História em notas musicais: 250 anos da editora Schott
Desde sua fundação, em 1770, a casa alemã esteve de olho na contemporaneidade. Seu catálogo inclui hoje a novíssima geração de compositores, passa por Orff e Hindemith, mas começou com Wagner, Beethoven e Mozart.
Dois séculos e meio de música impressa
Fundada em 1770 pelo clarinetista e gravador Bernhard Schott, a editora tem até hoje sede num prédio tombado de 1792, em Mainz. Em 2006, passou a se chamar Schott Music, e sua linha é francamente internacional, incluindo em seu catálogo alguns dos mais destacados compositores contemporâneos.
Faro infalível
Desde o início, Schott provou ter não só tino comercial, como excelente faro musical: seus primeiros lançamentos foram da autoria de ninguém menos do que Wolfgang Amadeus Mozart. Na foto, uma página da "Sonata para piano em lá maior, KV 331" do compositor austríaco, em edição histórica.
De trás para a frente
Outra decisão esperta de Bernhard Schott foi optar pela litografia. Na técnica recém-inventada, os caracteres eram traçados com um lápis gorduroso sobre pedra calcária. Mais adequada à música do que a tipografia e menos trabalhosa do que a gravura em cobre, ela permitia grandes tiragens, com qualidade constante. Na foto, matriz litográfica de um manual de trombone.
Por acaso, Beethoven
Os compositores que trabalhavam com a empresa apreciavam sua rapidez e confiabilidade. Mas sorte também teve um papel na trajetória de êxito: para sua revista "Cäcilia", a Schott procurava quem escrevesse sobre a vida musical da época. De Ludwig van Beethoven, não conseguiram nenhum artigo, mas ele precisava justamente de uma editora para sua "Missa Solene". Mais tarde viria a "Nona sinfonia".
Nas últimas palavras do gênio
Beethoven era sabidamente amigo de um bom copo. Assim, além de imprimir sua música, a editora o abastecia regularmente com a produção da região vinícola em torno de Mainz. Consta que, em suas últimas palavras, o gênio tinha em mente essa colaboração: no leito de morte, ele esperava uma entrega da Schott de 12 garrafas de vinho. Quando finalmente chegou, lamentou: "Pena, pena, tarde demais."
Wagner em Londres
Outro músico lucrativo na história da Schott foi Richard Wagner, que procurou a editora para a publicação de "O anel do Nibelungo" – e levou consigo outros compositores de seu círculo de influência. A Wagner House, na Regent Street, era filial da editora em Londres, e se tornou a loja musical oficial da rainha Vitória e de toda a família real britânica.
Música para os nazistas
Desde o início, a Schott cultivou a filosofia de cuidar de seus compositores vivos. Durante o nacional-socialismo e a caça à "arte degenerada", a tarefa não era fácil. Por um lado, ela tentou seguir apoiando os artistas que tinham sido proibidos ou ido para o exílio. Por outro, porém, publicou um álbum de canções para os soldados nazistas. "Um ponto baixo da nossa história", admite a editora.
Destruição na Segunda Guerra
Como é inevitável, em seus 250 anos de história, a Schott também atravessou severos "baixos". Em épocas de crise, como na pandemia de covid-19, comprar música não é exatamente uma prioridade para a maioria dos seres humanos. Na Segunda Guerra Mundial, sua sede em Mainz foi totalmente arrasada. Até hoje se veem marcas das bombas incendiárias nas tábuas do piso.
Pioneira da era digital
Em 1983, Peter Hanser-Strecker assumiu a presidência da Schott, dando-lhe novo impulso, não só musical, como tecnológico. No fim da década de 80, com o programa Score, ela foi pioneira na edição digital de partituras. Mais tarde, seria também a primeira editora musical a abrir uma loja online.
Partitura ou pintura?
Sempre com um olho na tradição e outro na inovação, a Schott por vezes expandiu os limites do que seja impressão musical. É o caso da espetacular "partitura aural" de "Artikulation", composta por György Ligeti em 1958. Para comunicar os eventos da peça de música eletroacústica, o designer gráfico Rainer Wehinger utilizou cores e formas, facilitando a orientação na complexa trajetória sonora.