Irã se aproxima de eleições polarizado
16 de maio de 2013Em 2 de fevereiro passado, o Irã viveu um dia raro em sua história. Na cerceada República Islâmica, um escândalo eclodia no Parlamento – e era transmitido pelo rádio. Mahmoud Ahmadinejad, o presidente, tentava evitar a queda de seu ministro do Trabalho, Abdul-Reza Sheikholeslami, e acusava o presidente do Parlamento, Ali Larijani, e seus irmãos, de minarem seu governo. Na sessão, apresentou um vídeo que, segundo ele, comprovaria o envolvimento da família de Larijani em abuso de poder e corrupção.
Vários deputados – incluindo o próprio Larijani – protestaram contra a cena armada pelo presidente. Com um "método mafioso" e "abaixo do nível" de um chefe de Estado, disse o líder do Parlamento, Ahmadinejad estaria tentando extorqui-lo. O dia foi descrito pela imprensa iraniana como um "domingo negro" na política do país, até então acostumada a debates corteses.
A polêmica está estritamente ligada às eleições presidenciais. Em meados de junho, termina o mandato de Ahmadinejad, e a batalha por sua sucessão se anuncia acirrada. Para observadores, o surto no Parlamento mostraria que Ahmadinejad, apesar de deixar a presidência, não quer se afastar do poder.
Ao mesmo tempo, a troca de acusações no Legislativo ilustra o papel que o aiatolá Ali Khamenei tem no círculo de poder iraniano. Foi ele que evitou uma escalada da situação ao repreender publicamente os dois – embora com alerta a Ahmadinejad de que o vídeo gravado sigilosamente infringira as leis islâmicas.
Relações em atrito
As relações entre Khamenei e Ahmadinejad estão arranhadas há tempos, num processo de deterioração que ganhou força em abril de 2011. Na época, o presidente pressionou o então ministro da inteligência, Haidar Moslehi, um aliado do aiatolá, a renunciar, mas Khamenei cuidou para que ele voltasse ao cargo. Em protesto, Ahmadinejad ficou alguns dias em casa.
E apesar de não raro sofrer reveses nas disputas de poder com Khamenei, Ahmadinejad parece continuar a desafiá-lo – nem mesmo os membros da poderosa Guarda Revolucionária aliados ao aiatolá são poupados dos ataques do presidente. Justamente eles, que apoiaram Ahmadinejad em sua eleição e reeleição, em 2005 e 2009, respectivamente.
Uma segunda reeleição, no entanto, está descartada. E Ahmadinejad faz forte campanha para Esfandiar Rahim Mashaei, seu amigo e assessor político. Ainda não está claro, no entanto, se sua candidatura será de fato confirmada pelo Conselho dos Guardiães.
Dentro dos círculos mais conservadores, um cenário totalmente diferente é discutido. Ali, há vozes crescentes em torno de Khamenei que querem evitar um aumento de poder de Ahmadinejad no Parlamento. Mas mesmo o líder espiritual iraniano se posiciona contra esse passo – e por um bom motivo, diz o deputado conservador Ahmad Tavakoli.
Risco de turbulência
Segundo Tavakoli, devido às sanções internacionais, o Irã já se encontra num estado especial. Uma crise no governo, afirma, tornaria a situação mais acirrada e geraria mais instabilidade. Uma segundo razão apontada por ele é a grande popularidade de Ahmadinejad. O medo nos círculos conservadores é de que os partidários do presidente não aceitariam passivamente sua saída do poder.
Um terceiro motivo para Khamenei não ir a esse extremo tem relação com a oposição em torno de Mir Hussein Musavi e Mehdi Karoubi. Os dois foram candidatos nas eleições de 2009 e estão sob prisão domiciliar atualmente. Reduzir o poder de Ahmadinejad significaria nada mais do que uma vitória moral para a oposição – que denunciou manipulação na votação de quatro anos atrás.
Ahmadinejad sabe da situação complicada de Khamenei e não conta com a possibilidade de ser removido do poder. Por isso, tenta cada vez mais polarizar o país politicamente e ganhar popularidade. Sua influência pode ser útil para seu favorito nas eleições. O Irã está prestes a viver dias turbulentos.