Irlanda passa bastão aos Países Baixos
1 de julho de 2004
Não poderia ter sido mais difícil a situação para o primeiro-ministro da Irlanda, Bertie Ahern, ao assumir a presidência rotativa da União Européia no começo do ano. O fracasso de Silvio Berlusconi, que não conseguiu conduzir a Constituição européia a uma aprovação na cúpula de dezembro de 2003, antes de encerrar seu mandato, deu origem a uma grande desilusão.
A França começou a refletir seriamente numa cooperação mais estreita com a Alemanha, os britânicos queriam juntar-se aos dois países para criarem um núcleo de vanguarda que determinasse os rumos para os demais membros do bloco. Os planos levaram Ahern a advertir para uma "Europa das duas velocidades".
11 de março levou a nova coesão —
O choque dos atentados terroristas em Madri, em 11 de março de 2004, despertou os líderes europeus, que precisaram constatar consternados que a cooperação entre os países-membros da União Européia no combate ao terrorismo internacional em nada tinha melhorado após o 11 de setembro de 2001.Em reunião de emergência realizada em Bruxelas ainda em março, Ahern impôs a nomeação de um encarregado da comunidade para o combate ao terrorismo, tendo sido escolhido o holandês Gijes de Vries.
A grande ampliação — Superada a crise nos primeiros três meses, a Irlanda concentrou-se nos preparativos para o ponto culminante de seu mandato, o ingresso de dez novos países-membros, na maior ampliação pela qual o bloco jamais passara. A cerimônia oficial, em que pela primeira vez foram hasteadas 25 bandeiras, teve lugar no palácio da presidente da Irlanda, Mary Mc Aleese.
Conclusão do debate sobre a Carta Magna —
O confuso nó que emperrou o processo de decisão sobre a Constituição européia, numa interminável discussão sobre cotas e maiorias, só começou a se desfazer quando o novo chefe de governo da Espanha, José Luiz Rodríguez Zapatero, abandonou a atitude de bloqueio de seu antecessor, José María Aznar. Logo a Polônia também cedeu, liberando definitivamente o caminho para um consenso. Este foi alcançado finalmente na conferência de cúpula de junho, em que Ahern apresentou um texto que recebeu aprovação geral. "A Constituição permitirá à UE se tornar mais transparente e mais democrática. [...] É uma grande conquista para a Europa e para todos os europeus", constatou satisfeito o premiê irlandês.Último ponto da agenda — Ahern conseguiu também, ainda que em cima da hora, solucionar a última grande polêmica de seu mandato: a escolha de um sucessor para Romano Prodi no cargo de presidente da Comissão Européia. Em conferência convocada para terça-feira (29), os chefes de Estado e de governo aprovaram a nomeação do primeiro-ministro de Portugal, José Manuel Durão Barroso, que deverá assumir a função em novembro.
Turquia, o desafio —
Apesar de todos os problemas resolvidos, a Holanda não pode estar descansada, ao assumir a presidência rotativa, nesta quinta-feira (01/07). Osso duro de roer continua sendo a questão do ingresso da Turquia no bloco europeu. A UE prometeu ao país situado no Bósforo uma resposta definitiva sobre o início de negociações para a cúpula de 17 de dezembro. Desde dezembro de 1999, a Turquia tem oficialmente o status de candidato. Será decisiva para o posicionamento dos chefes de Estado e de governo a avaliação da Comissão Européia sobre os progressos do país em suas reformas em prol de maior democracia. O relatório do órgão executivo está sendo esperado para o outono setentrional.Além disso, o premiê holandês, Jan Peter Balkenende, pretende reativar o debate sobre o futuro da Europa. Após o desinteresse demonstrado pelos eleitores na escolha dos representantes para o Parlamento Europeu, algumas semanas atrás, Balkenende vê como uma de suas principais tarefas despertar o entusiasmo da população pela Europa, tendo em vista a integração dos novos países-membros e a aceitação da Carta Magna.