DW Antena
29 de março de 2007A maioria dos alemães conheceu Herbert Grönemeyer em O barco – Inferno no mar de 1981. O filme de Wolfgang Petersen conta a odisséia de um submarino alemão da Segunda Guerra Mundial com uma clara mensagem antibelicista. Divertimento politicamente engajado, poderia-se dizer, descrição que aliás cabe como uma luva à sua carreira de músico.
Alguns dados sobre o artista de Bochum são tão impressionantes, que alguém, que nunca ouviu falar nele, se pergunta como isso pôde acontecer. A começar pelo filme, que foi um sucesso internacional.
Como músico, Grönemeyer é dos mais versáteis e bem-sucedidos: um ícone nacional há quase 30 anos, com mais de dez milhões de álbuns vendidos, 25 discos de platina na Alemanha, na Suíça e na Áustria e mais de três milhões de ingressos vendidos para shows que invariavelmente lotam estádios. Em 1994, foi o primeiro artista cuja língua materna não é o inglês a gravar uma edição do programa acústico MTV Unplugged.
A morte de seu irmão e de sua mulher numa mesma semana de novembro de 1998 o manteve afastado por certo tempo. Mas o tão aguardado retorno em agosto de 2002 foi um sucesso sensacional: tanto o álbum quanto o single homônimo Mensch, com que repartiu com o público sua experiência catártica, lideraram a parada e lhe renderam cinco discos de platina. Em 2006, gravou o hino da Copa do Mundo de futebol, a faixa multilíngüe Zeit, dass sich was dreht/Celebrate the day.
E agora?
Agora ele manda seu 12º álbum direto de Londres, onde vive. Musicalmente, o disco – intitulado 12 – não é nenhuma revelação, embora seja perfeitamente produzido. Porém, mais uma vez bastou para que álbum e single entrassem direto no primeiro lugar da parada alemã.
A crítica o recebeu bem. "Ele [Grönemeyer] lutou muito por sua carreira e, ao longo de décadas, obteve o respeito de várias gerações e grupos sociais com a imagem do herói de pés no chão, que age como o filho do vizinho, mesmo no telão de um estádio", reconhece o jornal Frankfurter Allgemeine. Para o Süddeutsche Zeitung, ele soa "mais moderno do que nunca".
No primeiro single Lied 1 - Stück vom Himmel (Canção 1 – Pedaço do céu) – as faixas, por sinal, são todas numeradas –, Grönemeyer aborda "o fato de todos, de repente, se tornarem religiosos".
"As pessoas tentam definir a si mesmas através da religião. A guerra no Iraque, para mim, é em parte uma guerra religiosa. Queria alertar para isso. Só podemos salvar o mundo juntos. Nos aproximamos cada vez mais. Tudo o que acontece é automaticamente global, qualquer vírus, a pobreza, tudo", critica.
Redescobrindo a leveza
Mas, apesar da seriedade dos temas, certos críticos viram nas composições do novo disco a redescoberta da leveza. De fato, ele mesmo assume essa fonte de inspiração em Lied 2 – Kopf hoch, tanzen (Canção 2 – Cabeça para cima, dance), na qual reuniu reminiscências da new wave, sintetizadores e tal.
"Precisamos parar de ruminar, de dissecar tudo, já que a Alemanha é mesmo o país dos engenheiros. Simplesmente aproveitar o momento, se divertir. Por isso, levante a cabeça e dance. A gente não pode resolver todos os problemas do mundo mesmo."
Em Lied 4 –Marlene (Canção 4 – Marlene), Grönemeyer tentou mostrar que "há um jeito tipicamente alemão de compor canções. Quando escrevi esta música, usei Lili Marleen como referência. […] Queria que fosse uma faixa mais atmosférica, que falasse desse sentimento marcante que é a saudade. Como quando se perde alguém que gostaria que estivesse agora ao seu lado."
Neste álbum, Grönemeyer deixou de lado os arranjos rebuscados e as harmonias pesadas para compor um conjunto mais compacto e linear. "O álbum começa com uma faixa relativamente opulenta e termina com outra quase teatral. Entre elas, se passa um pequeno pedaço da vida."