Internet faz parte de cotidiano de crianças europeias
17 de dezembro de 2010De acordo com o estudo intitulado UE Kids Online, financiado pela Comissão Europeia e divulgado em Berlim nesta semana, as crianças na Alemanha, em média, começam a surfar na internet com nove anos de idade. A partir daí, elas começam a encontrar soluções para as tarefas de casa na rede, participar de redes sociais e são, menos do que se teme, raramente vítimas de abordagens com conteúdos digitais duvidosos.
Essas são as principais conclusões da pesquisa apresentada na capital alemã, que mostrou também que, em outros países europeus, crianças e jovens estão bem mais presentes nos mundos virtuais que na Alemanha.
No contexto desse estudo, foram analisados os comportamentos de uso da internet de 23 mil jovens, de 9 a 16 anos, e de pelo menos um dos pais dos mesmos em 25 países da União Europeia (UE) no primeiro semestre de 2010. Um questionário intitulado "Riscos na internet" tentou verificar se os participantes da pesquisa já haviam, de alguma forma, se deparado com perigos na internet e se sentido inseguros por isso.
Surfando cedo
Para a maioria das crianças na Alemanha, a internet é hoje parte integrante do dia-a-dia. Segundo a pesquisa, 53% delas utiliza diariamente ou quase diariamente a internet. Na comparação entre os países europeus, essa média é de 57%. Além disso, as crianças começam cada vez mais cedo a ter contato com o mundo virtual. Na Alemanha, isso se dá em média aos nove anos de idade. Na Suécia, aos sete.
Mais da metade das crianças na Alemanha dispõe de acesso à internet no próprio quarto, mas o acesso móvel também tem se tornado cada vez mais popular: 53% das crianças alemãs acessam a internet através de celulares ou smartphones.
Em relação à presença nas redes sociais, 50% das crianças na Alemanha possuem perfis, enquanto a média europeia é de 57%. Na Holanda, 78% dos habitantes do país entre 9 e 16 anos possui um perfil em alguma rede social.
Outra questão que a pesquisa deixa claro é que o pânico em relação a possíveis danos para a criança na internet é, na maioria das vezes, infundado. Em toda a Europa, o estudo registrou que apenas uma entre oito crianças havia tido alguma experiência desagradável ao usar a internet.
Na Alemanha, esse número cai para uma em cada 12. No país, as crianças também são mais raramente confrontadas com conteúdos sexuais ou pornográficos (12% dos entrevistados). Na Estônia e na República Tcheca, esse índice chega, respectivamente, a 30 e 29% dos entrevistados.
Preocupação exagerada
Uwe Hasebrink, diretor do Instituto Hans Bredow, sediado em Hamburgo e membro da rede que realizou a pesquisa, afirmou que o receio exagerado em relação à internet pode bloquear a destreza dos jovens e adolescentes em relação a mídias online.
"Ninguém faz um favor às crianças ao descrever a internet como uma zona de perigo, já que se trata de um dos mais eficazes instrumentos de comunicação que temos", disse Hasebrink, ao ressaltar também que as experiências negativas constatadas na pesquisa foram "tão mínimas, que nos surpreenderam. O discurso público em alguns países denota mais preocupação do que seria, de fato, necessário", concluiu. O Instituto alemão Hans Bredow é um dos membros da rede UE Kids Online.
Para Hasebrink, as crianças e os adolescentes têm que ser preparados em relação ao tipo de conteúdo com o qual poderão se deparar na web. É preciso dar a eles a competência necessária para que saibam lidar com conteúdos duvidosos. Para isso, eles precisam sobretudo de um interlocutor de confiança, ou seja, tanto pais quanto professores deveriam ser treinados para isso.
Cybermobbing
Hasebrink salienta ainda que o universo online está associado a uma esfera absolutamente própria. "O cotidiano das crianças se prolonga no mundo online", disse ele, lembrando que adolescentes e jovens que sofrem assédio moral nas escolas, por exemplo, também têm esse problema no mundo virtual, um fenômeno intitulado cybermobbing. "Tanto os dados na esfera europeia quanto aqueles relacionados à Alemanha especificamente mostram que quase 20% das crianças já passaram por alguma experiência de mobbing. Mesmo que apenas 4% das crianças alemãs relatem casos nesse sentido.
O mesmo vale para aqueles que vivem em ambientes fortemente sexualizados, ou seja, eles acabam entrando em contato com mais frequência e mais rapidamente com conteúdos pornográficos na internet.
Outra peculiaridade revelada pelo estudo é o fato de que meninos costumam ter contato com a internet mais cedo do que as meninas. Ambos, contudo, têm muitas vezes suas primeiras experiências online através de jogos educativos. Em suma, porém, alerta Hasebrink, "os pais muitas vezes nem sabem o que seus filhos fazem online".
SV/ap/epd
Revisão: Carlos Albuquerque