Impasse político joga Grécia em novo período de instabilidade
29 de dezembro de 2014Apesar da coalizão de centro-esquerda ter mobilizado todas as suas forças, sob a liderança do premiê conservador Antonis Samaras, seu candidato Stavros Dimas não conseguiu, mesmo numa terceira rodada de votação, a maioria necessária de 180 dos 300 votos do Parlamento para se eleger presidente.
Minutos mais tarde, Samaras já anunciava novas eleições parlamentares, marcadas para o dia 25 de janeiro. E o que era para ser um mero trâmite parlamentar acabou jogando o país na maior turbulência política desde o início da crise financeira.
"Não se pode perder tempo agora. Nas próximas semanas a população vai conhecer toda a verdade e os verdadeiros interesses daqueles que querem lançar nosso país em uma aventura", alertou o chefe de governo, desafiando a coligação de esquerda Syriza.
O Syriza lidera as intenções de voto e defende o rompimento dos contratos com credores internacionais. Para ele, é possível para o país seguir adiante sem a troika – o grupo de credores formado por Banco Central Europeu, Comissão Europeia e Fundo Monetário Internacional.
"A partir de hoje, a austeridade é coisa do passado. Nosso país não é um protetorado, a Grécia pode viver sem o pacote de ajuda financeira", afirmou o deputado Panagiotis Lafazanis, do Syriza.
Logo após a confirmação do impasse, o FMI anunciou a suspensão da ajuda financeira à Grécia até que um novo presidente seja eleito. Para a deputada conservadora e ex-ministra do Exterior Dora Bakoyannis, o clima da campanha deverá ser acalorado. Ela diz que a oposição forçou as eleições na pior época para a economia grega.
"O Syriza acredita que vai conquistar a maioria, mas eles estão enganados. A Nova Democracia (o partido governista) vai se dirigir à maioria democrática desse país e vai vencer as eleições parlamentares", declarou.
A luta pela maioria no Parlamento
De acordo com uma pesquisa publicada no domingo, a esquerda está à frente do Nova Democracia, de Samaras, por apenas 2,4 pontos. Segundo a sondagem, o grupo de extrema direita Gregos Independentes não deverá conseguir retornar ao Parlamento, o que pode deixar Samaras mais próximo de obter a maioria parlamentar.
Os analistas concordam que, em qualquer cenário, a Grécia deverá passar ainda por um longo período de instabilidade política. Mesmo se o Syriza vencer pela primeira vez as eleições, ainda não deverá ter a maioria plena no Parlamento de Atenas.
"No momento, tanto o Syriza quanto o Nova Democracia estão longe de obter a maioria. Mas pode-se presumir que o clima das próximas eleições será fortemente polarizado. É bastante realista que nossa coalizão de esquerda consiga mais de 35% dos votos", afirma o deputado europeu Giorgos Katrougalos.
Se isso não ocorrer, os eleitores terão de voltar novamente às urnas. Mas, na opinião do deputado esquerdista, uma segunda rodada de votação dentro de poucas semanas seria mais positiva do que um governo instável no país.
O analista político Dimitris Tsiodras analisa de outra forma. Ele garante que, seja qual for o partido vencedor nas eleições parlamentares, ele não terá a maioria absoluta no Parlamento. Dessa forma, afirma, nenhum governo terá forças para realizar mudanças políticas fundamentais, como o término dos contratos com os credores internacionais.
Bolsa de Atenas despenca
Após o fracasso das eleições presidenciais, as ações na bolsa de valores de Atenas despencaram nesta segunda-feira mais de 6%. O valor de todas as empresas cotadas, inclusive os bancos, não passa hoje de 66 milhões de euros.
Em meio à instabilidade política e financeira, a coalizão de esquerda tenta agora ganhar tempo. "Caso a Syriza saia vencedora, não se deve seriamente esperar que ela vá concluir as negociações com os credores internacionais dentro de uma semana. Será necessária uma extensão de prazo", alerta Katrougalos.
Até meados de 2015, a Grécia deve honrar os contratos junto aos credores, hoje avaliados em mais de 11 bilhões de euros. Ainda não se sabe, porém, de onde virá esse dinheiro.
"A maior parte do dinheiro vai para a conta dos europeus. Por isso, será provavelmente possível encontrar uma solução política e estender os prazos de pagamento", aposta Katrougalos.