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Guterres tenta reavivar processo de paz no Oriente Médio

28 de agosto de 2017

Relação entre ONU e governo israelense anda abalada após série de críticas e resoluções, e secretário-geral inicia viagem para tentar aparar arestas e dar novo fôlego às negociações com os palestinos.

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António Guterres e Benjamin Netanyahu
Guterres (e) e Netanyahu dão entrevista após encontro em JerusalémFoto: picture-alliance/AP Photo/H. Levine

O secretário-geral da ONU, António Guterres, iniciou nesta segunda-feira (28/08) uma viagem histórica para reavivar o processo de paz no Oriente Médio. O objetivo é encontrar uma solução pacífica para o conflito entre israelenses e palestinos, que há décadas domina a agenda de segurança da região.

O chefe da organização enfrenta vários desafios em ambos os lados do conflito, e um deles é a relação delicada entre Israel e a própria ONU. A confiança do governo israelense na organização diminuiu nos últimos anos por causa de críticas e resoluções contra a nação, que vê sua soberania e status na região sendo atacada.

Por exemplo, em março, o secretário-geral da ONU teve que se distanciar da Comissão Econômica e Social para a Ásia Ocidental, dominada por Estados árabes, depois de ela publicar um relatório no qual acusa Israel de estabelecer um "regime de apartheid".

A ONU perderá apoio e financiamento de Israel e outros países, incluindo os EUA, se falhar em mudar drasticamente seu comportamento, afirmou o vice-ministro do Exterior de Israel, Tzipi Hotovely, neste domingo, antes da chegada de Guterres. "O secretário-geral tem a oportunidade de fazer uma retificação histórica da discriminação e preconceito de longa data com Israel", disse.

Encontrar o tom correto

O restabelecimento da confiança entre a ONU e o governo israelense é uma prioridade da viagem de Guterres, pois, sem ela, o secretário-geral não poderá avançar significativamente em direção à uma solução pacífica.

Para Guterres, encontrar um equilíbrio entre imparcialidade e funcionamento interno da ONU significa priorizar a importância do processo de paz e fazer com que ambas as partes adiram à visão da comunidade internacional, estabelecida nas resoluções do Conselho de Segurança.

A chave consiste em adotar o tom correto logo no início de seu mandato, o que determiná muito do relacionamento que ele manterá com as autoridades israelenses e palestinas no restante de seu tempo à frente da ONU.

No entanto, suas ideias de como prosseguir com o processo de paz e iniciar as negociações poderão ser simplesmente ignoradas devido à crescente instabilidade na região e outras prioridades de Israel. Para o premiê israelense, Benjamin Netanyahu, os assuntos prementes são o Irã e seu papel na Síria. Antes de se encontrar com Guterres, Netanyahu alertou nesta segunda-feira sobre o "entrincheiramento militar" de Teerã na Síria e como isso faz parte do plano declarado do Irã de "erradicar Israel".

"Isso é algo que Israel não pode aceitar. Isso é algo que a ONU não deveria aceitar", diz Netanyahu, acrescentando que a ONU falhou na eliminação do discurso de ódio dos palestinos dentro da organização e também em impedir que armas cheguem ao grupo militante Hisbolá no Líbano.

A questão do Hamas

Após uma visita à Cisjordânia na terça-feira, Guterres vai visitar a Faixa de Gaza, o que já dá sinais de que será uma oportunidade perdida para o chefe da ONU. Um dos obstáculos mais desafiadores para o processo de paz é justamente a relação do Hamas, que governa Gaza, com o Fatah, que controla a Cisjordânia, e não está programado um encontro de Guterres com nenhum representante do Hamas.

Em vez disso, espera-se que Guterres pressione o governo israelense para que os habitantes de Gaza possam ser tratados em hospitais de Israel e para que afrouxe o bloqueio ao enclave costeiro.

Se o Fatah – do presidente da Autoridade Palestina, Mahmud Abbas – não conseguir se acertar com o Hamas, a perspectiva de uma solução de dois Estados continuará distante pelo simples motivo de essa situação deixar claro que as facções palestinas não conseguem governar juntas.

A governança palestina é um elemento-chave do processo de paz, mas há também a questão da segurança de Israel. O Hamas fez um esforço em maio, quando voltou atrás de sua convocação pela erradicação do Estado de Israel, mas será necessário mais do que isso para uma solução pacífica.

"Eu entendo as preocupações sobre segurança de Israel e repito que a ideia, intenção ou vontade de destruir o Estado de Israel é algo totalmente inaceitável na minha perspectiva", disse Guterres, ao lado de Netanyahu, nesta segunda-feira.

Por enquanto, a solução de dois Estados continua sendo algo distante, até porque é necessário mais do que apenas um mediador para acabar com as divergências. Isso requer confiança, intenção e compromisso, o que as autoridades de ambos os lados do conflito não têm para oferecer neste momento.

Mas, ao tentar um equilíbrio, a visita de Guterres tem potencial para virar a página. "Eu sonho que terei a chance de ver na Terra Santa dois Estados capazes de viverem juntos em reconhecimento mútuo, mas também em paz e segurança”, afirmou Guterres, ao lado de Netanyahu.