Islâmicos entre alcorão e valores europeus
6 de agosto de 2002O ataque aos Estados Unidos foi um marco para os muçulmanos em geral, sejam eles residentes na Alemanha, França ou Grã-Bretanha, onde vivem dois milhões de seguidores de Alá. De repente eles tiveram que dar explicações sobre a sua religião, pois os autores dos atentados em Nova York e Washington eram islâmicos. Poucos dos imigrantes ou islâmicos de segunda e terceira geração na Europa são simpatizantes de Osama Bin Laden.
O Conselho Central dos Muçulmanos na Alemanha teve, pela primeira vez, que fazer uma espécie de declaração de princípios. Sua cúpula jurou obediência à Constituição alemã e declarou-se partidária dos valores europeus. O Conselho, cuja credibilidade é questionada por alguns peritos em islã, fala em nome de no máximo um quarto dos muçulmanos residentes na Alemanha. Sua declaração de princípio suscitou um tema que tornou-se extremamente delicado depois de 11 de setembro: a integração dos muçulmanos - democracia e islamismo são incompatíveis?
Existe integração?
Dilwan Hussein conseguiu integrar-se. Seus pais são de Blagladesh, ele é muçulmano de segunda geração na Grã-Bretanha e se sente britânico. Hussein é diretor de uma organização islâmica que faz pesquisa sobre a integração de muçulmanos na Europa. Mas o caso de Hussein não é representativo. Nos anos 60 e 70 vieram muitas pessoas sem recursos e com baixo nível escolar para a Europa. Surgiram muitos guetos em que grupos extremistas islâmicos puderam sempre recrutar partidários. Quem mora ali não se sente parte da sociedade.
Especialmente na Alemanha os imigrantes têm dificuldade de identificação com a nova pátria. Hussein esclarece o fenômeno: "quando observamos o contexto histórico alemão, vê-se que a nacionalidade alemã sempre foi e ainda é definida pelo direito de sangue". Na Grã-Bretanha e na França a maioria dos muçulmanos adquiriu, nesse meio tempo, a nacionalidade local. Na Alemanha, ao contrário, não só o direito de cidadania mas também a forte influência da Turquia dificulta a integração, pois os turcos formam o maior grupo de imigrantes. Dos 7,1 milhões de estrangeiros mais de dois milhões são da Turquia.
Influência cultural
Como islâmico integrado à cultura européia ocidental, Hussein levanta uma questão da maior seriedade para os muçulmanos: como eles poderão se distanciar de sua cultura de origem?
Kadriye Aydin, jovem de origem turca, nasceu e cresceu na Alemanha, está concluindo o curso de Direito e pretende fazer carreira como advogada, mas sem tirar o lenço da cabeça. Ela é uma islâmica praticante, mais rigorosa do que muitos patrícios de gerações passadas, mas não quer ser carimbada de fundamentalista. "É claro que sou impregnada pelo meu ambiente", diz ela, "nasci e cresci no Ocidente e o Ocidente é também parte da minha cultura".
Ideal e problema
Tolerância e respeito são princípios que consubstanciam o ideal de um islã europeu, não só compatível com a democracia, mas também parte da vida social na Europa. Esta é uma visão bonita, mas um problema no cotidiano. A primeira questão crítica é a de aulas de religião para crianças islâmicas. Na Áustria, elas são ministradas em escolas públicas e na Holanda, em particulares. A Alemanha está experimentando diversos modelos.
Aydin reivindica aula de religião nas escolas públicas para crianças muçulmanas. "Com isso, para citar um caso banal, um homem islâmico não pode bater na sua mulher e depois dizer que isto faz parte do islamismo ou que a mulher não tem direitos", argumenta a futura jurista.
Opressão da mulher
Além das aulas de religião, o lenço na cabeça das muçulmanas é um tema debatido constantemente e com veemência. Muitos islâmicos na Europa não conseguem entender porque no debate sobre integração esse pedaço é usado como símbolo da repressão contra as mulheres. A ativista britânica muçulmana Humera Kahn acha, todavia, que seria injusto generalizar, porque muitos europeus não concordam com o clichê do lenço na cabeça como símbolo da opressão feminina.
São diversos os caminhos para a o desenvolvimento de um islã europeu, moderno e democrático, segundo peritos. Na França laica, os muçulmanos estão sob forte pressão para assimilarem a cultura nacional. A Grã-Bretanha persegue o ideal de uma sociedade multicultural tolerante. E a Alemanha só agora foi reconhecida oficialmente como país de imigração, embora este processo tenha começado há décadas e exatamente por pessoas de países islâmicos.