Iniciativa tenta resgatar memória do bairro Eichkamp em Berlim
26 de dezembro de 2012Na rua Falterweg há três delas, na avenida Waldschulallee há quatro, na rua Zikadenweg, são sete. E quem passeia hoje com atenção pelas ruelas estreitas do bairro Eichkamp verá ainda outras "pedras do tropeço", como são chamadas as pequenas lápides de bronze em memória dos judeus deportados da Alemanha nazista, que ali viviam ou trabalhavam. As pedras trazem seus nomes e suas datas de nascimento e, se conhecidas, também as de morte.
Na periferia de Berlim
O loteamento Eichkamp foi projetado em 1919, na parte nordeste da floresta e bairro de nome Grunewald, em Berlim. Era uma espécie de povoado, com conexão de trem para o centro da cidade. Ali viviam pessoas de diversas classes sociais: artesãos e pequenos comerciantes, policiais e funcionários da rede ferroviária, bem como algumas personalidades "famosas", como o escritor Arnold Zweig e o pensador Ludwig Marcuse, por exemplo, além da política Marie-Elisabeth Lüders.
Todos eles apreciavam o ar puro fora da cidade, além das vantagens de terem em suas casas um jardim com pomar, horta e galinheiro. E alguns talvez até fossem orgulhosos do fato de que os arquitetos do loteamento Eichkamp tinham nomes conhecidos, como Max e Bruno Taut ou Martin Wagner.
Nos anos 1930, das 450 casas do loteamento, 70 eram habitadas por judeus. Muitos deles conseguiram emigrar a tempo, enquanto outros acabaram assassinados em campos de concentração. Nas últimas décadas, foi resgatada a memória a respeito de seus nomes, suas profissões e locais exatos de moradia.
A iniciativa desta lembrança foi dos próprios habitantes do bairro, que começaram a pesquisar no início dos anos 1990 sobre a história do lugar. O resultado da pesquisa se transformou em um belo livro, com muito material e diversas imagens, mas também em uma iniciativa de colocação das "pedras do tropeço", presentes no bairro desde janeiro de 2008.
A casa da família Hamburger
Em frente à casa da rua Eichkamp, número 108, há duas pedras do tropeço: uma em memória da cientista Margarete Zuelzer, morta no campo de concentração de Westerbork, em 1943; e outra em lembrança de Estella Helene Maas, que se suicidou em 1942 a caminho da deportação. No primeiro semestre de 2012, o professor aposentado de Física Ernst Wolfgang Hamburger passou por ali. Ele viajou a Berlim com a família, pois seu filho Cao exibiu no Festival Internacional de Cinema da cidade seu filme Xingu.
Ernst Wolfgang Hamburger mostrou a seus filhos e a um de seus netos a casa onde havia vivido. Até 1936, quando a família emigrou para o Brasil, a residência de número 108 da rua Eichkamp pertencia a seus pais. Sua família sentia-se muito bem no lugar e tinha uma ligação forte com o bairro, conta ele. Entre 1926 e 1930, o pai de Ernst Wolfgang Hamburger foi presidente da Associação dos Moradores de Eichkamp.
A família Hamburger sobreviveu à perseguição aos judeus e ao terror nazista. Eles conseguiram emigrar para o Brasil e construíram uma nova existência em São Paulo. Logo, não há nenhuma pedra em memória de algum membro da família em frente à casa, embora a história deles seja contada em visitas guiadas e eventos organizados pela Iniciativa Eichkamp. Em todo o bairro, há até agora 25 pedras do tropeço. Duas não puderam ser colocadas porque os descendentes das vítimas, hoje vivendo em Londres, não quiseram. No caso, eles preferiram não manter nenhum tipo de contato com a Alemanha.
Informações sobre o livro:
Manuela Goos e Brigitte Heyde: "Eichkamp. Eine Siedlung am Rande mitten in Berlin" (Eichkamp. Um loteamento na periferia, bem no centro de Berlim), editado pela Associação dos Moradores de Eichkamp. Edição esgotada.
Autora: Silke Bartlick (sv)
Revisão: Roselaine Wandscheer