Igreja obstrui pista da Airbus
26 de novembro de 2004Depois de uma semana de brigas sobre o projeto de ampliação do aeroporto da fábrica da Airbus, em Finkenwerde, o prefeito de Hamburgo, Ole von Beust (CDU), respira aliviado. Os planos da obra, que envolve a geração de quatro mil novos postos de trabalho indiretos só no próximo ano, continuam de pé. Diante da resistência da igreja local, a Airbus prorrogou até 2006 o prazo para tomar uma decisão sobre o investimento.
Sem a ampliação da pista de decolagem, a montagem do gigantesco Airbus A380 não poderá ser concluída em Hamburgo, o que impediria a região de acompanhar a evolução da promissora indústria aeroespacial. A nova pista destina-se principalmente à decolagem das grandes aeronaves, após a montagem final em Hamburgo. Só no planejado centro de despacho de aviões seriam criados 100 empregos diretos.
Protesto nada cristão
No meio da semana, os esforços do Senado da Cidade-Estado para salvar o projeto estavam prestes a fracassar. A comunidade evangélica do povoado de Neuenfelde, interrompeu as negociações sobre a desapropriação do terreno da igreja, situado à beira da pista. "Essa atitude não me parece nada cristã", reagiu irritado von Beust.
O prefeito ainda acredita numa "conversão" dos evangélicos, que se mostram dispostos a impedir a obra a qualquer preço. Até agora, nem os argumentos de um mediador neutro ou as ofertas de indenização e promessas de melhorias para o povoado foram capazes de convencer os moradores. "Não há o que negociar, se a Airbus não se move", diz Gabi Quast, porta-voz dos adversários da pista.
"Santa" paciência
Tanto o prefeito de Hamburgo quanto o governo federal alemão temem um arranhão na imagem da Alemanha como país atraente para novos investimentos. A direção da Airbus, no entanto, tem paciência e concedeu um prazo de 18 meses para a prefeitura desapropriar os terrenos. A previsão é iniciar as obras, no mais tardar, em 2006. Até meados de 2007, os aviões A380 receberão a montagem final na fábrica da empresa em Toulouse, na França.
Segundo o diretor presidente da Airbus, Gerhard Puttfarken, apesar da custosa mudança do cronograma, a companhia mantém seus planos de investir em Hamburgo. "As grandes fábricas do grupo precisam ter condições de despachar os aviões produzidos", disse.
Von Beust e Puttfarken deixaram claro que não estão a fim de perder essa briga para "pequenos" adversários. A decisão final caberá ao Tribunal de Justiça de Hamburgo, que em agosto passado, mandou paralisar as obras. A primeira tentativa de fechar um acordo entre as partes conflitantes fracassou. Falta desapropriar três terrenos, entre eles o da igreja, para viabilizar um projeto que, na opinião da prefeitura, serve ao bem comum. "E essas desapropriações vão fracassar", apostam os evangélicos.