Com exceção da neve que caiu em Berlim e em outras partes do país, o novo ano começou na Alemanha sem muitas diferenças em relação ao anterior: lockdown em vigor e prorrogado, frio, dias cinzentos típicos do inverno berlinense... Na semana passada, porém, uma zona de baixa pressão atmosférica trouxe novidades e causou burburinho nas redes sociais.
Batizada de Ahmet, a primeira zona de baixa pressão atmosférica registrada em 2021 ganhou um nome bem diferente dos que costumam aparecer nas previsões do tempo por aqui. E esse não será o único nome estrangeiro que aparecerá nesta parte dos jornais na Alemanha ao longo deste ano.
Promovida por uma organização de jornalistas com raízes estrangeiras, uma iniciativa apadrinhou junto ao Instituto para Meteorologia da Universidade Livre de Berlim, que deste 1954 é responsável por batizar essas massas de ar, os 14 primeiros nomes de zonas de baixa e alta pressão atmosférica de 2021. Todos os nomes escolhidos são bastante populares entre as comunidades de imigrantes na Alemanha.
Diversidade visível
Com a ação, a iniciativa busca dar visibilidade à diversidade presente no país nas previsões do tempo, onde há uma forte tendência em adotar nomes típicos alemães para batizar fenômenos climáticos. A organização destaca que 26% dos habitantes da Alemanha têm origens migratórias e ressalta que muitos alemães também se chamam Ahmet, Bartosz, Cemal, Bozena ou Dragica.
"Batizar fenômenos climáticos com nomes de imigrantes é naturalmente algo apenas simbólico. Mais importante é tornar visível a diversidade em todos os lugares da sociedade. Para isso precisamos da imprensa, que molda nossas imagens do cotidiano e que deve mostrar a diversidade como normalidade", destacou a organização.
Por trás da promoção de nomes estrangeiros nas previsões do tempo, a ação visa estimular a contratação de jornalistas com raízes migratórias nos meios de comunicação e sugere a criação de uma cota de 30% para profissionais descendentes de imigrantes voltada a promover a diversidade na imprensa.
"Venda de nomes"
Esse batismo na previsão do tempo só foi possível graças ao sistema de apadrinhamento de zonas de baixa e alta pressão atmosférica que chegam à Alemanha promovido pelo Instituto para Meteorologia desde 2002. Os recursos gerados com a "venda de nomes" são utilizados para financiar o trabalho de estudantes que observam o clima 24 horas por dia numa estação meteorológica em Berlim.
Segundo o site do projeto, mais de 2 mil pessoas de vários países, inclusive do Brasil, já se tornaram padrinhos ou madrinhas de zonas de baixa e alta pressão atmosférica.
Para escolher o nome, o patrocinador precisa desembolsar entre 240 euros (cerca de 1.500 reais para baixa pressão) e 360 euros (cerca de 2.300 reais para alta pressão – mais caras por durar mais tempo). Em troca, o nome escolhido aparecerá em previsões do tempo em todo o país enquanto durar a passagem da zona de pressão.
--
Clarissa Neher é jornalista da DW Brasil e mora desde 2008 na capital alemã. Na coluna Checkpoint Berlim, escreve sobre a cidade que já não é mais tão pobre, mas continua sexy. Siga-a no Twitter.