Iêmen: terrorismo tipo exportação
17 de janeiro de 2015O terrorismo no Iêmen ganhou atenção internacional quando Chérif Kouachi, um dos autores do ataque ao semanário satírico Charlie Hebdo, em Paris, declarou ter ligação com a Al Qaeda na Península Arábica (Aqap). Tanto o governo americano quanto o francês confirmaram que Kouachi foi treinado no Iêmen.
Ainda não está claro se Kouachi estava em contato com a organização no momento dos ataques. Sabe-se, porém, que o nome de Stéphane Charbonnier, cartunista assassinado em Paris, aparecia em uma lista de acusados de crimes contra o Islã, publicada em março de 2013 pela revista jihadista online Inspire, supostamente editada pela Aqap.
Ao que tudo indica, a revista, graficamente bem feita – e que publica inclusive instruções para a construção de bombas –, foi criada pelo pregador radical Anwar al-Awlaki, de raízes iemenitas, nascido no estado americano do Novo México. Ele tinha como tarefa recrutar jovens muçulmanos para a Al Qaeda. Para isso mantinha um blog e participava ativamente de redes sociais, além de postar vídeos na internet.
Em 2004, Awlaki se mudou com sua família para o Iêmen. Em março de 2010, declarou uma "guerra santa" contra os Estados Unidos. Em setembro de 2011, ele foi morto por um míssil disparado de um drone americano.
Fusão deu origem a Aqap
A organização terrorista Aqap surgiu em 2009, com a fusão de braços da Al Qaeda na Arábia Saudita e no Iêmen. O grupo é considerado extremamente agressivo. Ele está por trás, por exemplo, do atentado a bomba ao destroyer americano USS Cole em 2000, enquanto o navio reabastecia no porto de Áden, no Iêmen. Em 2008, a Aqap atacou a embaixada americana em Sana, onde 16 pessoas morreram.
O Iêmen é um dos países mais pobres do mundo árabe e sofre com a escassez de água. Cerca de 40% dos 23 milhões de habitantes sofrem de desnutrição. A corrupção também toma conta do país. A divisão entre norte e sul ainda não foi superada, apesar da reunificação em 1990.
O governo do Iêmen tenta com o auxílio dos Estados Unidos combater a Al Qaeda. Entre 2002 e 2014, a ONG Bureau of Investigative Journalism registrou 80 ataques realizados com drones, nos quais 541 pessoas morreram, entre elas 83 civis, sendo sete crianças.
O impacto dos ataques com drones não foi o esperado. Muitos críticos duvidam da eficácia dessa tática, pois a morte de civis pode levar a Aqap a atrair mais seguidores.
Nova estratégia
A tática do grupo terrorista mudou há algum tempo. Em vez de realizar grandes atentados, a organização prioriza ataques de pequenas proporções. A revista Inspire encoraja atentados contra alvos ocidentais, principalmente nos Estados Unidos, mas também no Reino Unido e na França.
O atentado na França é também uma forma de propaganda para a Al Qaeda, que enfrenta uma competição cada vez maior com o grupo terrorista "Estado Islâmico" (EI).