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Imprensa alemã aplaude primeiro tempo de Cannes

Jochen Kürten / Augusto Valente20 de maio de 2015

Chega à metade a principal competição do mundo cinematográfico. Da farsa surrealista ao drama de Auschwitz, um americano, um grego e um húngaro estão entre os cineastas mais cotados. E não falta o primeiro grande fiasco.

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Foto: Reuters/E. Gaillard

No geral, os críticos de cinema da Alemanha presentes ao 60º Festival Internacional de Cannes se mostram bastante satisfeitos com as produções apresentadas nesta primeira metade do evento na mostra competitiva – na qual, como nos últimos anos, a presença alemã é nula.

Assim já se delineiam alguns favoritos na corrida pela Palma de Ouro, considerada o mais importante prêmio de um festival cinematográfico em todo o mundo. Até o momento, as reações mais favoráveis vão para The lobster (literalmente "A lagosta"), de Yorgos Lanthimos, e Carol, do americano Todd Haynes.

Distopia sobre amor e sexo

O mais tardar desde Dente canino, Lanthimos, grego radicado em Londres, é celebrado como um dos mais interessantes cineastas de seu país e símbolo do renascimento do novo cinema grego. No entanto, ele rodou este seu novo filme em inglês e na Irlanda, com elenco multinacional.

Assim se contradiz mais uma vez a pretensão de julgar os realizadores e suas obras segundo categorias nacionais. O cinema internacional, sobretudo o mostrado em festivais como o de Cannes, há muito é um fenômeno global em rede.

EmThe lobster, o cineasta de 42 anos conta sobre uma excêntrica sociedade do futuro que tenta controlar o acasalamento humano. Homens e mulheres são reunidos num hotel com o fim de encontrar um parceiro no prazo de 45 dias, caso contrário se transformam em animais.

Segundo o jornal alemão Frankfurter Allgemeine Zeitung, "sem se afastar muito de seus modelos inspiradores surrealistas no cinema e fora dele, a sombria distopia desenvolve uma cômica ternura".

Para o Süddeutsche Zeitung, Lanthimos sabe bem "dar um foco definido a seu jogo de ideias. Ao fim o filme mostra, de forma mais convincente do que qualquer comédia romântica, que o amor sempre é realmente um jogo de tudo ou nada". Para a agência de notícias EPD, ligada à Igreja Evangélica da Alemanha, o filme é a grande surpresa do festival.

Filmfestival Cannes 2015 THE LOBSTER von Yorgos LANTHIMOS
"A lagosta" revela verdades sobre o amor em tom surrealistaFoto: Festival de Cannes 2015

Highsmith sem assassinatos

Também Carol, que representa os Estados Unidos. encontra ressonância crítica basicamente positiva. Tendo a diva australiana Cate Blanchett no papel-título, Todd Haynes tomou como base um romance publicado por Patricia Highsmith em 1952 sob pseudônimo.

Ele trata do relacionamento amoroso entre duas mulheres, tema tabu nos EUA da década de 50, até mesmo para uma autora de livros policiais de sucesso, como Highsmith. Em Carol, porém, atipicamente não há assassinatos.

Filmfestival Cannes 2015 CHRONIC von Michel FRANCO
Cate Blanchett encarna "Carol", de Highsmith-HaynesFoto: Festival de Cannes 2015

O Berliner Zeitung manifestou-se fascinado pela produção "de uma beleza irresistível, paralisante até. Os designs, cenários e figurinos, tão elegantes quanto formais, mas também os movimentos calculados e olhares contidos das personagens, se encaixam perfeitamente num quadro de costumes daquele tempo em que a homossexualidade não podia ser vivida publicamente".

A opinião do Frankfurter Allgemeine Zeitung é análoga. "É cinema de grandes emoções, para além do kitsch e do sentimentalismo, que Haynes tanto evoca – através da decoração, figurinos e referências a filmes dos anos 50 – como cria de uma forma nova e própria."

Drama do Holocausto polêmico

A contribuição do único diretor estreante na mostra competitiva não podia estar mais longe tanto das fantasias surreais do grego quanto da sensualidade imagética do americano.

Son of Saul (filho de Saul) se desenrola no campo de extermínio de Auschwitz. O também roteirista húngaro László Nemes se concentra quase exclusivamente na personagem-título e seus esforços para enterrar seu filho em Auschwitz. Como condição para continuar vivo, Saul é forçado pelos nazistas a integrar a equipe que elimina os cadáveres dos prisioneiros.

Filmfestival Cannes 2015 SON OF SAUL von László NEMES
"Filho de Saul" evoca imagens chocantes dos campos de extermínio nazistasFoto: Festival de Cannes 2015

Para a maioria dos críticos, trata-se de um filme acabrunhante sobre os horrores dos campos de concentração. O site Spiegel Online prevê que ele "vai, sem dúvida, suscitar ainda muitas discussões sobre se Nemes pode mostrar o que mostra: os montes de cadáveres anônimos; os corpos nus que Saul e os outros da equipe especial arrastam atrás de si para retirá-los da câmaras de gás e dos crematórios; as montanhas de cinzas que os sobreviventes de Auschwitz têm que despejar no rio".

Estrelas francesas e um fiasco suicida

Um americano, um grego e um húngaro foram os diretores mais discutidos no primeiro tempo do Festival de Cannes. Em contrapartida, outro concorrente americano à Palma de Ouro, o veterano do cinema de autor Gus van Sant, decepcionou com sua fantasia suicida The sea ot trees, unanimemente declarado o primeiro fiasco da mostra competitiva.

O francês La loi du marché (A lei do mercado), de Stéphane Brizé, teve melhor desempenho. Ele acompanha o declínio profissional de um homem de 51 anos através de uma série de empregos subqualificados. Especialmente louvada foi a atuação de Vincent Lindon, que se revela, assim, forte concorrente ao prêmio de melhor ator.

Filmfestival Cannes 2015 THE MEASURE OF A MAN von Stéphane BRIZÉ
Vincent Lindon impressionou com sua atuação em "A lei do mercado"Foto: Festival de Cannes 2015

Outra garantia de alto nível de interpretação na 68ª edição do festival é a atriz francesa Isabelle Huppert. Em Louder than bombs (Mais alto do que as bombas), ela representa uma fotógrafa de guerra que é morta durante o exercício da profissão.

O que isso representa para sua família? Como lidar com a perda da esposa e mãe? Essas são algumas das questões que o diretor norueguês Joachim Trier propõe em seu respeitável drama sobre um tema profundo, centrado nos atores, entre eles Gabriel Byrne e David Strathairn.

Com concorrentes sólidos, ainda não houve a esperada revelação estrondosa da mostra competitiva. Cabe ver que surpresas trará a segunda metade do Festival de Cinema de Cannes de 2015.