"Havia gente morta por toda parte"
15 de março de 2019A pacata cidade de Christchurch, na Ilha Sul da Nova Zelândia, foi palco de massacres em mesquitas que deixaram ao menos 49 mortos nesta sexta-feira (15/03). O pior atentado terrorista da história do país resultou ainda em dezenas de feridos – cerca de 20 pessoas foram hospitalizadas em estado grave.
Os ataques foram executados contras as mesquitas Al Noor, no centro de Christchurch, e contra uma segunda localizada no subúrbio de Linwood. O massacre na Al Noor foi transmitido ao vivo pelo Facebook por uma câmera presa ao capacete do atirador – os 17 minutos de vídeo mostram o terrorista no carro a caminho da mesquita e durante a carnificina dentro do local de culto.
As mesquitas estavam repletas de fiéis para a tradicional oração de sexta-feira, a chamada Jumu'ah. A polícia comunicou que o atirador da Al Noor foi detido e identificado como um australiano extremista. Num manifesto de 74 páginas divulgado antes do ataque pelo suposto atirador, o autor se identificou como um australiano branco de 28 anos e racista.
Um homem, que disse que estava na mesquita Al Noor no momento do ataque, relatou à imprensa que o atirador era branco, loiro e usava um capacete e um colete à prova de balas. O homem entrou na mesquita enquanto fiéis se ajoelhavam para orar.
"Ele tinha uma arma grande. Ele veio e começou a atirar em todos na mesquita, em todos os lugares", disse o homem, identificado como Ahmad al-Mahmoud. Ele contou que conseguiu escapar com outros após romper uma porta de vidro.
No vídeo é possível ver como o atirador sai de seu carro e anda calmamente até o estacionamento em frente à mesquita. Ele ignora as pessoas no local, segue diretamente para a porta de entrada da mesquita e começa a atirar.
"As pessoas corriam, e de repente caíam"
"Começou no salão principal. Eu estava na sala ao lado. Portanto não vi quem estava atirando, mas vi que algumas pessoas estavam correndo para a sala onde eu estava. Eu vi algumas pessoas com sangue no corpo, e algumas estavam mancando", disse a repórteres um homem identificado por Ramzan e citado pelo jornal britânico The Guardian.
"Foi neste momento que percebi que as coisas eram realmente sérias, afirmou, acrescentando que os disparos duraram seis minutos ou mais. "Eu podia ouvir gritos e choro, vi algumas pessoas caírem mortas, outras estavam fugindo. Eu estou numa cadeira de rodas, portanto não conseguiria ir a lugar nenhum."
Ramzan disse ter retornado ao interior da mesquita após o fim dos disparos na tentativa de encontrar a esposa e ajudar outras pessoas. "À direita, vi cerca de 20 pessoas ou mais, algumas estavam mortas, outras gritavam. À esquerda, havia mais de dez pessoas, algumas mortas. Eu vi os cartuchos no chão, eram centenas."
Nour Tavis disse ao jornal neozelandês New Zealand Herald que estava na primeira fileira da mesquita com um amigo quando começaram os disparos. No início, eles não sabiam o que era o barulho.
"Então ouvimos gritos. Todos entraram em pânico", descreveu. "Houve tiros, tiros e mais tiros. As pessoas corriam, e de repente você as via cair."
Tavis contou que viu alguém quebrar uma janela e pular para fora. "Foi a única maneira de escapar", disse. "Eu fiz o mesmo." Enquanto ele e outros corriam, os tiros prosseguiam dentro da mesquita.
Um amigo de Tavis perdeu a esposa no ataque. "Quando ela ouviu o barulho, ela queria se certificar de que o marido estava a salvo", segundo Tavis. "Ela foi atingida por uma bala, e o marido escapou."
"Fingi não respirar"
Quem tentou dominar o atirador foi brutalmente fuzilado. Quem tentou se fingir de morto também não teve sorte – o atirador disparou rajadas de balas nos corpos estendidos no chão.
"As pessoas começaram a sair correndo, e o cara se virou e começou a atirar nelas. Portanto, eu sabia que não tinha chance", disse Farid Ahmed, que se escondeu debaixo de um banco.
"Apenas me deitei com metade do meu corpo sob o banco e minhas pernas para fora. Fingi não respirar", contou Ahmed, citado pelo The Guardian. "A mesquita possui alguns compartimentos. Ele foi para todos os diferentes compartimentos e atirou em todos."
Len Peneha, que vive ao lado da mesquita, disse ter visto um homem vestido de preto entrar no local e depois ter ouvido dezenas e tiros e visto pessoas correndo aterrorizadas. Por fim, o atirador saiu da mesquita, largou uma arma e fugiu, conta. Peneha decidiu então entrar na mesquita para tentar ajudar as vítimas.
"Vi gente morta por toda parte. Havia três no corredor, na porta que leva à mesquita, e pessoas dentro da mesquita. Não entendo como alguém pôde fazer isso", disse. "Moro ao lado desta mesquita há cerca de cinco anos, e as pessoas são ótimas, são muito amigáveis. Eu simplesmente não entendo."
Famílias ansiosas e amigos passaram a noite do lado de fora do hospital de Christchurch na espera por notícias de seus entes queridos feridos. Algumas vítimas foram liberadas do hospital e autorizadas a ir para casa.
Um homem com uma ferida na mão e outra na perna, disse que o telefone celular e sua carteira estavam na mesquita e que não tinha como ligar para um táxi.
"Não posso acreditar", disse, citado pelo New Zealand Herald. "Meus filhos... Estou aliviado por não tê-los levado à mesquita hoje."
PV/efe/afp/ap/ots
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