Jogadoras da seleção afegã de futebol deixam o país
24 de agosto de 2021As jogadoras da seleção afegã de futebol feminino alcançaram uma importante vitória nesta terça-feira (24/08). Elas estavam em um grupo de mais de 75 pessoas que conseguiram deixar Cabul num voo organizado pelo governo da Austrália.
A Federação Internacional dos Jogadores Profissionais de Futebol (Fifpro) agradeceu ao governo australiano por possibilitar a retirada de jogadoras, dirigentes de equipes e familiares do Afeganistão.
"Essas jovens mulheres, que incorporam o papel de atletas e ativistas, estiveram em uma posição de perigo e, em nome de suas colegas ao redor do mundo, agradecemos à comunidade internacional por ter vindo em sua ajuda", disse a Fifpro em comunicado.
"Somos gratos ao governo australiano por retirar um grande número de futebolistas e atletas do Afeganistão", continuou a associação, sem fornecer um número exato de atletas.
A emissora estatal australiana ABC relatou que cerca de mil pessoas foram retiradas do Afeganistão em voos australianos, e que entre elas estavam cerca de 50 atletas do sexo feminino e seus dependentes.
A seleção afegã de futebol feminino foi criada em 2007 num país onde a prática de esporte por mulheres é vista como um ato político de desafio ao Talibã. Com a recente tomada de poder pelo grupo fundamentalista islâmico, as jogadoras foram aconselhadas a deletar das redes sociais postagens e fotos delas com a equipe a fim de evitar represálias por parte dos talibãs.
"Processo incrivelmente complexo"
Khalida Popal, ex-capitã da seleção feminina afegã que agora reside na Dinamarca, saudou a saída das atletas do país. "As jogadoras foram corajosas e fortes num momento de crise, e esperamos que tenham uma vida melhor fora do Afeganistão", disse. "Os últimos dias foram extremamente estressantes, mas hoje conquistamos uma vitória importante."
Popal auxiliou uma equipe de advogados e consultores da Fifpro que vinha mantendo contato intenso com autoridades de seis países, incluindo Austrália, Estados Unidos e Reino Unido, para que estes colocassem as atletas e seus familiares em listas de evacuação e em voos para fora do Afeganistão.
O secretário-geral da Fifpro, Jonas Baer-Hoffmann, disse que a retirada das jogadoras – e de outros atletas afegãos – foi "um processo incrivelmente complexo".
E muito trabalho de bastidores foi necessário. A ex-nadadora australiana Nikki Dryden, que participou de duas edições dos Jogos Olímpicos, aliou-se a um advogado para preencher os pedidos de visto para os atletas afegãos, entre eles dois atletas paralímpicos.
Em meio a temores de que a burocracia atrasaria e, consequentemente, inviabilizaria o plano, os defensores dos refugiados conseguiram a ajuda do ex-capitão da seleção australiana de futebol Craig Foster. Segundo a ABC, Foster pressionou a ministra das Relações Exteriores, Marise Payne, e o ministro dos Esportes, Richard Colbeck.
Pouco depois, os atletas afegãos obtiveram os vistos e conseguiram chegar ao aeroporto de Cabul. A Fifpro também agradeceu especificamente Foster e Dryden, entre outros, por seus esforços ininterruptos, e instou a comunidade internacional a garantir que as jogadoras recebam a ajuda de que precisam daqui para frente.
"Quero viver e voltar para ajudar minha nação"
Sob condição de anonimato, uma integrante da seleção feminina do Afeganistão confirmou à DW que ela e seus familiares estão entre os que foram retirados do país.
"Não quero perder minha vida por esse governo inaceitável", disse ela à DW. "Quero viver e voltar para fazer algo pela minha nação, pelo meu povo, pelas minhas mulheres. Esse país precisa de seus jovens e, principalmente, de mulheres... E de mulheres que tenham educação ou queiram fazer algo por seu país", concluiu.
pv/ek (AP, Reuters, DW)