas. Espera-se que mais mulheres compareçam nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro", disse.
Hendra, da ONU, também considera as atletas como exemplos a serem seguidos. "O esporte também pode servir como um fórum pelo fim da violência contra as mulheres. É verdade que novas normas e atletas pioneiras podem provocar grandes avanços para a igualdade de gêneros. Houve progressos nos últimos anos, como a introdução de cotas para mulheres nas organizações esportivas", disse Hendra.
Apesar disso, ele diz que os estereótipos de gênero continuam a desempenhar um papel importante no esportes, tanto na administração como nas competições.
Cerca de 10,500 atletas de 204 países devem participar dos Jogos Olímpicos de Londres. Mais de 40% são mulheres.
Autor: Benjamin Mack (mp)
Revisão: Alexandre Schossler