Influência do antigo regime cerca presidente eleito no Iêmen
22 de fevereiro de 2012Depois de meses de protestos contra o regime de Ali Abdullah Saleh, no Iêmen, as eleições presidenciais no país desta terça-feira (21/02) selaram a saída do antigo líder. Esse foi o motivo que levou mais de dez milhões de iemenitas às urnas, o equivalente a 60% dos eleitores – ainda que na cédula de votação houvesse apenas um nome: o do vice-presidente Abed Rabbo Mansur Hadi.
A falta de alternativa na escolha do novo presidente era parte do acordo assinado por Saleh antes de deixar o poder. Na época em que o pacto foi acertado, centenas de manifestantes tomaram as ruas para protestar contra as condições acertadas, que também garantiram a Saleh, sua família e apoiadores imunidade diante das acusações de, entre outros, crimes contra a humanidade.
Enormes desafios
Muitos iemenitas agora aguardam um recomeço. Depois dos 33 anos de governo de Saleh, o país enfrenta grandes desafios e corre o risco de se transformar em um Estado falido. O país mais pobre da península Arábica também virou um refúgio para a rede terrorista Al-Qaeda.
Com seus 24 milhões de habitantes, o Iêmen pertence ao grupo das nações menos desenvolvidas do planeta: a população cresce rapidamente, uma grande parcela sofre com a pobreza e escassez no abastecimento de água. Analfabetismo e desemprego são bastante presentes.
Nos últimos anos, o descontentamento popular contra o regime de Saleh cresceu constantemente no sul e no norte do Iêmen. A tribo xiita Houthis, que controla o noroeste do país, vive uma resistência armada há anos contra o governo central. No antigo sul comunista, o movimento separatista ganha força. Desde o começo dos protestos contra Saleh, os problemas do Iêmen se agravaram ainda mais.
Presidente sem poder
A escolha de um novo presidente deve salvar o Iêmen de uma catástrofe. Esse foi motivo que levou os norte-americanos e sauditas, influentes na região, assim como a União Europeia e Liga Árabe, a apoiarem o nome de Hadi.
O novo líder, no entanto, não deve representar um recomeço, acredita Elham Manea, da Universidade de Zurique. "Hadi é o candidato de Ali Abdullah Saleh. Isso quer dizer que Saleh continua no poder, apesar de ter perdido o título de presidente", comentou a cientista política de origem iemenita.
Apesar de Hadi ter sido vice-presidente desde 1994, ele praticamente nunca exerceu um papel político significativo. Tim Petschulat, representante da fundação alemã Friedrich-Ebert no Iêmen, vê nessa situação uma vantagem. A postura mais discreta de então poderia ajudar o futuro presidente: ele poderia e deveria se dirigir a todos os grupos importantes e ligá-los num diálogo nacional. "Ele não tem nenhum poder de base nem qualquer tribo a seu favor. Por isso ele não pode esperar que as pessoas o apoiem do nada."
Para Manea, esse diálogo já deveria ter começado. "Agora, os iemenitas do sul e os Houthis se sentem excluídos. Uma oportunidade foi desperdiçada", comentou a pesquisadora. Os interesses dos jovens ativistas, os primeiros a levantarem a discussão sobre mudanças no poder, também não teriam sido considerados pelo governo.
Antigas influências
De qualquer maneira, o governo de transição de Hadi será um desafio. "Será difícil para ele controlar as forças armadas", analisa a especialista Gabriele vom Bruck, da Escola de Estudos Orientais e Africanos de Londres.
O futuro presidente teria ainda uma relação muito ruim com Ahmed, filho de Ali Abdullah Saleh, que continua próximo ao poder e ainda mora no palácio presidencial. "Hadi anunciou que ele não irá se mudar para o palácio, continuará morando em sua residência – um símbolo importante", avalia Vom Bruck. Ou seja: de certa maneira, Saleh permanece no palácio presidencial.
Autoras: Anne Allmelig / N. Pontes
Revisão: Francis França