Hepatite C, uma doença silenciosa
4 de agosto de 2014Maria, que não quis que seu sobrenome fosse publicado, já passou por várias experiências ruins quando descobriram que ela tem hepatite C. "As pessoas acham que já vão ser infectadas ao me dar a mão", diz. Heinrich também passou por situações parecidas e afirma que muitas pessoas têm ideias completamente falsas sobre a doença. "É melhor não ir almoçar com ele, depois ele espirra na minha sopa e eu vou ficar doente", exemplifica.
Estima-se que somente esse tipo de hepatite acometa cerca de 150 milhões de pessoas no mundo. No Brasil, mais de 82 mil casos da doença foram registrados entre 1999 e 2011. Para lutar contra esse e os outros quatro tipos da enfermidade, a Organização Mundial da Saúde (OMS) instituiu há quatro anos o Dia Mundial de Combate à Hepatite, que foi comemorado em 28 de julho.
Se, por um lado, ainda não haja uma vacina para o vírus da hepatite C, como há para os da A e da B, por outro a infecção não ocorre tão facilmente. O vírus é transmitido de pessoa para pessoa pelo sangue, por meio de feridas abertas ou transfusão.
A hepatite C foi descoberta somente em 1988. "Antigamente, quando o sangue não era testado para esse vírus, a transfusão sanguínea era uma das principais formas de contágio", afirma Jan Leidel, presidente da Comissão Permanente de Vacinação (Stiko, na sigla em alemão), em Berlim.
Em 2010, a OMS classificou a hepatite C como "problema de saúde de relevância global" e a colocou no mesmo patamar do HIV, da tuberculose e da malária.
Diagnose surpreende
O fígado é o principal afetado pela hepatite C. Ao contrário de outros órgãos, ele possui a capacidade de se recuperar bem de danos. Mas uma infecção crônica deixa vestígios.
Nos casos mais graves, ela pode resultar em cirrose hepática. As células do fígado são destruídas, e o órgão vital não consegue mais cumprir suas funções. As toxinas não são mais eliminadas e, em vez disso, são levadas para ttodo o corpo pela corrente sanguínea. Nutrientes também não são mais aproveitados corretamente. No fim, o órgão está tão debilitado que o paciente necessita de um transplante de fígado para sobreviver.
Com frequência, os portadores do vírus se queixam de cansaço, fadiga e, às vezes, dor nas articulações e fraqueza. Os sintomas não são específicos e podem indicar muitas outras doenças. Não há sinais de alerta claros, e poucos pacientes sentem dor, pois o fígado não dói.
Como o paciente não costuma sentir dor, os diagnósticos de hepatite C não são frequentes. "Esse órgão tem cinco vezes mais tecido nos seus 1,5 quilograma do que ele realmente precisa. Ou seja, o fígado só tem seu funcionamento afetado quando cerca de 60% ou 70% já foram destruídos. Quanto mais cedo a hepatite C for tratada, maiores são as chances de que não se torne crônica", afirma Stephan Dahl, especialista em fígado da Universidade de Düsseldorf.
Assim, a diagnose de hepatite C surpreende muitos pacientes que descobriram a doença por acaso, como Maria. "Eu contraí parasitas numa viagem ao exterior, eles estavam no estômago e no duodeno. Durante esses exames é que a hepatite C foi descoberta." Ela tem certeza que foi infectada pelo vírus durante uma operação.
Além da transfusão, antigamente, os instrumentos cirúrgicos não eram esterilizados de forma correta, o que causava infecções. Mas, segundo Leidel, isso mudou. Atualmente, a causa principal de contágio é o uso de drogas intravenosas, ou seja, a utilização conjunta de seringas.
Teoricamente, a transmissão também é possível pelo ato sexual, mas esse risco é muito baixo. Esse casos estão ligados principalmente a práticas sexuais que envolvem um alto risco de ferimento e, assim, de sangramento.
Novo tratamento
A hepatite C costuma ser tratada com uma combinação de dois medicamentos: a ribavirina, que inibe a multiplicação do vírus, e o interferon, uma proteína produzida por glóbulos brancos quando o organismo precisa combater infecções. O interferon é produzido artificialmente e administrado sob forma de injeção.
Entretanto, desde o início deste ano há novos medicamentos disponíveis no mercado, que podem ser ingeridos na forma de comprimidos e diminuem a duração do tratamento. A substância ativa da nova terapia é o sofosbuvir. Após 12 semanas, uma taxa de cura de 90% é alcançada.
Dahl mostra-se otimista. "As terapias estão cada vez melhores. Há 20 anos, apenas um em cada dez pacientes era curado. Hoje já são sete em cada dez. Em oito anos, poderemos curar nove em cada dez", afirma.
No entanto, o novo tratamento ainda não é acessível a toda população. Uma terapia de 24 semanas com a nova substância custa em torno de 120 mil euros.