"Iniciativa de Lula na ONU de suma importância"
21 de novembro de 2004DW-WORLD ― Senhor ministro, após visitar a Guatemala e o Brasil, o senhor conclui em São Paulo sua visita oficial à América Latina. Qual o significado que esta região do mundo tem para a Alemanha?
A tendência dos últimos anos, sobretudo por parte das empresas, é de voltar a atenção para o Oriente, principalmente para a China, mas acho que a América Latina vai voltar a ganhar peso no futuro. As relações da UE com o Mercosul são muito importantes, embora lamentavelmente não tenham progredido. Mas creio que, com boas intenções de ambos os lados, isso há de dar certo. A participação dos países latino-americanos nas peace keeping operations seria o terceiro fator importante. O desenvolvimento da democracia é positivo e, caso seja acompanhado de desenvolvimento econômico e de uma cooperação nas operações de paz, isso permitirá uma interessante parceria entre a Europa e a América Latina.
DW-WORLD ― A América Latina superou as ditaduras, mas ainda tem muito chão pela frente até estabelecer um sistema democrático e acabar com a pobreza. Como os latino-americanos e os europeus podem cooperar neste sentido?
As experiências com ditaduras na Europa também foram péssimas. Estamos satisfeitos de as termos superado através da integração. Creio que a integração na América Latina é um aspecto muito importante, considerando a experiência européia de que a integração pode aumentar o crescimento e diminuir a pobreza. A luta contra a pobreza e em especial contra a fome é relevante para garantir a estabilidade democrática. Considero de suma importância a iniciativa que Lula apresentou há alguns meses na assembléia geral das Nações Unidas. Pretendemos participar disso dentro do limite das nossas possibilidades.
DW-WORLD ― Os europeus encontraram um caminho através da unidade, primeiro com a comunidade e depois com a União Européia. Como os latino-americanos podem aproveitar esta experiência?
É uma experiência muito importante, sobretudo porque na América Latina não existem obstáculos tão grandes como na Europa, como as diferenças lingüísticas. Neste continente, falam-se em grande parte duas línguas bastante semelhantes. Além disso, acho que a integração em um grande mercado comum, se estimulada energicamente, pode oferecer grandes vantagens. Outro fator importante da experiência européia é que os países grandes têm que levar os pequenos em consideração, para que a integração funcione. As conversas têm mostrado que há grande consciência disso, e não só no Brasil.
DW-WORLD ― A Europa e a América Latina compartilham valores comuns na maioria dos assuntos internacionais de hoje. Como se podem unir melhor as forças para impulsionar a reforma das Nações Unidas e do Conselho de Segurança?
Neste sentido, sempre há interesses divergentes, não entre europeus e latino-americanos, mas nos respectivos grupos regionais. Isso não é segredo nenhum. No entanto, acho que uma reforma do Conselho de Segurança é de interesse de todos.
Um mundo globalizado no século 21 precisa de uma ordem baseada em instituições fortes e as Nações Unidas desempenham um papel imprescindível neste processo. Sem a ONU, a situação do mundo seria bem pior e muito mais perigosa. A única força das Nações Unidas, com sua estrutura que remonta a 1945, é sua força de legitimação baseada em um consenso. E este consenso pressupõe representatividade, ou seja, que todos os continentes e todas as regiões relevantes do continente estejam representados.
Se entrarmos em acordo a este respeito, pode funcionar. Mas dentro de cada grupo regional existem os próximos, ou seja, aqueles que já não participam de forma contínua em um novo Conselho de Segurança e vêem as coisas de outro ângulo. Isso é o que acontece entre nós, europeus, e também dentro do grupo asiático e do latino-americano. Veremos se será possível se chegar a um consenso.
DW-WORLD ― Atualmente, a segurança internacional depende da situação no Iraque e no Oriente Médio. Quais perspectivas o senhor vê para uma cooperação com os latino-americanos neste sentido?
Há um grande consenso nas conversas que tenho tido, seja quanto à preocupação ou quanto à perspectiva. Todos sabem da importância que isso tem para a paz mundial e para a economia internacional. O que se revelou nas conversas em Brasília é que a maioria das questões é consensual.