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Indústria automobilística

Henrik Böhme (sv)17 de fevereiro de 2009

Em todo o mundo, as montadoras registram quedas vertiginosas em suas vendas e reduzem o ritmo da produção. Segundo uma pesquisa realizada pelo Deutsche Bank, a crise pode, contudo, trazer progressos ao setor.

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Carro do futuro: mudanças pela frenteFoto: picture-alliance/ dpa

O automóvel como o conhecemos hoje tem cem anos e provavelmente ainda permanecerá nas ruas de todo o mundo ainda por mais cem anos. A demanda por carros deverá até mesmo crescer nos próximos tempos e as montadoras certamente vão voltar a produzir como antes da atual crise.

No entanto, é possível que das esteiras de produção do futuro saiam carros diferentes dos de hoje: talvez nem tanto na aparência, mas sim nos interiores. Essas são algumas das previsões de um estudo realizado pelo Deutsche Bank.

"A indústria automobilística passa hoje por uma época de transição. Pela primeira vez em sua história centenária, surge a chance real de que, além do motor de combustão clássico, sejam desenvolvidas novas formas de tração. Contamos com uma crescente eletrização do tráfego de veículos nos próximos anos e décadas. E as empresas que desenvolverem os produtos certos a partir de agora terão boas oportunidades de saírem fortalecidas da crise", diz Eric Heymann, que realizou o estudo para o departamento de pesquisa do Deutsche Bank.

Busca de soluções ecológicas

Deutschland Mercedes Benz Rennwagen
Carro de corrida Mercedes Benz de 1900Foto: picture-alliance / IMAGNO

No entanto, o motor clássico de combustão deverá permanecer ainda por muitos anos como o principal mecanismo de funcionamento de um carro, da mesma forma como Karl Benz e Gottlieb Daimler o inventaram, cada um por si, há mais de 120 anos.

Apesar de mais modernos, os motores de hoje continuam soltando dióxido de carbono pelo escapamento, mesmo que o volume das emissões tenha diminuído e tenha que diminuir ainda mais, porque assim o quer a UE e porque as montadoras europeias não cumpriram as obrigações assumidas voluntariamente.

Agora, os engenheiros estão realmente se esforçando para desenvolver modelos com níveis de emissão de poluentes tão baixos como nunca. O problema, porém, é que, devido à crise, o preço da gasolina está consideravelmente baixo. No futuro, os motoristas com certeza ainda vão sentir saudades dos atuais preços. O petróleo é e deverá permanecer uma matéria escassa.

Tão logo a crise econômica seja superada, seu preço provavelmente voltará a subir e com isso também o preço da gasolina e do diesel. Isso vai acelerar a busca de alternativas aos motores desenvolvidos por Benz e Daimler.

Perspicácia do consumidor

O economista Eric Heymann já observou recentemente uma reação semelhante no mercado: "Nos últimos anos, vimos um aumento considerável nas vendas de veículos econômicos. Acredito que o consumidor tenha aprendido que a atual fase, com preços mais baixos da gasolina, será transitória. Pois acho que é inquestionável o fato de que os preços do petróleo irão subir de novo, tão logo a conjuntura reaqueça e passe a crise que testemunhamos no momento. A médio e longo prazo, o consumo de combustível continuará sendo um critério cada vez mais importante para a decisão do consumidor na hora de adquirir um carro", analisa o especialista.

Os consumidores, no momento, preferem um Smart da Daimler, um Fiat 500, um Twingo da Renault ou um Fox da Volkswagen. Os veículos que gastam muito combustível passam a ser deixados de lado nas concessionárias.

Tecnologias híbridas

Autochina Audi Q5
Veículos atuais: ainda compatíveis com a crise e com o meio ambiente?Foto: picture-alliance / dpa

Apesar de tudo, a indústria automobilística alemã ainda é melhor que sua fama, segundo aponta o estudo. O atraso das montadoras do país quanto a parâmetros de proteção ambiental, especialmente filtros de partículas e motores híbridos, só é real à primeira vista, segundo Heymann.

Para ele, o significado das tecnologias híbridas está sendo superestimado. Neste contexto, ignora-se com frequência que montadoras como a Daimler, Volkswagen, BMW e outras mantêm-se à frente no campo de pesquisa de trações alternativas.

E essas formas alternativas de locomoção são justamente as tecnologias do futuro a serem utilizadas pelo homem quando a última gota de petróleo se esgotar. No momento, as montadoras tentam desenvolver veículos elétricos a ponto de torná-los viáveis para o bolso do consumidor.

Hoje, segundo o estudo do Deutsche Bank, os custos de uma bateria são simplesmente altos demais: mil euros por quilowatt-hora, o que leva rapidamente a gastos de 10 mil euros ou mais. Há ainda outros problemas a serem solucionados, como peso, alcance, duração e ciclos de carregamento. Esse processo requer tempo, lembra Heymann.

"Isso não pode ser feito da noite para o dia. A mudança estrutural do setor vai ser lenta. Em dez ou 15 anos, a maioria de veículos ainda deverá ter motores clássicos de combustão. Vai haver uma transição fluida com veículos do tipo microhíbridos ou híbridos suaves, nos quais estarão embutidos determinados componentes de um motor elétrico. Essa será uma tendência crescente nos próximos anos. O grande problema das trações alternativas, do ponto de vista atual, são os custos mais elevados que os dos motores de combustão, mas a tendência a uma maior eletrificação é clara", diz o especialista.

Biocombustíveis: problemas não resolvidos

Deutschland Auto Elektro Smart in Wiesbaden vorgestellt
Smart elétrico, apresentado em 2008Foto: AP

Em relação aos biocombustíveis, como o etanol e o biodiesel, Heymann salienta que há ainda algumas questões em aberto. Embora eles tenham um grande potencial, é preciso apostar acima de tudo nos biocombustíveis de segunda geração, gerados principalmente a partir de lixo orgânico. Isso devido aos limites das zonas de cultivo e também à tão propagada concorrência entre "o prato na mesa e o tanque de gasolina".

Para Heymann, os veículos movidos a gás natural irão se tornar cada vez mais importantes, ao contrário daqueles movidos a hidrogênio, que, apesar dos protótipos em funcionamento, ainda são coisa para o futuro.

De qualquer forma, na opinião de Heymann, a indústria automobilística está iniciando um período de transição. Insolvências, fusões e incorporações irão revolver o setor nos próximos anos: uma ideia do que está por vir já pode ser sentida nas recentes notícias de cooperação entre a Daimler e a BMW, por exemplo. Para as montadoras alemãs, porém, as perspectivas de futuro não parecem tão más.

Alemãs e japonesas

"Na nossa opinião, as montadoras alemãs estão numa posição confortável, da mesma forma que as concorrentes japonesas. Elas desenvolveram a tempo tecnologias mais eficientes não somente no setor de motores elétricos, mas também de combustíveis alternativos. E levam vantagem se comparadas a muitas outras concorrentes, principalmente quando se voltam os olhos para os EUA. Diante disso, esperamos que pelo menos as montadoras alemãs e japonesas consigam estabelecer as tendências na produção e desenvolvimento de novas formas de tração", comenta Heymann.

Da mesma forma como as locomotivas a vapor são peça de museu, um dia o motor à combustão desenvolvido por Benz e Daimler terá o mesmo destino. Seu mérito no processo de motorização mundial é, porém, inegável. Ele certamente terá um lugar de honra nos museus de tecnologia espalhados pelo mundo.