Imprensa
16 de abril de 2007A imprensa européia teceu duras críticas às potências ocidentais, cujos líderes "nem mesmo piscaram" diante da violência empregada pela polícia russa na repressão aos protestos contra o presidente Vladimir Putin, como escreveu o jornal italiano Corriere della Sera.
Por meio de porta-vozes, a União Européia e o governo alemão condenaram a violência empregada pela polícia russa. "Essas formas de uso excessivo da violência são preocupantes", afirmou o porta-voz do governo federal alemão, Thomas Steg. Segundo ele, a Alemanha espera um esclarecimento completo sobre o comportamento da polícia russa durante as manifestações. A oposição exige uma posição clara da chanceler federal Angela Merkel.
A Comissão Européia lembrou que, como integrante da ONU e da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE), a Rússia está comprometida com a liberdade de opinião e de reunião. "O respeito a esses princípios é muito importante, principalmente no período anterior às eleições", disse a porta-voz Christiane Hohmann.
A polícia russa reprimiu com violência, no último final de semana, manifestações oposicionistas em Moscou e São Petersburgo convocadas pelo movimento Outra Rússia. Centenas de pessoas ficaram feridas e ao menos 150 manifestantes foram presos, incluindo líderes oposicionistas. As manifestações pediam a renúncia do presidente Putin. Leia a seguir algumas opiniões da imprensa européia sobre os fatos.
Süddeutsche Zeitung (Alemanha): "No ocidente, isso [o comportamento do governo russo] provoca apenas um leve estremecimento. A Rússia de Putin é necessária como fornecedora de energia, principalmente na Alemanha. Assim, a fachada democrática criada por Putin encontra muitos observadores amistosos no Ocidente. Ou eles argumentam que a Rússia é democrática ou afirmam que, por causa da sua história, nem mesmo pode ser. Ou seja: os manifestantes em Moscou e São Petersburgo não estão apenas no caminho de Putin, mas também no de seus amigos ocidentais".
WAZ (Alemanha): "É verdade que as fotografias de policiais russos batendo em manifestantes não deixam uma boa imagem no exterior. Mas já faz tempo que a imagem da Rússia nos países ocidentais é indiferente a Moscou. E isso possui prerrogativas: nos sete anos do presidente Putin, o ocidente democrático já deixou comportamentos piores sem conseqüências. (...) O regime quer evitar os protestos tanto quanto possível, incutir medo no cidadão comum com o uso da violência e mantê-lo afastado das manifestações. Além disso, tudo leva a crer que o Kremlin aumentará ainda mais o grau de violência".
Corriere della Sera (Itália): "Em relação aos atuais dissidentes que protestam em Moscou, as autoridades morais e políticas [da Europa] nem mesmo piscam. Paris, Roma, Londres e Berlim fazem que não vêem e fazem suas próprias contas: Putin, seu petróleo, seu gás, suas armas de destruição em massa, que ele vende para o mundo, mais uma vez pesam mais do que alguns poucos manifestantes mal-tratados, dispersos e arrastados pelas forças de repressão. Schröder continua a embolsar seus dividendos da Gazprom. Chirac se aposenta sem mostrar remorsos pela grande cruz da Legião de Honra que colocou no peito do número um da Rússia. E Prodi relembra suas leituras da juventude e parece confundir Putin com Pushkin".
Times (Inglaterra): "A inconseqüência de Putin joga uma série de perguntas complicadas ao Ocidente. A curto prazo, o uso que ele faz da força econômica para pressionar os seus vizinhos deveria nos ensinar que jamais deveríamos nos tornar dependentes de gás russo, mesmo numa escala insignificante. A curto prazo, temos de encontrar uma resposta para a questão sobre como agiríamos caso Garry Kasparov viesse a se tornar um mártir da oposição. Mas mais urgente é saber como poderíamos exercer a nossa responsabilidade em relação a esse dissidente russo, a quem as nossas fronteiras poderiam garantir uma estadia segura".