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Günter Grass defende-se de acusação de antissemitismo

6 de abril de 2012

Um polêmico poema afirmando que Israel põe em risco a paz mundial rendeu ao escritor alemão duras críticas. Na sequência, o autor defendeu-se em entrevistas concedidas à mídia alemã, dizendo sentir-se ridicularizado.

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Foto: AP

O escritor e Prêmio Nobel de Literatura Günter Grass ganhou destaque nas mídias alemã e internacional desde a publicação de seu poema Was gesagt werden muss (O que precisa ser dito, em tradução livre) na última quarta-feira. Em diversas entrevistas concedidas nesta quinta-feira (05/04), Grass defendeu-se das acusações de retrógrado e antissemita.

No poema de 388 palavras, o autor afirma que a potência nuclear Israel ameaça a frágil paz mundial. Após duras críticas depois da publicação, Grass disse sentir-se ofendido e ridicularizado pela imprensa alemã. O escritor de 84 anos de idade declarou à emissora alemã NDR ter previsto que seria rotulado como antissemita. "Trata-se de velhos clichês. Falou-se imediatamente, como era de se esperar, no termo antissemitismo."

Em toda a sua obra literária, o escritor discute o passado alemão, defendeu-se Grass em entrevista ao canal de televisão 3sat. "Em meus livros Die Blechtrommel [O tambor, na tradução brasileira] (1959) e Beim Häuten der Zwiebel [Nas peles da cebola] (2006) está presente o peso da minha geração, a discussão sobre os crimes de responsabilidade dos alemães. E, por isso, essa acusação de antissemitismo é de um ódio atentatório sem igual", declarou.

Olhar crítico

Grass admite ter errado ao falar em seu poema de Israel como um todo e não do governo israelense concretamente. Ele enfatiza sua simpatia pelo país, mas expressa preocupação sobre seu desenvolvimento. Um ataque preventivo contra o Irã poderia provocar um acidente nuclear ou até mesmo uma Terceira Guerra Mundial.

"Essa não é simplesmente uma pequena ação militar. Não é como se alguns mísseis fossem disparados e houvesse apenas algumas mortes, como afirmaram o senhor Barak [presidente dos EUA] e Netanyahu [primeiro-ministro israelense]. Trata-se de uma ação militar que terá consequências. A situação está se agravando. O perigo de operações de guerra em seguida é cada vez maior", considerou Grass.

O escritor também se mantém firme na crítica ao governo alemão, que, segundo Grass, coloca em prática "uma reparação hipócrita" ao fornecer e financiar uma parte dos custos de submarinos a Israel. Três dessas embarcações já estão operando e duas outras deverão ser entregues até o fim de 2012. Em março deste ano, acordou-se sobre o fornecimento de um sexto submarino, que terá um terço de seus custos bancado pela Alemanha.

Alerta de Grass

Esses submarinos podem ser equipados com torpedos convencionais e também com ogivas nucleares. "Assim, nos tornamos corresponsáveis", afirma Grass. O escritor alerta também sobre o crescente isolamento da Alemanha em termos diplomáticos.

Günter Grass / Schriftsteller / Literaturnobelpreisträger
Grass admite ter errado ao falar em seu poema de Israel como um todo e não do governo israelense concretamenteFoto: dapd

"Após as experiências da Segunda Guerra Mundial, temos nos esforçado até agora para tentar manter diálogos e negociações. Tais tentativas também estão em curso com o governo de Israel. Essa autocracia, decidir por si mesmo não importa o que os outros digam, é uma ruptura com a tática até então bem sucedida: enquanto se dialoga, não se dispara", diz.

Grass vê como uma obrigação lançar um olhar crítico sobre Israel. Para o autor, não se pode poupar o país. Isso seria "covardia diante dos amigos", citando as palavras do ex-chanceler federal alemão dos tempos da Guerra Fria, Willy Brandt.

Defesa israelense

Em Israel, não houve grande alvoroço sobre o poema de Grass, relata o jornalista e historiador Tom Segev, de Jerusalém. Pessoalmente, ele considera a obra "terrivelmente vã" e "embaraçosa". A comparação ente Israel e Irã distorce os fatos, diz. "É fato que o Irã ameaça destruir Israel, mas Israel nunca teve a intenção de destruir país algum."

Para Segev, Grass não é, porém, nem antissemita nem anti-israelense. "É legítimo criticar Israel, também na Alemanha. Às vezes é até mesmo necessário. Com relação à opressão dos palestinos, a crítica de fora é muito importante. Direitos humanos em um país só podem ser realmente defendidos de fora", opina o jornalista.

Há poucos meses, Segev fez uma visita a Grass. Ele gostaria que o Prêmio Nobel fizesse melhor uso "das últimas gotas de sua tinta" – como escreveu o poeta em um dos versos de seu polêmico poema –, escrevendo um belo romance.

Autora: Claudia Hennen (lpf)
Revisão: Carlos Albuquerque