Homenagem na Alemanha, críticas em Bruxelas
29 de maio de 2003No próximo dia 20 de junho, durante a reunião de cúpula na Grécia, será apresentado aos chefes de Estado e de governo o projeto de constituição que facilitará a administração da comunidade quando esta tiver 25 membros, no ano que vem.
Nesta sexta-feira e no sábado, os 105 delegados da Convenção Européia apreciam, em Bruxelas, a sugestão de constituição apresentada pelo ex-presidente francês, Valéry Giscard d'Estaing, que preside os trabalhos. Após um ano e meio de preparativos e a três semanas do objetivo, ainda resta muito o que fazer. Há até os que acreditam estar-se mais longe do que nunca desta meta.
Visionário arrogante
Ao ser homenageado com o Prêmio Internacional Carlos Magno, uma das mais altas distinções na Europa, nesta quinta-feira na cidade alemã de Aachen, Giscard d'Estaing rebateu as críticas de que estaria defendendo apenas os interesses das nações grandes. Enquanto alguns o saúdam como "visionário europeu", outros o acusam de arbitrário e arrogante. Seu objetivo é uma constituição de consenso, que atenda a todos os interesses, rebate o ex-presidente francês.
Em seu pronunciamento na cerimônia de premiação, o presidente alemão exortou a Convenção a zelar para que a constituição permita um convívio harmonioso entre nações grandes e pequenas.
"Existe a preocupação de que uma constituição destas possa desequilibrar as relações de poder e ameaçar a identidade de cada país. A Europa só dará certo se houver equilíbrio de interesses entre países grandes, médios e pequenos", advertiu Johannes Rau.
Giscard d'Estaing, de 77 anos, foi homenageado pelo seu engajamento europeu e, de maneira especial, pelo seu papel histórico na preparação de uma Constituição para a União Européia. O Prêmio Carlos Magno é concedido desde 1950 a pessoas ou instituições que se destacaram em prol da unificação européia.
Críticas duras de Romano Prodi
O presidente da Comissão Européia fez duras críticas às sugestões. "Apesar de todo o trabalho que investimos, faltam visão e ambição ao texto. Em alguns trechos, os planos da presidência são inclusive "um passo para trás", disse Romano Prodi. Ele apelou aos delegados para que não deixem de fazer alterações no texto. "Não podemos nos tornar reféns de um papel que não apresenta soluções, mas ameaça paralisar a Europa", salientou o italiano.
Os dois pontos mais polêmicos da sugestão referem-se a à presidência e ao número de comissários. Enquanto D'Estaing defende a eleição de um presidente para o Conselho Europeu, com um mandato de dois anos e meio, as nações menores insistem na manutenção do atual sistema rotativo semestral.
Elas também querem que cada país continue enviando um comissário a Bruxelas, enquanto a presidência da Convenção pretende reduzir para 15 o número total de comissários depois da ampliação da União Européia para 25 membros, em maio do ano que vem.