Indústria da energia solar quer evitar erros da eólica
16 de junho de 2004Um acordo garante este ano aos fornecedores de energia solar uma remuneração inédita na Alemanha: 62,4 cents de euro por quilowatt/hora. A atraente tarifa está estimulando a multiplicação das usinas solares. Prevê-se que até dezembro 20 mil parques de coletores fotovoltaicos serão instalados no país, com capacidade para gerar 200 megawatts.
O setor calcula que, pela primeira vez, seu faturamento ultrapassará a marca de um bilhão de euros, contra 750 milhões em 2003 e apenas 80 milhões em 1998. Os investimentos deverão criar quatro mil novos empregos.
Nesta arrancada, os projetistas de usinas solares têm uma preocupação a mais, a partir da experiência dos setores de energia nuclear e eólica. Ou seja, só instalar usinas onde elas são bem-vindas pela população e não encher a paisagem com placas coletoras, sem repetir o exemplo da proliferação de cata-ventos, que gera protestos em algumas regiões do país.
Afinal, o setor vive "de sua imagem positiva e de sua alta credibilidade ecológica", afirma Carsten Körnig, diretor-geral da Associação das Empresas do Setor de Energia Solar (UVS). Maior projetista de usinas da Alemanha, a empresa Voltwerk faz coro: "A aceitação dos parques solares em suas regiões é muito importante."
De fato, a popularidade da energia solar é das melhores. Pesquisa encomendada pelo Departamento Federal de Imprensa verificou que 70% dos alemães apontam o sol como fonte de energia preferida para assegurar a demanda no país daqui a 20 ou 30 anos. A alternativa eólica ficou em segundo lugar, com 55% das preferências, enquanto a nuclear obteve apenas 19% de respaldo e o uso de carvão, irrisórios 6%.
Problemas com a paisagem
Entretanto, assim como ocorreu com os cata-ventos, à medida que novos projetos de usinas solares são anunciados, começam a surgir as primeiras resistências, sobretudo nas regiões em que elas devem ocupar áreas anteriormente verdes, algumas usadas antes para agricultura e pecuária.
Instalações de coletores em telhados não enfrentam contestações. Mas não há telhado que chegue para atender às metas do governo. O potencial de conflito tende a crescer com a perspectiva de instalação de grandes usinas, pois nem todas as áreas não construídas poderão ser poupadas.
Até agora os atritos entre defensores de usinas e contestadores foram casos isolados, sem maiores repercussões. Ao menos não comparáveis com as brigas contra a abertura de estradas, por exemplo. Porém, no povoado de Schmiechen, próximo a Augsburg, a resistência saiu-se vitoriosa. Ao se dar aos moradores do local o poder de decisão através de plebiscito, 60% dos eleitores foram contra.
O diretor da Associação de Incentivo à Energia Solar da cidade de Aachen, Wolf von Fabeck, rejeita categoricamente o uso de áreas verdes. Para ele, quem leva a sério a proteção ao meio ambiente tem de protestar contra "o uso desnecessário de superfícies" naturais.
"Os campos de pastagem nos Alpes e as encostas vinícolas estão para nós fora de cogitação", garante Steffen Kammler, chefe de projetos da City Solar, responsável pelo planejamento do atual maior projeto solar do mundo.
Em Göttelborn, no Estado do Sarre, deverá ser instalada uma usina de 7,4 megawatts, ou seja, tanta eletricidade quanto a produzida por todas as instalações solares na Alemanha há dez anos.
Resistências ao projeto? Nenhuma. Afinal, a usina ocupará uma área deformada pela extração de carvão. Portanto, opções existem. País afora existem terrenos de pouco valor ecológico à disposição, como campos de treinamento militar e aterros sanitários, como o de Karlsruhe. Após o saneamento do local, a prefeitura instalou ali três aerogeradores. Agora quer cobrir o monte de lixo soterrado com coletores solares.