Hooligans podem ter prisão preventiva na Copa
30 de março de 2005Os atos de violência provocados por torcedores alemães durante o amistoso entre Alemanha e Eslovênia, no último sábado (26/03), em Celje, provavelmente terão conseqüências para a Copa 2006. Com o objetivo de impedir badernas semelhantes durante o Mundial, a Alemanha planeja um esquema de segurança que inclui, em último caso, a prisão preventiva de torcedores considerados violentos.
Há meses, os governos federal e estaduais da Alemanha planejam junto com o Comitê Organizador (CO) da Copa as medidas de segurança do torneio. "A análise dos excessos ocorridos na Eslovênia será considerada no plano nacional de segurança para a Copa 2006", declarou um porta-voz do governo em Berlim. Esse plano, a ser aprovado em maio próximo, deverá ser testado já durante a Copa das Confederações, de 15 a 29 de junho de 2005.
Da advertência à prisão
Estão previstos três tipos de medidas contra os hooligans. Primeiro, torcedores potencialmente violentos serão visitados pela polícia em seu local de trabalho, no colégio ou em casa, recebendo um sinal de que não são desejados nos estádios. Caso ignorem essa advertência, podem ser obrigados a comparecer até três vezes ao dia a um posto policial próximo de casa durante a Copa. E, se esses dois passos não funcionarem, os hooligans que se mostrarem dispostos a ir aos estádios podem ser presos preventivamente por ordem judicial.
Além disso, tanto para a Copa das Confederações, já agora em junho, quanto para o Mundial de 2006, serão criadas "áreas interditadas" e realizados controles fora dos "anéis de segurança" ao redor dos estádios. Já o sistema de ingressos eletrônicos, que contêm um chip com os dados pessoais do portador, primeiramente, será testado no torneio de junho próximo apenas no estádio de Frankfurt.
"A probabilidade de que as cenas de pancadaria vistas em Celje se repitam em estádios alemães durante a Copa é quase zero", assegurou o encarregado de assuntos de segurança da Federação Alemã de Futebol (DFB), Alfred Sengle. "As badernas serão inibidas já às vésperas dos jogos", garantiu.
"100% de segurança é impossível"
Fora dos estádios, no entanto, não será fácil manter os hooligans sob controle. "Isso vai depender, sobretudo, de uma ação coordenada das diferentes autoridades de segurança", disse o porta-voz do CO da Copa, Gerd Graus. "Só podemos minimizar os riscos, mas, apesar de todas as providências, é impossível garantir 100% de segurança", acrescentou.
A idéia é intensificar a presença policial nas sedes do Mundial para fechar o cerco os torcedores considerados violentos. Os cerca de sete mil hooligans cadastrados na Alemanha deverão apresentar-se em determinados postos policiais durante a Copa. Hooligans não-europeus serão barrados nas fronteiras da UE.
Violência no exterior
Vigiados em casa, os hooligans alemães mostraram seu poder destruidor sobretudo no exterior nos últimos anos. O caso mais grave ocorreu durante a Copa de 1998, na cidade de Lens, na França, quando espancaram o policial francês Daniel Nivel, que sofreu lesões cerebrais permanentes e permaneceu durante meses em coma.
Na ação mais violenta dos últimos cinco anos, no último sábado, cerca de 200 hooligans alemães quebraram lojas e carros em Celje, antes do amistoso entre a Eslovênia e a Alemanha, que venceu por 1 a 0. Durante o jogo, destruíram assentos, jogaram sinalizadores no campo e entraram em confronto com a polícia eslovena. Dois policiais e um torcedor ficaram feridos. Durante a baderna, 45 alemães chegaram a ser presos, cinco deles respondem a processo.
"A polícia velará para que esses bandos de provocadores não estraguem a festa mais bonita do futebol mundial, a Copa 2006", garantiu o ministro alemão do Interior, Otto Schily, ao jornal Bild, na segunda-feira (28/03). "Esses baderneiros são uma mancha para nossa honra. Mas não representam a Alemanha. Nossos torcedores são pacíficos e apaixonados", afirmou.
Pedido de desculpas
A Federação Alemã de Futebol (DFB) pediu desculpas à Eslovênia pelo comportamento dos torcedores. "Eles não fizeram parte do grupo de 750 pessoas que adquiriram seus ingressos através da DFB. Entre 400 e 500 torcedores obtiveram os ingressos diretamente na bilheteria do estádio. Afinal, a Eslovênia é um país da UE, com fronteiras abertas", explicou Sengle.
"Os baderneiros procuram países onde sabem que não vão ser levados a sério. Os eslovenos, que haviam sido avisados da vinda dos hooligans, subestimaram a situação", disse o presidente do Comitê Organizador da Copa 2006, Franz Beckenbauer. "Precisamos de melhor cooperação internacional. Isso não vai acontecer na Alemanha", afirmou.