Estratégia no Afeganistão
25 de dezembro de 2009Há 30 anos, na noite de 25 para 26 de dezembro de 1979, os soviéticos invadiram o Afeganistão em um esforço para estabilizar o então governo comunista. Dez anos mais tarde, os rebeldes islâmicos mujahedins se uniram para expulsar os soviéticos do país. Em 2001, uma missão liderada por Estados Unidos e Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) derrubou o regime talibã no Afeganistão, mas suas tropas não concluíram a missão até hoje.
Mais de 110 mil soldados estrangeiros se encontram naquele país asiático, no âmbito da missão dirigida pela Otan e pelos EUA para lutar contra os talibãs destituídos do poder. O comprometimento de Washington e de outros Estados, de intensificar ainda mais seu engajamento no país em 2010, levanta a questão se o Ocidente está cometendo os mesmos erros da União Soviética.
Munir Ahmed nasceu em Cabul, a capital afegã, e tinha dois anos de idade quando as tropas soviéticas começaram a invasão a seu país. Hoje, ele evoca sua infância como uma série de más recordações. "Todos os dias havia relatos sobre mortos e massacres", conta Ahmed, que responsabiliza os soviéticos pela má situação de seu país hoje.
"Naquela época, não havia ataques suicidas", disse Ahmed. "Hoje, quando se caminha pela rua, pode ser que alguém ao seu lado cometa um atentado suicida. Naquela época, ao menos se podia escutar os mísseis voando pelo ar, para podermos nos esconder em qualquer lugar. Ao menos isso era melhor com os russos."
Não há vencedores no Afeganistão
Foram necessários mais de nove anos, mas com a ajuda do Ocidente os mujahedins conseguiram expulsar os soviéticos do Afeganistão. Hoje, o Ocidente parece ser o responsável por estar perdendo esta luta. "Não há como ganhar nenhuma guerra no Afeganistão. Quantos exemplos mais a humanidade precisa para entender isso?", questiona o embaixador da Rússia no Afeganistão, Andrei Avetisyan.
Ele acredita que as tropas lideradas pela Otan no Afeganistão estão cometendo os mesmos erros dos soviéticos nos anos 1980, e que o Ocidente não está desempenhando à altura a única tarefa realmente fundamental: ajudar na reconstrução civil. Pois parte do que foi destruído durante o conflito com os soviéticos continua por terra.
"Sem isso, as lutas aqui prosseguirão por anos ou décadas. Sem êxito. Não é como na Segunda Guerra, quando em algum momento se pôde anunciar o 'dia da vitória' em Berlim. Isso não acontecerá no Afeganistão. Algum dia, as tropas internacionais irão embora e a luta deverá continuar", adverte o embaixador russo.
Movimento guerrilheiro contra ocupação estrangeira
Hoje, os talibãs reivindicam para si o nome adotado pelos que resistiram aos soviéticos: mujahedin, "soldados de Deus". Seu argumento é que também estão lutando contra a ocupação estrangeira. Essa ideia ganha força à medida que aumenta o número de mortos entre a população civil.
"Na época, foi um país que nos invadiu. Agora é um grupo do mundo inteiro. Também como os europeus agora, eles [os soviéticos] haviam vindo nos salvar", diz o ex-mujahedin Waheed Muzhda, hoje escritor. Segundo ele, o êxito da resistência dos rebeldes contra a União Soviética se deve a sua natureza de guerrilha.
"Os soviéticos lutaram contra a resistência nas regiões rurais", diz. "E isto está acontecendo também hoje. Quando os Estados Unidos chegaram aqui, não entenderam a necessidade de conquistar as pessoas nos lugarejos. Trata-se hoje de uma guerra de guerrilha, exatamente como a enfrentada pelos soviéticos".
As circunstâncias levam a crer que as atuais forças estrangeiras no Afeganistão permanecerão no país por mais tempo do que os soviéticos. A maioria das nações que participam da missão, incluindo os EUA e a Alemanha, admite haver planos para a retirada de suas tropas do país, mas não foram tomadas decisões concretas. Somente quando as tropas da Otan finalmente deixarem o país é que ficará claro se os erros da campanha soviética poderiam ter sido evitados.
Autor: Kai Küstner (rw)
Revisão: Augusto Valente