Itália está de luto após tragédia em Lampedusa
4 de outubro de 2013O número oficial de mortos no mais recente naufrágio ocorrido perto da ilha italiana de Lampedusa era de 111 na manhã desta sexta-feira (04/10), mas pode passar de 300, já que as equipes de resgate estimam em mais de 200 o número de desaparecidos. As buscas por mais vítimas do acidente, que atingiu um barco de refugiados africanos, continuam.
O governo da Itália decretou um dia de luto nesta sexta-feira, com bandeiras sendo hasteadas a meio mastro em prédios públicos. As escolas realizaram um minuto de silêncio em memória das vítimas.
As autoridades afirmaram ter resgatado 155 sobreviventes do naufrágio da embarcação de cerca de 20 metros. O barco afundou a menos de um quilômetro da costa, transportando entre 450 e 500 imigrantes. A maioria vinha da Eritreia e da Somália. O barco teria saído do porto libanês de Misurata.
Dia de lágrimas
"Hoje é um dia de lágrimas", afirmou nesta sexta-feira o papa Francisco, durante uma visita à cidade de Assis, acrescentando viver num "mundo selvagem", que ignora a situação dos refugiados.
"Dois botes a motor permaneceram na área durante a noite e, nesta manhã, mergulhadores começaram a trabalhar. Esperamos recuperar mais uma centena de corpos", afirmou a funcionária da guarda costeira Floriana Segreto. Entretanto, ondas dificultavam o acesso aos destroços da embarcação.
Os mergulhadores que exploraram os destroços relataram ter visto dezenas de corpos dentro e em torno do barco. Equipes de resgate disseram que alguns corpos podem ter sido arrastados pela forte correnteza. "É como num filme de terror, há uma massa de corpos presos lá embaixo", disse Rocco Canell, o primeiro mergulhador que conseguiu chegar perto da embarcação, localizada a uma profundidade de 47 metros.
Ajuda europeia
"Depois dessas mortes, estamos esperando que alguma coisa mude. As coisas não podem ficar como estão", lamentou a prefeita de Lampedusa, Giusi Nicolini. "O futuro de Lampedusa está diretamente ligado às políticas de imigração e asilo", disse.
O ministro italiano do Interior, Angelino Alfano, pediu maior ajuda europeia no patrulhamento da fronteira marítima meridional da Itália e mais ação na África para controlar o fluxo de refugiados em travessias marítimas feitas em condições precárias.
"Este mar é a fronteira entre a África e a Europa e não entre a África e a Sicília", argumentou, durante uma visita à ilha, sublinhando que ele discutirá o assunto em encontro na próxima semana, em Bruxelas, com a comissária europeia de Assuntos Internos, Cecilia Malmström. "Este não é apenas um problema italiano", avaliou.
Tragédia impressionou moradores da ilha
O desastre ocorreu quando o combustível a bordo do barco pegou fogo, levando as pessoas a fugirem em pânico para um dos lados do barco, que virou e afundou, lançando centenas de pessoas na água.
Os moradores da ilha, que está mais perto do norte da África do que da Itália e tem uma população de apenas 6 mil pessoas, lutavam contra as lágrimas quando relatavam a corrida desesperada para salvar imigrantes do afogamento. "A coisa mais difícil foi ver os corpos das crianças. Eles não tiveram chance alguma", relatou o médico local Pietro Bartolo. Ele disse que, em 20 anos morando na ilha, nunca tinha visto uma tragédia como esta.
Os corpos estavam sendo mantidos num hangar do aeroporto local, porque não havia mais espaço no necrotério e não há caixões suficientes na ilha. Caixões chegaram de balsa na sexta-feira e os corpos devem ser enterrados na Sicília.
Ilha é ponto de refúgio
Lampedusa é um importante ponto de refúgio para requerentes de asilo que entram na União Europeia. Muitos deles chegam de países pobres e devastados pela guerra, oriundos da África, do Oriente Médio e do Sudeste Asiático. Cerca de 25 mil imigrantes chegaram à Itália neste ano, mais de três vezes o número de todo o ano passado, mas ainda somente metade da cota alcançada em 2011, no auge das revoltas da Primavera Árabe.
Instituições de caridade estimam que entre 17 mil e 20 mil imigrantes morreram no mar tentando chegar à Europa nos últimos 20 anos, muitas vezes usando barcos de pesca superlotados ou botes de borracha.
A última catástrofe de grandes proporções foi em junho de 2011, quando, segundo estimativas, entre 200 e 270 imigrantes que fugiam da Líbia teriam morrido ao largo da costa da Tunísia. Em 1996, 283 imigrantes de Índia, Paquistão e Sri Lanka morreram tentando alcançar a Sicília.
MD/rtr/afp/dpa