Imprensa alemã analisa prisão de Lula
8 de abril de 2018Handelsblatt – Prisão do ex-presidente Lula é um vislumbre de esperança para o Brasil, 05/04/2018
Artigo de opinião publicado do jornal de economia de Düsseldorf, assinado por Alexander Busch, aponta que a derrota de Lula no STF é um sinal positivo e que o caso demonstra que o Brasil está na frente de outros países, como China e Rússia, quando se trata da separação de poderes.
"O ex-presidente Lula vai para a cadeia. Isso é bom para o país – a campanha anticorrupção pode finalmente ser bem-sucedida.
Se Lula tivesse sido bem-sucedido em seu pedido de habeas corpus, então essa última investigação hesitante de corrupção da Lava Jato teria fracassado. Importante agora é que o Supremo, mesmo com a enorme pressão de apoiadores e adversários de Lula, rejeitou o pedido. Isso mostra que, em uma grande economia, como o Brasil – ao contrário da Rússia, da Turquia e da China, por exemplo – há uma separação entre os poderes do Executivo, do Congresso, do Judiciário e da mídia – ainda que isso possa ser aperfeiçoado.
Na verdade, Lula queria usar a sentença para continuar a atuar como candidato. Mesmo que a Justiça Eleitoral venha a rejeitar a candidatura, o que é provável, ele ainda pode recorrer. Lula, então continuaria a postergar a decisão do Judiciário além de outubro, quando a campanha eleitoral já vai estar a toda velocidade. O cálculo do PT é que, se Lula continuar a aumentar sua popularidade até lá, nenhum juiz ousaria barrar sua candidatura.
Mas, com a prisão, o cacife político de Lula diminuiu. Outros candidatos de esquerda estão agora pensando em seguir por contra própria novamente. No entanto, Lula não quer se afastar voluntariamente de sua candidatura. Para o político, que rejeita qualquer envolvimento e responsabilidade em acusações de corrupção, muito está em jogo."
Süddeutsche Zeitung – Uma fenda profunda atinge o Brasil, 05/04/2018
Artigo de opinião no jornal de Munique, assinado por Boris Herrmann, aborda a polarização no país. Segundo o autor, mesmo com as controvérsias envolvendo o processo contra o ex-presidente, a decisão do STF de negar o habeas corpus preventivo de Lula foi um sinal positivo de que ricos e poderosos não estão mais a salvo da lei.
"A prisão de Lula marca um ponto de virada na maior democracia da América do Sul, todos no Brasil concordam. Se essa mudança dramática é positiva ou negativa vai depender do ponto do vista ideológico.
Para a esquerda, Lula é uma estrela fixa, claramente inocente e claramente vítima de uma caça às bruxas do Judiciário. Já nos círculos conservadores, Lula é considerado o arquiteto da corrupção, a causa de todo mal no Brasil. Ambas as visões são exageradas, para não dizer mentirosas. Mas essa sociedade está dividida na questão: como lidar com Lula? A verdade é complexa. Mesmo que se suspeite de uma conspiração de direita contra a esperança esquerdista de Lula, esse julgamento, se considerado friamente, é ainda assim um serviço à democracia.
O veredito é principalmente uma derrota para Lula, e claro, para 30% dos eleitores brasileiros que o reelegeriam como chefe de Estado. A frustração dessa base de apoiadores possui um enorme potencial para tensões sociais e violência. Mas não era tarefa do tribunal pacificar esse país irremediavelmente dividido. Desta vez não foi sobre a culpa ou inocência de Lula, mas apenas um julgamento básico sobre a questão: quão operacional é a aplicação das leis brasileiras? Nesse sentido, a democracia brasileira provavelmente venceu.
Independentemente de qualquer pressão que esse julgamento do Supremo tenha sofrido, o resultado é justificável. Um velho provérbio brasileiro diz: quem tem dinheiro nunca é preso. O STF decidiu há dois anos que, após a segunda instância, uma sentença pode ser executada. Para protelar sem fim os casos, você precisa de um bom advogado, ou seja, um advogado caro. Portanto, uma moratória sobre Lula teria sido entendida como um sinal a favor dos ricos e poderosos do país.
Essa moral da história vai ser aplicada sobre um homem que lutou por justiça social como nenhum outro: sua derrota no STF protege seu país de mais injustiça."
Der Spiegel – Um Sinal Fatal, 05/04/2018
Mais crítico sobre a prisão de Lula, artigo da revista semanal Der Spiegel assinado por Jens Glüsing aponta que o STF, ao negar o habeas corpus a Lula, se acovardou diante dos militares e da opinião pública. O texto também aponta que o Brasil corre o risco de ver mais episódios de violência política durante a campanha eleitoral.
"Se Lula não puder competir nas eleições presidenciais de outubro, as chances do ultradireitista e ex-militar Jair Bolsonaro vão crescer.
Os juízes do STF emitiram um sinal fatal. Eles se acovardaram – não apenas diante dos generais, mas também de um público exaltado.
Para a campanha eleitoral, a incerteza jurídica não é um bom presságio. A divisão da sociedade vai continuar aumentando. Seguidores de Lula veem na prisão de seu ídolo a conclusão de um "golpe branco" que começou há dois anos com o impeachment da sucessora de Lula, Dilma Rousseff. Eles vão negar a legitimidade da eleição se Lula não puder se candidatar.
Os opositores de Lula triunfaram por ora, mas se ele for libertado após um curto período de prisão, o ódio deles será escancarado. Há duas semanas, Lula estava em caravana pelo sul e pessoas não identificadas atiraram nos ônibus. O Brasil corre o risco de ter uma campanha ofuscada pela violência.
O governo de Michel Temer está lutando para sobreviver. E o vácuo de poder é preenchido pelos juízes e generais que extrapolam seu papel."
JPS/ots
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