Hanin Elias apresenta seu punk eletrônico e eclético no Brasil
7 de março de 2013Hanin Elias é um dos ícones perdidos dos anos 1990. A feminista de atitude punk foi um dos membros fundadores do Atari Teenage Riot, uma das mais controversas, políticas e instigantes bandas surgidas na música eletrônica berlinense após a queda do Muro.
A banda durou oito anos, lançou três discos, viajou o mundo e foi uma das precursoras do hardcore digital. No final de 1999, Hanin Elias deixou o grupo, que no ano seguinte entraria num longo hiato. Elias se tornou então um ícone cult e feminista, sendo citada como referência por artistas como Chicks on Speed e Kathleen Hanna (Bikini Kill).
"Há muitas barreiras ainda a serem derrubadas na mente humana, que foi condicionada por séculos a colocar a mulher num papel inferior. Não faz muito tempo que eu me defendia fisicamente com um microfone. Tenho sorte de viver rodeada de pessoas que pensam diferente. Sinto-me muito bem sendo uma mulher no mundo em que vivo", disse Hanin Elias à DW Brasil.
Revolução solo
Elias começou a experimentar com música aos 10 anos. "Brincava com um walkman quebrado e fazia meus próprios programas de rádio com um gravador. Assim comecei a escrever música. Era como um diário onde podia revisitar o que pensava e sentia. Mesmo após entrar em bandas, nunca abandonei meu trabalho solo. Gosto de trabalhar com minhas próprias ideias", explicou a artista.
Mesmo durante os anos do Atari Teenage Riot, ela continuou gravando material solo e colaborações, o que se intensificou com o fim da banda. Ela lançou diversos EPs e dois álbuns, além de colaborações e remixes para artistas como Le Tigre, Thurston Moore e Alexander Hacke. Parte desse material foi lançado pela sua própria gravadora, Fatal Recordings.
"Música transporta mensagens e sentimentos direto para o centro do coração e eu ainda creio que a música é importante para transportar informação. Revolução é uma constante e inquieta transformação de si mesmo. Isso acontece sempre primeiro no individuo", disse Elias.
Outra visão do mundo
Em 2006, a artista visitou a Polinésia Francesa e decidiu viver lá com seus dois filhos. "Queria achar uma maneira de sair da loucura em que vivemos, encontrar novas alternativas de vida e conhecer pessoas com uma outra maneira de ver o mundo. Encontrei uma pequena e bela ilha e fiquei por lá", explicou.
Depois de cinco anos, ela resolveu voltar definitivamente a Berlim. "Estava pronta para voltar. É muito inspirador ver a Europa se unindo. De todos os lugares do mundo, eu diria que eu sempre posso voltar para Berlim e me sentir em casa."
De volta à Alemanha, Elias lançou seu mais recente disco, Get It Back, em 2011. O álbum fez a ponte entre o passado hardcore digital da artista e suas novas experiências com outros gêneros, conferindo uma grande diversidade à sua sonoridade. O disco conta com a participação de artistas de vários lugares do mundo, como Tikahiri, do Taiti, Marcel Degaz, do Chile, e a banda berlinense de hiphop Mutfak.
Hanin foi anunciada para a volta do Atari Teenage Riot, que aconteceu no final de 2009, mas o projeto acabou acontecendo sem a vocalista. "Depois de nove anos sem falar com os antigos membros, achei uma boa ideia entrar em contato. Queria reatar a amizade, e o show seria uma boa maneira de deixar os problemas no passado. Mas acho que ele (Alec Empire) não estava interessado em mim num nível pessoal. Mas tudo bem. Eu não imagino, depois de todos esses anos, que o passado pudesse se repetir sem a perda de autenticidade", disse a artista.
Shows explosivos
Elias já esteve no Brasil com o Atari Teenage Riot em 1997, em apresentações que são lembradas como históricas e explosivas. "Os shows no Brasil estão entre os mais inesquecíveis da minha carreira. A banda só conseguiu ter um impacto tão grande graças ao público. Nossos discos não tinham sido lançados no país e as pessoas conheciam as músicas e as letras", relembrou a cantora.
Os momentos catárticos dos shows basileiros foram, para Hanin, uma das essências do Atari Teenage Riot. "As pessoas estavam de corpo e alma no show, o que se fundiu com a nossa música e ideologia de maneira incrível. Foi uma experiência inesquecível. Mal posso esperar para voltar para São Paulo e ver com meus próprios olhos as mudanças políticas e culturais que aconteceram na cidade", disse a cantora, que retorna à cidade mais de 15 anos depois da primeira visita.
Ela também se declarou fã de ecléticos estilos de música brasileira. "Eu adoro música brasileira, baile funk, artistas como Bonde do Rolê e Tati Quebra Barraco. Em minha última visita fiquei impressionada com o samba dos anos 1960 e 1970, comprei um monte de discos em vinil", disse.
A alemã vai se apresentar na primeira edição da Analo Synth Punk Party, festa que celebra a volta da tecnologia analógica na música eletrônica e a atitude punk do "faça você mesmo". Além de Hanin, o evento ainda conta com shows de Anvil FX e Arthur Joly.
"Vou para o Brasil com a Sara, uma DJ de scratch de Berlim. Tenho diversas e flexíveis maneiras de me apresentar ao vivo: posso tocar com uma banda, com um DJ ou sozinha. Sou sempre a mesma pessoa, mas minha música se desenvolve e está em constante transformação. Vou mostrar músicas de meus álbuns solo, que gravei nos últimos 20 anos", revelou Elias a respeito do show no Brasil.
O show de Hanin Elias acontece nesta quinta-feira (07/03) no clube Nova Nostro, em São Paulo.
Autor: Marco Sanchez
Revisão: Alexandre Schossler