Jogador diz que pode ter sido alvo do serviço secreto turco
10 de janeiro de 2018O jogador de futebol Deniz Naki, que foi alvo de disparos no domingo (07/01), quando dirigia seu carro numa rodovia perto de Düren, criticou duramente a polícia alemã em entrevista à DW. "Fui interrogado ao longo de nove horas sem assistência jurídica", afirmou.
Ele disse que teve seu celular apreendido pela polícia. "Também não sei por que razão meu telefone não me foi devolvido. E simplesmente não consigo entender por que motivo meu pai foi interrogado."
Naki relatou ter sido questionado sobre eventuais ligações com o PKK (Partido dos Trabalhadores do Curdistão), uma organização clandestina que defende a autonomia curda e é classificada como terrorista pela Turquia e também pela Alemanha.
Ele negou qualquer ligação com o grupo e declarou à polícia que o serviço secreto turco pode estar por trás dos disparos contra o seu carro. O jogador não foi ferido e está com amigos em local não divulgado. A polícia afirmou que as investigações continuam e nenhuma hipótese é descartada.
Naki, que nasceu na Alemanha e é filho de imigrantes turcos de etnia curda, foi condenado a 18 meses de prisão em liberdade condicional na Turquia, em 2017. Ele foi acusado de ter feito propaganda para o PKK.
O atleta, que já defendeu o St. Pauli e o Paderborn, está jogando no futebol turco, num clube de uma cidade de população majoritariamente curda.
DW: Você sobreviveu a uma tentativa de atentado. As investigações ainda não estão concluídas. Você está sob proteção policial?
Deniz Naki: Não. Não tenho qualquer forma de proteção policial no momento. Estou com meus amigos. Também não estou em Düren, com a minha família.
DW: Ou seja, desde o início você não recebeu proteção policial?
Naquela noite, por volta de 23h, quando fui alvejado na autobahn, eu avisei a polícia. Depois eu fui com os policiais para a delegacia, em Düren. Eu fiquei de duas a três horas na delegacia e prestei depoimento. Minha família e meus amigos foram me buscar, e, para minha segurança, fomos para Colônia sem a polícia. Eu havia comunicado a polícia de que iria pernoitar num hotel, em Colônia. Mais tarde, recebi um telefonema de Aachen, da delegacia de homicídios, e fui interrogado por nove horas. Meu pai foi me buscar. Meu celular foi apreendido pelas autoridades. E o meu carro ainda está em Aachen.
DW: Em que pé estão as investigações?
Meu pai e meu irmão também foram interrogados pela polícia. Um amigo também foi levado para prestar depoimento, e alguns de meus amigos ainda vão ser interrogados.
DW: Por que familiares e amigos também tiveram que depor e por que seu celular ainda está na delegacia de homicídios?
Não me foi comunicado nenhum motivo. Também não sei por que razão meu telefone não me foi devolvido. E simplesmente não consigo entender por que motivo meu pai foi interrogado. Ele foi para a delegacia, em Düren, para me ver depois do incidente. Ele tinha lágrimas nos olhos, e eu o consolei.
DW: O que seu advogado diz de tudo isso?
Meu advogado foi acionado. Eu fui interrogado ao longo de nove horas sem assistência jurídica por meio de um advogado. Apesar de eu ter solicitado explicitamente a assistência jurídica, essa exigência não foi considerada. Por quase sete horas eu fui questionado a respeito de ligações políticas.
DW: Que tipo de perguntas políticas?
Por exemplo em que partido eu votei na eleição na Turquia. Ou se tenho alguma ligação com o PKK.
DW: Comenta-se que você teria declarado que o serviço secreto turco poderia estar envolvido. Isso confere?
Eu declarei que nacionalistas turcos, pessoas ou grupos, poderiam estar por detrás desse ato e que eu não tenho qualquer outra suspeita. Além disso, eu chamei a atenção para o alerta feito pelo deputado do HDP [partido da esquerda turca que defende a minoria curda] Garo Paylan. O senhor Paylan relatou há pouco, no Parlamento turco, sobre possíveis preparativos para atentados a oposicionistas na Europa por meio do serviço secreto turco, o MIT. Na minha declaração, alertei para possíveis ligações entre a declaração de Paylan e o atentado contra mim. Como já disse, eu posso apenas expressar minha suspeita, mais eu não posso dizer sobre isso.
DW: Você recebeu uma ameaça desse tipo na Alemanha?
Não. Até hoje eu nunca havia tido problemas na Alemanha. Antes, quando eu estava respondendo a processo na Turquia, recebei ameaças no Facebook, também da Alemanha, de que alguma coisa iria acontecer comigo na Turquia ou, se eu viesse para a Alemanha, que iriam dar conta de mim aqui. Mas eu não levei as ameaças a sério.
DW: Como você se sente?
Eu não sou um político, eu sou um jogador de futebol e esportista. Eu tenho problemas de ordem política na Turquia. Mas por que eu tive esses problemas? Por que fui condenado a 18 meses em liberdade condicional? Eu sempre me empenhei pela paz e sempre fui mal interpretado pela mídia turca. Eu sempre fui apresentado como alguém que poderia incitar à violência e ao terrorismo. Eu nunca fiz isso, muito pelo contrário: para mim, o contexto étnico ou religioso nunca foi importante, mas a coexistência pacífica e a tolerância.
DW: Você está na Alemanha. Vai retornar para a Turquia?
Ainda não sei. Tenho de definir os próximos passos com o meu advogado. Também com o que está na Turquia. Na mídia – também na turca – fala-se de novo de tudo. Eu virei alvo de novo e não sei como as pessoas na Turquia vão reagir. Tenho que ver o que vai acontecer nas próximas semanas.