Inclusão de jornalista em lista de antissemitas gera indignação
6 de janeiro de 2013Nem sempre é uma honra fazer parte dos "dez mais". A inclusão do nome do jornalista alemão Jakob Augstein entre os dez piores antissemitas do mundo causou indignação e perplexidade em meios judaicos e políticos da Alemanha.
A lista foi publicada no final de 2012 pelo Centro Simon Wiesenthal (SWC, na sigla original), sediado nos Estados Unidos. Ocupando o nono lugar, Augstein não estaria, assim, muito longe da Irmandade Muçulmana do Egito, que encabeça o rol dos antissemitas, ou do regime do Irã, o segundo colocado.
Questionável sim, antissemita não
"Fiquei bastante espantada", comenta Juliane Wetzel, do Centro de Estudos sobre o Antissemitismo da Universidade Técnica de Berlim. Ela não sabe dizer por que o SWC situa o jornalista no mesmo rol de Mahmud Ahmadinejad, o presidente iraniano,. "Com certeza, pode-se argumentar que a crítica de Augstein a Israel é, por vezes, exagerada. Mas isso não tem nada a ver com antissemitismo propriamente dito", diz Wetzel.
O Centro Simon Wiesenthal fundamenta suas acusações contra o colunista com cinco citações, todas retiradas de artigos para o conceituado periódico Spiegel Online. Neles, Jakob Augstein condena a política externa de Tel Aviv; defende o controverso poema de Günther Grass crítico a Israel; e define Gaza como "um local do fim dos tempos, em termos do que é humano".
Ao lado dessas citações, o SWC reproduz as seguintes frases, publicadas no site do semanário Spiegel em novembro de 2012: "Mas os judeus têm seus próprios fundamentalistas. Só que os nomes deles são outros: ultraortodoxos ou haredim. […] Dez por cento de 7 milhões de israelenses pertencem a esse grupo. […] Essa gente é do mesmo feitio que seus adversários islâmicos".
Em entrevista à Deutsche Welle, Wetzel analisa as frases de Augstein: "Considero essas avaliações falsas e a comparação não leva a nenhuma constatação relevante. Mas não se trata de declarações de teor antissemita".
Influência externa
O centro norte-ameicano traz o nome do "caçador de nazistas" Simon Wiesenthal (1908-2005). Poucos da família desse judeu austríaco sobreviveram ao Holocausto, Após a Segunda Guerra Mundial, Wiesenthal iniciou sua busca por criminosos nazistas, mais tarde com o apoio do SWC, criado em 1977.
Atualmente, a organização, com sede em Los Angeles, concentra-se no combate ao racismo e ao antissemitismo. A lista das "dez mais importantes difamações avessas aos judeus ou a Israel" é publicada anualmente.
O Centro Wiesenthal não voltou sua atenção para Jakob Augstein espontaneamente, mas sim a partir das opiniões do cronista alemão Hendryk M. Broder. Provocador notório, o descendente de judeus poloneses é citado pelo SWC com a seguinte afirmativa: "[Augstein] só não fez carreira na Gestapo porque nasceu depois da Segunda Guerra".
Em entrevista à emissora alemã ARD, o rabino Abraham Cooper, responsável pela compilação da lista dos antissemitas, declarou que manterá sua seleção, apesar das críticas: no que tange à demonização de Israel, Augstein passou dos limites, argumenta Cooper.
Luta enfraquecida
Muitos alemães não conseguem entender por que os norte-americanos dão crédito às afirmações de Broder. O Conselho Central dos Judeus na Alemanha acusou o SWC de não haver pesquisado suficientemente e distanciou-se das alegações de antissemitismo contra Augstein.
Juliane Wetzler acredita que o Centro Wiesenthal nem sempre acerta em sua avaliação de temas alemães e europeus: "é evidente que falta informação", diz ela. Políticos de partidos alemães tão diversos quanto a conservadora União Democrata Cristã (CDU) e o A Esquerda também se posicionaram do lado do colunista.
O editor-chefe da edição online da revista Spiegel, Mathias Müller von Blumencron, afirmou à agência de notícias dapd que "Jakob Augstein escreve textos polêmicos, por isso ele é colunista da Spiegel Online". O próprio articulista Augstein publicou na internet a frase: "O SWC conta com todo o meu respeito por sua luta contra o antissemitismo. Tão mais deplorável, portanto, quando essa luta é enfraquecida. Isso acontece forçosamente quando o jornalismo crítico é difamado como racista ou antissemita".
"Não é porque Augstein é um jornalista que daríamos a ele carta branca para dizer o que bem entende e se esconder por trás de sua integridade jornalística", rebateu o rabino Cooper à agência de notícias dpa. O debate desencadeado na Alemanha sobre o assunto é visto pelo rabino, contudo, como positivo.
Autora: Julia Mahncke (av)
Revisão: Soraia Vilela