Hans-Christian Schmid: do documentário à ficção
6 de março de 2006Nascido em 1965, na Baviera, Hans-Christian Schmid freqüentou a Escola Superior de Televisão e Cinema de Munique, com a intenção de fazer filmes documentários. Pouco tempo depois de ter se formado, seu objetivo mudou. O cineasta sentiu que já havia chegado ao limite do gênero de documentação.
"Sempre que a situação se tornava especialmente emocionante ou pessoal, quando conseguíamos, de fato, aproximar-nos das pessoas, a câmera atrapalhava. Eu refleti sobre como seria se as pessoas não tivessem que lidar com a câmera e não agissem de modo tão encenado. Essa foi a verdadeira mudança", conta Schmid.
"Amadurecer" é o tema
Já seu primeiro filme, Nach fünf im Urwald (Na floresta, depois das cinco), foi um sucesso. A obra sobre uma menina do interior que queria se tornar uma popstar em Munique agradou tanto ao público quanto à crítica e tornou a atriz Franka Potente, de fato, uma estrela. Em 1998, ele rodou o filme 23, sobre um hacker que sofria de crise de identidade e de mania de perseguição.
23 não vale somente por sua história, mas também pela atmosfera que retrata dos anos 80: depressão política, bomba atômica, os primeiros hackers. Mas seu maior sucesso foi comemorado no ano 2000, com o romance Crazy de Benjamin Lebert, sobre um jovem deficiente em um internato.
Do mundo burguês à luta pela sobrevivência na fronteira
Com Crazy, Hans-Christian encerrou sua fase de "obras sobre jovens". Paralelamente, ele deixou Munique e foi para Berlim, onde fundou sua própria firma de produção e rodou Lichter (Luzes), sua primeira obra que faz crítica à sociedade. O filme levou pela primeira vez o nome de Schmid à Berlinale, em 2003.
Na fronteira entre a Alemanha e a Polônia, Schmid deu as costas ao mundo burguês para mergulhar no ambiente hostil da fronteira, onde muitos lutam para sobreviver sem dinheiro algum. Para isso, escolheu como personagens um taxista, um vendedor de colchões, uma tradutora e um grupo de refugiados ucranianos. Em todos os seus filmes, percebe-se a preferência do cineasta pela narrativa linear e seu cuidado com o abuso dos efeitos especiais.
"Procuro ter cuidado para não abusar, porque não gosto quando os efeitos especiais se tornam mais importantes do que a própria cena e realmente acho um exagero quando não há um motivo concreto para que eles sejam utilizados", justifica o cineasta.
Roteiro conta com a participação direta dos atores
O que distingue o trabalho de Hans-Christian Schmid é o fato de ele nunca encerrar um roteiro sem antes discutir com seus atores. Ele escuta as impressões de cada um sobre seus personagens e monta o roteiro final também a partir delas.
Seu último trabalho, Requiem, conta a história, baseada em fatos reais, de uma menina que acredita estar possuída, mas que, em verdade, sofre de epilepsia e alucinações. Em vez de procurar ajuda médica, a jovem se submete a sessões de exorcismo durante semanas, sem resultado. A atuação de Sandra Hüller como protagonista do filme rendeu à atriz o Urso de Prata no Festival Internacional de Cinema de Berlim, em fevereiro deste ano.