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Esporte

Hamburgo, crônica de uma interminável agonia

18 de junho de 2019

O tradicional clube do norte alemão virou o milênio esperando integrar o Top 10 da Europa. Ali começava, na verdade, sua lenta agonia rumo à inexorável decadência.

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Torcedor chora o primeiro rebaixamento da história do Hamburgo, em 2018
Torcedor chora o primeiro rebaixamento da história do Hamburgo, em 2018Foto: Getty Images/Bongarts/A. Grimm

O mundialmente famoso relógio digital afixado numa arquibancada do lendário Volksparkstadion (Estádio do Parque do Povo), a casa do Hamburgo, finalmente será desmontado logo após um show da pop-star Pink, em julho.

Um patrocinador havia doado o relógio ao clube em 2001. Afinal, os últimos 20 anos haviam sido razoavelmente bem-sucedidos e mereciam esse presente. Nesse período foram três títulos nacionais e dois títulos europeus que enchiam de orgulho os fiéis torcedores hamburgueses.

O relógio cronometrava minuto a minuto o tempo que o Hamburgo já estava na Bundesliga sem jamais ter caído para a segunda divisão. Com o advento do novo milênio, não apenas a torcida, mas também a população da segunda maior cidade da Alemanha imaginava que o time alçaria novamente voos mais altos no futebol alemão.

Naquela época, a própria diretoria do clube, sem nenhuma modéstia, anunciava aos quatro ventos que em pouco tempo o clube faria parte do seleto grupo Top 10 da Europa.

A história, entretanto, pregaria uma peça cruel aos dirigentes e torcedores. A lenta agonia rumo à inexorável decadência começava já na primeira década do novo século. O time ainda chegou a fazer uma boa campanha em 2006 terminando em terceiro lugar, mas foi só. Desde então vinha ladeira abaixo. Em 2014 e 2015, por exemplo, se salvou na bacia das almas da repescagem e conseguiu permanecer na primeira divisão.  

Em 2018 veio o amargo fim. Pela primeira vez em sua história, o Hamburgo era rebaixado. Muito já se escreveu sobre os motivos dessa degola, mas, de um clube que teve 24 técnicos nos últimos 20 anos, realmente não dá para esperar nada diferente.

O tradicional relógio no Volksparkstadion será desmontado
O tradicional relógio no Volksparkstadion será desmontadoFoto: picture-alliance/dpa/A. Heimken

O mais curioso nessa história toda é que um observador atento seria capaz de prever o desastre iminente. Bastaria, para tanto, analisar objetivamente os fatos. Das últimas sete temporadas que disputou na Bundesliga, o Hamburgo se viu ameaçado pelo rebaixamento em quatro. Na quinta vez não aguentou o tranco e caiu. Foi quando vozes se levantaram pedindo o fim do relógio, mesmo porque não fazia mais nenhum sentido em mantê-lo funcionando.

Huub Stevens, ex-técnico do clube, na ocasião não deixou por menos: "Acabem logo com isso! Fica todo mundo olhando para o passado e falando sobre uma época que não volta mais".

Tudo em vão. A diretoria achou uma nova função para o gigantesco cronômetro. Em vez do tempo na Bundesliga, os dígitos passaram a mostrar há quantos anos, meses, dias e horas o clube foi fundado. O tique-taque interminável teve uma sobrevida assim como o mascotinho "Dino", fantasiado apropriadamente de Dinossauro. Explicaram depois que era "por amor às crianças".

Havia uma expectativa muito forte de que o Hamburgo logo passaria pelo vale da dor da "segundona" e imediatamente voltaria ao futebol de elite. Era esse, afinal, o objetivo declarado e proclamado pelos cartolas, logo após o rebaixamento em 2018.

Tudo parecia caminhar de acordo com o figurino. O Hamburgo foi campeão do primeiro turno e os mais otimistas já se preparavam para a festa comemorativa do retorno à Bundesliga. Só que, mais uma vez, para desespero da fiel torcida, na segunda metade do campeonato os "calções vermelhos" despencaram. Tiveram um desempenho pífio na reta final da competição e na penúltima rodada sofreram uma derrota humilhante para o seu concorrente direto na luta pela vaga de acesso, sacramentando sua permanência por mais um ano na segunda divisão.

A agonia continua, mas pelo menos desta vez, o relógio vai embora. Bernd Hoffmann, diretor executivo do clube, declarou enfático: "Queremos trabalhar visando o futuro e, para alcançarmos nossos objetivos, não adianta nada ficar olhando o tempo todo no retrovisor".

Para pavimentar o caminho futurista do Hamburgo, foi contratado o técnico Dieter Hecking (ex-Borussia M'Gladbach), conhecido por sua ênfase em sistemas que priorizam o futebol defensivo. Na sua última temporada no Gladbach, apesar de contar com bons valores no setor ofensivo, como Stindl, Raffael, Pleá, Hazard e Herrmann, o ataque marcou apenas 55 gols em 34 jogos. Para Hecking "bons ataques ganham jogos, boas defesas ganham campeonatos".

De todo modo, Dieter Hecking representa uma nova esperança. Sua tarefa é encerrar o capítulo "segunda divisão" do tradicional clube já na próxima temporada. Não é por outro motivo que ele concordou em assinar um contrato de apenas um ano. Se conseguir alcançar o objetivo de voltar à Bundesliga, esse contrato sofrerá renovação automática.

Será então a primeira vez, desde 2007, que um técnico do Hamburgo fica no cargo por dois anos consecutivos e, de quebra, poderá ser início do fim dessa agonia que agora parece interminável.

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Gerd Wenzel começou no jornalismo esportivo em 1991 na TV Cultura de São Paulo, quando pela primeira vez foi exibida a Bundesliga no Brasil. Desde 2002, atua nos canais ESPN como especialista em futebol alemão. Semanalmente, às quintas, produz o Podcast "Bundesliga no Ar". A coluna Halbzeit sai às terças. Siga-o no TwitterFacebook e no site Bundesliga.com.br

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