Mídia europeia associa greve de policiais no Brasil a caos no Carnaval
10 de fevereiro de 2012Na imprensa europeia, a greve dos policiais na Bahia, e agora no Rio de Janeiro, se traduz na manchete: "Caos no Carnaval", como sintetizou nesta semana o diário alemão FAZ.
Nesta sexta-feira (10/02), a paralisação anunciada pelos policiais fluminenses repercutiu rapidamente: "A poucos dias da celebração que concentra milhões de pessoas na cidade, as polícias do Rio de Janeiro decidiram somar-se à greve", escreveu o espanhol El Pais.
Reivindicações
O comando da Polícia Militar do estado do Rio, no entanto, minimiza os impactos. "A afirmação de que 'há greve' não constitui a realidade com a qual a PM está lidando. A adesão está sendo considerada muito baixa", respondeu Gustavo de Almeida, da Polícia Militar do Rio de Janeiro, questionado pela DW Brasil.
Os grevistas exigem o piso único de 3,5 mil reais, vale-transporte e vale-refeição no valor de 350 reais cada, além de jornada semanal de 40 horas e pagamento de horas extras. Segundo o movimento, eles só aceitarão negociar com o governo após a libertação do cabo bombeiro Beneveluto Daciolo, preso na última quarta-feira e apontado como um dos líderes da paralisação.
Ainda assim, o comando militar garante que "a situação segue normal na cidade". Não há números oficiais dos agentes que cruzaram os braços, "mas o fato é que o comando da PM garante para o cidadão que ele terá segurança. A Polícia Militar pede que este voto de confiança seja dado", diz a resposta encaminhada à DW Brasil.
Efeito-dominó
Na Bahia, a greve da Polícia Militar já dura 11 dias. Os efeitos são sentidos pela população, disse esta semana a Spiegel Online, ressaltando que o número de homicídios duplicou. "Em Salvador da Bahia acontece um dos maiores carnavais de rua do Brasil", explicou o site.
A greve baiana implicou ocupação de prédios públicos, como a Assembleia Legislativa, prisão de grevistas e críticas da presidente Dilma Rousseff. Ela disse que respeita as reivindicações da corporação, mas não concorda com anistia para policiais que cometeram crimes durante a paralisação.
"Não consideramos que seja correto instaurar o pânico, instaurar o medo, criar situações que não são aquelas compatíveis com uma democracia. Eu não considero que o aumento de homicídios na rua, queima de ônibus, entrar encapuzados em ônibus seja a forma correta de conduzir o movimento", criticou. "Se você anistiar, aí vira um país sem regra."
O ex-policial Marco Prisco, um dos líderes da greve, foi preso na manhã de quinta-feira após divulgação de escuta telefônica em que ele combinava atos de vandalismo com outros grevistas. O salário básico dos policiais baianos é de 580 reais e, com as gratificações, o valor chega a 1,4 mil reais para soldados. O movimento exige aumento da gratificação e anistia aos rebeldes. Estima-se que 33% da força de 31 mil homens tenham aderido ao movimento.
"Uma das mais mal remuneradas do mundo"
O jornal suíço Neue Zürcher Zeitung trouxe nesta semana uma visão geral sobre a situação dos policiais no Brasil, e lembra que a categoria exige um piso mínimo nacional de 3,5 mil reais. No Distrito Federal, diz a publicação, os oficiais ganham quase o dobro dos grevistas da Bahia.
O El Pais diz que a polícia brasileira é "considerada uma das mais mal remuneradas de todo o mundo e uma das que mais provocam mortes por falta de preparo dos agentes". Para o jornal, a greve e a exigência do piso único nacional se converteu "numa grande dor de cabeça" para Dilma – se a lei que está congelada no Congresso entrasse em vigor, muitos estados da federação iriam "à falência".
A greve pode implicar na redução das estatísticas oficiais que apontam o número de foliões estrangeiros no Carnaval. O Rio de Janeiro divulgou no início do mês que aguardava 250 mil turistas internacionais, entre um total de 850 mil. Salvador, que recebeu 600 mil turistas em 2011, esperava mais foliões neste ano. Mas as autoridades admitem que a greve dos policiais vai espantar muitos visitantes.
Autora: Nádia Pontes
Revisão: Carlos Albuquerque