1. Pular para o conteúdo
  2. Pular para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

Irã prende advogada de 60 anos por não usar véu em funeral

31 de outubro de 2023

Ativista dos direitos humanos premiada na Europa, Nasrin Sotoudeh foi "brutalmente espancada" junto com outros que compareceram a enterro de jovem que teria sido morta pela polícia moral islâmica pelo mesmo motivo.

https://p.dw.com/p/4YDUV
Mulher segura placa com a foto da advogada e ativista dos direitos humanos Nasrin Sotudeh, durante um protesto para pedir a liberdade dela
A advogada e ativista Nasrin Sotudeh já foi presa diversas vezes nos últimos anos pelo regime de TeerãFoto: ROBIANUTRECHT/dpa/picture alliance

Famosa defensora de direitos humanos, e considerada uma das mais influentes advogadas no Irã, Nasrin Sotoudeh, 60, é uma dentre as várias pessoas presas no último domingo (29/10) durante o funeral da adolescente Armita Geravand, 16, em Teerã.

A morte da jovem gerou comoção porque Geravand teria, segundo ativistas, sido morta pela polícia da moralidade do regime fundamentalista islâmico por estar em público com o cabelo descoberto, violando o código de vestimenta do Irã.

Sotoudeh foi presa porque também não cobriu a cabeça ao comparecer à cerimônia. Ela é acusada, segundo a agência de notícias local Fars, de "perturbar a segurança mental da sociedade".

O marido dela, Reza Khandan, afirmou à agência de notícias AFP que a advogada foi "brutalmente espancada" pelas forças de segurança ainda durante o funeral, junto com outros participantes, que entoavam palavras de ordem contra as autoridades.

Ativista contra o véu e a pena de morte, Sotoudeh havia se referido à morte de Geravand como "outro assassinato de Estado".

A informação da prisão foi repassada pela organização norueguesa de direitos humanos Hengaw nesta segunda, e confirmada pelo marido dela.

Agraciada pelo Parlamento Europeu com o prêmio Sakharov pelo seu trabalho em defesa dos direitos humanos em 2012, a advogada já foi encarcerada outras vezes e passou temporadas na prisão por defender mulheres que desafiaram a obrigatoriedade do uso do véu e opositores iranianos. Ela responde na Justiça por "propaganda contra o Estado" e foi sentenciada em 2019 a 12 anos de prisão por "incentivar corrupção e depravação".

Morte de adolescente gerou paralelos com caso de Mahsa Amini

Geravand foi sepultada sob forte esquema de segurança no cemitério Behesht Zahra, em Teerã, após as autoridades vetarem o enterro da jovem em sua cidade natal, Kermanshah.

Ativistas responsabilizam a polícia da moralidade do regime fundamentalista islâmico pela morte de Geravand, que ficou um mês em coma no hospital após embarcar em um vagão de metrô com o cabelo descoberto.

As autoridades iranianas alegam que ela teve um mau súbito, caiu no chão e bateu a cabeça.

Na esteira da revolução islâmica de 1979 no Irã, mulheres são obrigadas desde 1983 a cobrir a cabeça e o pescoço, mas elas têm se insurgido contra essa imposição cada vez mais nos últimos meses – especialmente desde a morte de outra mulher, Mahsa Amini, morta em setembro de 2022 sob custódia da polícia da moralidade.

A morte de Amini gerou uma onda de protestos sem precedentes contra o regime e uma severa repressão, que resultou na prisão de 22 mil pessoas e o assassinato de cerca de 500 pessoas pela ditadura fundamentalista. O regime também condenou à morte e executou sete participantes.

ra (AFP, dpa, EFE)