Indústria investe na casca de coco como matéria-prima
6 de abril de 2013O Brasil produz, por ano, dois bilhões de cocos. O consumo deste fruto largamente encontrado principalmente no nordeste brasileiro, no entanto, limita-se à água e à polpa. A parte dura e fibrosa, que representa 80% do peso total do fruto, acaba sendo descartada. Isso quer dizer que, para cada coco consumido no país, um quilo e meio de lixo é gerado.
A casca de coco pode levar até dez anos para se decompor, mas desponta agora como uma fonte de matéria-prima interessante para a indústria da reciclagem. Estofamento de veículos, colchões, palmilhas, material de jardinagem, substrato para a agricultura: são muitas as possibilidade de aproveitamento.
Estimativas da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) indicam um volume de 3 milhões de toneladas de resíduos de coco por ano. Embora não existam estatísticas precisas quanto à forma de consumo, parte desse material fica no campo, onde as amêndoas maduras são descascadas. Outra parte, ainda verde, fornece a água de coco, tanto para a indústria como para o consumo na orla de todo o país.
De acordo como analista da Embrapa Agroindústria Tropical, Adriano Mattos, o mercado do coco está aquecido. As dez maiores empresas que processam industrialmente a água de coco utilizam cerca de 200 mil unidades por dia cada uma. Já as indústrias de médio porte processam diariamente mais de um milhão de cocos. E é na sequência dessa cadeia produtiva que a indústria da reciclagem ganha força.
“As empresas têm que se responsabilizar pelo lixo que produzem e estão investindo em reciclagem”. Mas a tecnologia ainda é recente. “A primeira processadora foi instalada em 2005”, conta Mattos.
Fibras naturais para a indústria
Fibra e substrato são os produtos extraídos da casca do coco. O agrônomo explica que a casca do coco seco é tradicionalmente reciclada. A do verde, porém, pode servir para a fabricação de quase todos os mesmos produtos. A fibra é utilizada pela indústria em aplicações diversas. “Quando uma grande montadora de veículos se instalou no país, ela subsidiou a abertura de uma fábrica de fibra de coco para fornecer matéria prima para os bancos dos automóveis”, exemplifica Mattos.
A mesma fibra também é transformada em mantas geotêxteis, úteis em obras de contenção de encostas ou mesmo em projetos paisagísticos. Uma variedade do chamado Tecido Não Tecido, popularmente conhecido como TNT, também é feita da mistura de fibra de coco e látex, podendo ser usada para a confecção de bolsas e peças de artesanato. Empresas que fazem aplicação de gesso no interior de residências já usam a fibra para substituir o sisal na montagem de forros.
Cascas de coco também têm sido transformadas em carvão ou mesmo em briquetes de material cru, que pode substituir a lenha para a queima industrial. Carvão a partir da casca de coco vem sendo produzido no Camboja, como mostra o programa Futurando 30. No Brasil, no entanto, a tecnologia ainda está em desenvolvimento e não foi implantada em escala comercial.
Reforço na agricultura
Mattos explica que a fibra do coco é rica em lignina, molécula que torna a sua decomposição mais difícil. Atualmente, a resistência da casca do coco tem servido para a agricultura. Porém, a Embrapa estuda formas de aproveitamento de toda a substância.
Um dos subprodutos da extração da fibra é um farelo, usado na agricultura como substrato. O material não é compostado para servir de adubo, mas pode ser misturado fresco junto à terra a fim de garantir uma absorção maior de água. Mattos conta que cada quilo do substrato pode reter quatro vezes o seu peso em água, reduzindo a quantidade de líquido necessária pra cultivos irrigados. “A Espanha usa muito esse material em suas estufas, mas o compra da Ásia. Por hora, o Brasil produz para o mercado interno”.
Matéria-prima para aumentar a produção não falta. Ele estima que 20 empresas fazem o processamento do resíduo do coco no país, com capacidade média para 10 mil unidades por dia cada. “Mas isso não significa que operem em sua capacidade máxima”, pondera. A discrepância entre o consumo e o aproveitamento ainda é grande, ele garante.
Boa parte das cascas de coco seco que permanecem no campo ainda é queimada no local, para liberar espaço. Já a coleta das cascas de coco verde, que representa 70% do lixo produzido na orla das grandes cidades, é um desafio. “A maior parte ainda vai para os lixões”, afirma Mattos. Além de estar espalhado, o material chega para a reciclagem com restos de comida, plásticos e outros materiais, o que piora a qualidade e encarece a reciclagem. “Mas para nós, casca de coco não é lixo. É matéria-prima”.