Jerusalém à espera da embaixada de Trump
13 de maio de 2018Nesta segunda-feira (14/05), o tranquilo bairro residencial de Arnona, no sul de Jerusalém, estará no foco das atenções mundiais. Bandeiras americanas e israelenses já adornam a rua que leva até o consulado dos Estados Unidos local, e agora o mesmo prédio se transformará na embaixada do país em Jerusalém. Placas de rua mostram o caminho em hebreu, árabe e inglês.
Em dezembro de 2017, o presidente dos EUA, Donald Trump, anunciou a transferência da embaixada, de Tel Aviv para a Cidade Santa, cumprindo sua promessa eleitoral. A decisão rompia com a política externa americana tradicional e foi amplamente criticada. O consenso internacional continua sendo que o status de Jerusalém deveria ser parte das negociações entre as lideranças israelenses e palestinas.
"Acho que é OK os EUA mudarem a embaixada para cá, porque, afinal de contas, é a capital. Pergunte a qualquer garoto qual é a nossa capital: é Jerusalém", afirma o israelense Uriel Berenstein, no centro de Jerusalém (Ocidental).
"Se algum dia houver um Estado palestino, se eles quiserem parte de Jerusalém, algum dia eles vão encontrar um acordo. Mas por enquanto aqui é a capital de Israel", reforça.
Ainda assim, o jovem de 23 anos está apreensivo que a decisão controversa possa desencadear novos conflitos entre palestinos e israelenses. "Vai certamente causar tensões, mas só posso esperar que os líderes dos dois lados saibam como acalmar o povo."
Outros, como a moradora Rena Baba, estão menos preocupados com as possível reações: "Acho que não já dúvida que a embaixada americana deve ser em Jerusalém. Acho que todas as embaixadas deviam ser aqui, porque é a capital de Israel."
Sinais ambivalentes de Washington
Durante uma primeira fase, somente o embaixador David M. Friedman e uns poucos funcionários trabalharão na nova sede. Segundo um alto funcionário americano, a relocação completa levará anos.
Ou a embaixada será gradualmente expandida nas atuais dependências, ou será construído um novo complexo. O local fica próximo à assim chamada Linha Verde, que demarcava a separação entre os territórios israelense e jordaniano depois da guerra de 1948.
"Paradoxalmente, a mudança da embaixada não tem impacto direto sobre a cidade. Mas, por outro lado, tem enormes consequências", comenta o advogado israelo-americano Daniel Seidemann, fundador da ONG Terrestrial Jerusalem.
"Hoje, Jerusalém é mais dividida, menos sustentável, mais contestada do que em qualquer outra época. Transferir a embaixada para cá não vai mudar esse fato. Dito isso, há ramificações gigantescas, pois passa um atestado de óbito para a capacidade americana de mediar nos processos políticos das relações israelo-palestinas."
Embora conste que a administração Trump está trabalhando num novo plano de paz, ela tem dado sinais ambivalentes sobre suas intenções com Jerusalém, que continua disputada por israelenses e palestinos.
Em sua primeira viagem a Israel, em abril, o recém-nomeado secretário de Estado, Michael Pompeo, reiterou que "as fronteiras da soberania israelense em Jerusalém permanecem sujeitas a negociações entre as duas partes". Em janeiro, contudo, Trump declarara: "Nós tiramos Jerusalém da mesa de discussões. Não conversamos mais a respeito."
A Autoridade Palestina criticou severamente a decisão do governo Trump sobre Jerusalém, recusando-se a dialogar com altos funcionários de Washington, desde então. Os palestinos apelaram a outras missões diplomáticas para que boicotem o evento desta segunda-feira.
Para a inauguração estão sendo esperados cerca de mil convidados, incluindo uma delegação dos EUA encabeçada pelo secretário do Tesouro, Steven Mnuchin. A filha de Trump, Ivanka, também estará presente.
Descontentamento palestino
Em Jerusalém Oriental, os palestinos também acompanham os eventos em suspense. "Isso mostra que os americanos estão completamente do lado israelense, eles não se importam com os direitos palestinos", denuncia o ativista Jawad Siyam, que participou de uma manifestação pacífica em dezembro, após o anúncio da Casa Branca.
"Eles estão basicamente dizendo aos palestinos: 'Nós somos contra o sonho de vocês de terem um Estados', e a gente fica sem nada. Eles estão repetindo a história, eles dizem aos palestinos: 'Vocês não têm nenhum direito aqui, e outras nações podem se apossar.'"
Os palestinos querem seu próprio Estado, com capital em Jerusalém Oriental, que Israel tomou da Jordânia durante a guerra de 1967. Em 1980, os israelenses anexaram essa zona e declararam toda a cidade como sua capital. Esse passo nunca foi reconhecido pela maior parte da comunidade internacional.
"Quem é Trump para chegar e dizer que Jerusalém é Israel? O que ele tem a ver com Jerusalém", pergunta um outro jovem, a caminho do Portão de Damasco, uma das principais entradas da Cidade Antiga. Para ele, a decisão americana ignora a presença palestina e os laços históricos da histórica cidade, sagrada para muçulmanos, judeus e cristãos.
"Abandonem toda esperança"
A inauguração coincide com a tensão renovada entre Israel e Irã, tendo potencial para redundar num conflito frontal. A atenção também se volta para a fronteira de Israel com a Faixa de Gaza, onde organizadores palestinos da assim chamada Grande Marcha do Retorno planejam um protesto pacífico para o dia do evento.
Desde o fim de março têm-se realizado passeatas semanais, todas as sextas-feiras. Nas últimas semanas, pelo menos 45 palestinos foram mortos e centenas feridos, a maioria por atiradores profissionais israelenses.
No dia seguinte à abertura da embaixada, palestinos pranteiam a perda de sua terra, no que denominam Dia da Nakba (catástrofe) – mais um eloquente lembrete de que para muitos palestinos o sonho de um Estado próprio está se esvanecendo.
"A transferência da embaixada também tem ramificações abrangentes para os palestinos", observa o jurista Daniel Seidemann. "Ela envia uma mensagem inequívoca: 'Abandonem toda esperança, este conflito não está se movendo em direção a uma solução.'"
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