Impasse nuclear sem perspectiva de resolução
24 de novembro de 2014O programa nuclear iraniano teve início na década de 1970, ainda sob o regime do xá Mohammad Reza Pahlavi. Na época, os Estados Unidos aconselhavam Teerã a usar a energia nuclear, apesar das grandes reservas de petróleo e gás do país. Em 1967, entrou em funcionamento o primeiro reator iraniano. As primeiras grandes instalações foram construídas com a ajuda da Alemanha e da França. A Revolução Islâmica no país, em 1979, deu fim a todo envolvimento ocidental.
Em 2002, o programa nuclear iraniano chamou a atenção da comunidade internacional. A Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) divulgou informações de inteligência sobre as instalações de enriquecimento de urânio em Natanz e sobre a usina de água pesada em Arak. Pouco tempo depois, os inspetores da agência sediada em Viena encontraram vestígios de urânio enriquecido, o que desencadeou uma crise política.
O Reino Unido, França e Alemanha iniciaram conversações com Teerã, que prometeu suspender suas atividades. Em contrapartida, os europeus acenaram com facilidades comerciais. O acordo durou apenas pouco tempo: já em 2004, o governo iraniano se negava a fornecer informações ou a permitir inspeções por parte da AIEA.
Linha-dura levou Irã a isolamento
A eleição de Mahmud Ahmadinejad como presidente, em 2005, acirrou ainda mais a situação. O Irã reivindicava seu direito ao uso pacífico da energia nuclear e ao intercâmbio de expertise e materiais, da mesma forma que outros países. Excluído pelos EUA dessa transferência tecnológica, o regime iraniano obteve planos de construção com engenheiros como Abdul Qadir Khan, conhecido como o pai da bomba atômica paquistanesa.
Nesse mesmo ano, o aiatolá Khamenei, líder espiritual iraniano, emitiu uma fatwa(sentença religiosa), proibindo a produção, posse e uso de armas nucleares. Mesmo assim, Ahmadinejad partiu para o confronto: em 2006 retirou da usina de enriquecimento de urânio de Natanz o selo de controle da agência de energia nuclear. Além disso, declarou que, pela primeira vez, seu país havia concluído o ciclo de enriquecimento de urânio e produzido material físsil.
A AIEA finalmente encaminhou a questão ao Conselho de Segurança das Nações Unidas, pois o Irã se recusava terminantemente a permitir inspeções abrangentes. Em dezembro de 2006 aprovaram-se as primeiras sanções em Nova York, posteriormente acirradas pela União Europeia. A lista incluía proibição de viagens, embargo de armas e de material para produção nuclear e de telecomunicações, assim como investimentos na indústria de petróleo e gás. Subvenções diretas também ficaram interditas.
Até o final de 2008, a ONU aprovou, ao todo, cinco resoluções instando o Irã a cessar suas atividades nucleares e a permitir fiscalizações. Teerã ignorou todas e deu continuidade a seu programa nuclear.
A notícia da construção da instalação de enriquecimento de urânio de Fordow colocou novamente a comunidade internacional em alerta: o complexo próximo à cidade sagrada de Qom foi construído bem abaixo da terra e está protegido contra ataques militares. Motivo do alarme foi Israel já ter bombardeado, na época, uma usina de superfície síria e outra iraquiana. Mais uma vez a AIEA exigiu a concessão de livre acesso a seus inspetores, como também a suspensão dos trabalhos em Fordow.
Sanções mais duras
Negociações esporádicas com a República Islâmica do Irã foram então conduzidas pelo grupo UE3+3, formado pelos países fundadores da comunidade europeia, mais três membros permanentes do Conselho de Segurança, EUA, Rússia e China (esse grupo também é chamado de G5+1). No entanto, os contatos permaneceram formais e totalmente sem êxito. Nessa época, Israel ameaçou várias vezes um ataque militar às instalações nucleares iranianas.
Em 2012, as Nações Unidas aprovaram duas outras resoluções e sanções adicionais contra a indústria petrolífera e o setor financeiro do país. O Ocidente exigia o fechamento de Fordow, mas o Irã não cedeu. Em consequência, entraram em vigor ainda mais restrições: para o tráfego de dados bancários, comércio de commodities, exportação de gás, navegação e transporte de carga. Isso basicamente isolou o Irã do intercâmbio internacional.
Somente após a eleição do presidente Hassan Rohani, em meados de 2013, o processo de negociações voltou a funcionar. Àquela altura, no entanto, estava claro que a boa opção defendida pelo UE3+3 não estava mais disponível: nos oito anos do governo Ahmadinejad, o número de centrífugas para o enriquecimento de urânio foi ampliado de 100 para 19 mil.
Situação econômica ruim forçou mudanças
Também houve disputa quanto à capacidade de Teerã de enriquecer urânio a 20%, considerado um marco decisivo para a produção de material bélico. Hoje, os especialistas acreditam que o país pode construir uma bomba atômica num prazo de três meses. Contudo os EUA pretendem reduzir a quantidade de material físsil no Irã a tal ponto, que esse prazo se estenda a um ano.
O presidente Rohani insta a um acordo, pois deseja uma suspensão das sanções. A economia iraniana está arrasada, paira sobre o país a ameaça de falência estatal. Em novembro de 2013 assinou-se em Genebra um acordo de transição, propondo um cronograma para a continuação das negociações: os iranianos receberam um prazo de seis meses para suspender o enriquecimento de urânio. Nesse período, pretendia-se chegar a um acordo excluindo o uso da energia nuclear para fins militares no Irã e permitindo a suspensão das sanções.
Como sinal de boa vontade, a União Europeia suspendeu parte das sanções. Na ocasião houve também contato direto entre o presidente americano, Barack Obama, e a liderança iraniana. O presidente Rohani insiste que quer melhorar as relações com o Ocidente, mas enfrenta a resistência dos linha-dura em seu país. E a última palavra está com o aiatolá Khamenei, líder espiritual e governante tácito do Irã.