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Impasse nos EUA abre espaço para aspirantes à Casa Branca

Ben Knight (md)2 de outubro de 2013

Só um hábil negociador poderia reaproximar republicanos e democratas, avalia especialista. A recompensa por esse serviço seria o fortalecimento do próprio nome na disputa pela presidência do país.

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Foto: Reuters

A mídia do mundo inteiro reagiu com certo pânico nesta terça-feira (1º/10), quando o governo dos EUA fechou serviços públicos pela primeira vez em 17 anos, após o Congresso não ter conseguido superar o impasse entre democratas e republicanos e entrar num acordo sobre um projeto de orçamento para o recém-iniciado ano fiscal de 2014.

A revista alemã Der Spiegel escreveu, em sua versão digital, que "uma superpotência paralisou a si mesma", enquanto o jornal britânico The Guardian descreveu as últimas horas de negociações como "bizarras e imprevisíveis".

Aparentemente convencido de que os republicanos estavam blefando, o governo dos EUA só começou a se preparar para a paralisação 48 horas antes do fechamento. Mas uma certa displicência de ambos os lados também pode ter agravado o problema. Afinal, essas tensas negociações sobre o orçamento já se tornaram um ritual anual no legislativo do país.

Impasse inevitável

Enquanto a Casa Branca ainda confiava num acordo de última hora, alguns observadores externos já previam o que iria acontecer. "Era meio que inevitável que isso acontecesse. Nenhum dos dois lados tinha qualquer interesse em achar uma solução", avalia Vincent Michelot, professor de política norte-americana no Instituto de Estudos Políticos de Lyon, na França.

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Turistas estão impedidos de visitar atrações públicas como a Estátua da LiberdadeFoto: Reuters

"Os republicanos precisavam demonstrar ser capazes de defender seus princípios. Eles realmente queriam deixar claro que o governo é fraco e mostrar que 'desligá-lo' não seria algo tão ruim assim."

Os democratas também não tinham razão alguma para recuar, avalia Michelot. "A estratégia do presidente Obama é tornar os republicanos responsáveis ​​por uma desaceleração da economia, responsáveis por fazerem o governo refém de um grupo relativamente pequeno de pessoas", conclui Michelot.

De certa forma, então, o fechamento foi um prólogo necessário às reais negociações. "Os dois partidos estão muito, muito distantes, de modo que ninguém sabe o que poderia, de repente, trazê-los a um consenso", acrescenta Michelot.

Conversas reais começam agora

Parece difícil ver de onde virá esse acordo, embora Michelot tenha uma sugestão: uma iniciativa vinda de uma personalidade altamente respeitada. Ela poderia vir de alguém como o republicano Mitt Romney, que não tem mais ambições presidenciais a arriscar ou, invertendo o raciocínio, justamente de políticos que almejam se candidatar à presidência e veriam aí uma plataforma para firmar o próprio nome.

"Há um risco, mas também há uma recompensa potencial", avalia Michelot. "Há o risco de ficar marcado como alguém que entrou em acordo com o partido adversário. Mas a recompensa é ser a pessoa que conseguiu aproximar os dois lados. Neste momento, 90% dos americanos têm uma imagem negativa do Congresso. Alguém que torne o Congresso ao menos um pouco mais funcional vai se tornar um herói dentro do próprio partido e aos olhos de um grande número de americanos."

Em outras palavras, este seria o momento ideal para um aspirante à candidatura presidencial contribuir para mudar o modelo de debate político nos EUA. "É uma situação tão complexa que, só por meio de suas habilidades interpessoais, uma pessoa ou um grupo de pessoas poderá oferecer uma solução."

Possíveis consequências globais

Quanto mais o impasse durar, mais danos podem ser causados à economia. Analistas da IHS Global Insight, renomada empresa de previsões econômicas, calcularam que o impasse vai custar diariamente 300 milhões de dólares aos EUA. Isso pode ter consequências para o resto do mundo, conforme especularam muitos jornais europeus nesta terça-feira.

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Segurança checa entrada interditada do Museu do Ar e do Espaço do Instituto SmithsonianoFoto: picture alliance/ZUMA Press

O economista Nils Jannsen, do instituto econômico IfW, de Kiel, disse não acreditar que coisas vão se tornar tão drásticas, pelo menos por enquanto. "É um pouco exagerado dizer que isso afetará toda a economia mundial, mas isso depende um pouco de quanto tempo essa situação vai durar", ressaltou. "Se perdurar por três ou mais semanas, então é claro que os efeitos podem se tornar mais ameaçadores."

Jannsen avalia ser improvável que a paralisação dure tanto tempo, já que a pressão sobre os dois partidos deve crescer a cada dia.

Mas o prazo mais assustador está se aproximando: o 17 de outubro, quando os EUA devem atingir seu limite de endividamento. A menos que uma legislação paliativa seja aprovada até então, o governo estará impedido de pegar novos empréstimos. Isso significa que o Tesouro dos EUA ficará sem poder legal para pegar mais dinheiro para fechar o buraco da diferença entre o que gasta e o que arrecada.

Ao contrário da paralisação do setor público, isso é algo que nunca aconteceu. Por isso, as consequências são imprevisíveis, e os mercados deverão ficar mais nervosos. "O nervosismo dos mercados financeiros provavelmente aumentará quando o prazo estiver se aproximando", prevê Jannsen. "E a incerteza dos investidores em empresas norte-americanas também aumentará. Isso certamente poderá repercutir na economia mundial."