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Eleições nos EUA

2 de novembro de 2010

Na campanha eleitoral para o Congresso norte-americano, não se dá importância a assuntos de ordem internacional. Resultado do pleito pode, contudo, influenciar decisivamente a política externa do país.

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Maioria republicana poderia dificultar governo ObamaFoto: AP

Nada mais preciso para descrever a atmosfera entre os norte-americanos, que nesta terça-feira (02/11) elegem uma nova Câmara de Representantes e 37 novos senadores, do que o velho ditado da campanha eleitoral de Bill Clinton, em 1992: "It's the economy, stupid" ("É a economia, estúpido").

Com uma taxa de desemprego de quase 10%, que já se perpetua há meses, um mercado imobiliário desmoronado e uma economia que não engata, os norte-americanos têm razões mais que suficientes para se preocuparem com a situação econômica do país.

No entanto, uma lista no mínimo tão longa é a que engloba importantes assuntos de política externa: uma guerra no Afeganistão que se arrasta por quase nove anos; a tensão no Oriente Médio, onde as negociações pela paz entre israelenses e palestinos, mediadas pelos EUA, podem ser interrompidas a qualquer momento; o conflito até agora não resolvido e duradouro em torno do programa nuclear iraniano e a induzida troca de lideranças dentro da ditadura nuclear na Coreia do Norte.

Tudo isso não importa no contexto dessa eleição, diz Thomas E. Mann, especialista em questões relacionadas ao Congresso norte-americano da Instituição Brookings, em Washington. "As pessoas estão tão desesperadas e pessimistas no que diz respeito à economia, que o tema simplesmente domina a campanha eleitoral", diz ele.

Política externa: tema periférico

A política internacional só aparece na campanha quando acompanhada de algum tema nacional, explica Mann. Fala-se da China, por exemplo, quando o assunto é a política comercial ou os desequilíbrios cambiais no cenário global. E o México só é mencionado quando se discute a imigração ilegal e seus efeitos sobre a economia norte-americana. No mais, tudo gira em torno da política interna, especialmente dos assuntos de ordem econômica, diz Mann.

Enquanto a política externa não exerce nenhuma influência sobre as eleições, o resultado das mesmas poderá influenciar decisivamente a política externa do país. Pois, se as pesquisas de intenção de voto estiverem corretas, os republicanos irão reconquistar a Câmara de Representantes e ainda têm uma pequena chance de obter a maioria no Senado. Ambos os resultados poderão modificar a forma pela qual Washington conduz a política externa do país.

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Ex-governadora do Alasca, Sarah Palin, em campanha eleitoral do Partido RepublicanoFoto: APImages

"Há muitos candidatos republicanos à Câmara de Representantes do movimento Tea Party. Esses candidatos são extremamente conservadores", analisa o cientista político Douglas Foyle, da Universidade de Wesleyan, em Ohio. Foyle pesquisa os efeitos da política interna norte-americana sobre a política externa do país. "Eles não falaram muito sobre política externa. Logo, ninguém sabe ao certo o que vão fazer, caso sejam eleitos", diz ele.

Um assunto, contudo, foi tratado com frequência pelo movimento Tea Party na campanha eleitoral: eles querem um orçamento público saneado. "Se querem sanear o orçamento, então precisam reduzir os gastos com a Defesa, que perfazem quase metade dos gastos públicos disponíveis", observa Foyle. "Mas enfraquecer a política externa com cortes militares não é algo que os republicanos tradicionalmente fariam", especula o cientista político.

Futuro do Partido Republicano

Para Thomas E. Mann, existe a real possibilidade de que "um número significativo de adeptos do movimento Tea Party, com posições consideravelmente extremas em relação à redução das competências de um governo federal e com uma postura bastante hostil à globalização e a organizações internacionais", ocupe lugares no Senado, em nome dos republicanos. Mann acrescenta que "se esse grupo ganhar o comando dentro do Partido Republicano, teríamos nos EUA um partido de centro-esquerda e um partido extremamente conservador. Isso não acalma muito os ânimos", completa.

Não importa como venha a terminar o conflito dentro do Partido Republicano, uma maioria republicana em uma das câmaras do Congresso norte-americano iria surtir efeito na política externa do país. É fato que o presidente dispõe de maiores poderes e independência em questões de ordem externa do que na política interna, mas, mesmo assim, ele não pode simplesmente ignorar o Congresso. Primeiro, porque é o Congresso quem aprova (ou não) o orçamento do presidente. E segundo porque os parlamentares iriam exercer pressão política sobre o chefe de Estado.

"Tomemos como exemplo o Afeganistão", diz Jürgen Chrobog, ex-embaixador alemão em Washington e atual presidente da Fundação Herbert Quandt, pertencente à montadora BMW. "As tropas e a guerra têm que ser financiadas. Assim, os membros do Congresso dispõem de um poder enorme. Eles podem abrir ou fechar a torneira", diz Chrobog.

Obstáculos para tratados internacionais

A ratificação de tratados envolvendo o direito internacional também diz respeito ao Congresso. Apesar de uma clara maioria democrata, o presidente Barack Obama não conseguiu, na primeira metade de seu mandato, fazer com que o Congresso aprovasse qualquer acordo de proteção climática.

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Jürgen Chrobog: Congresso dispõe de poder enormeFoto: dpa - Fotoreport

Com os esperados acréscimos republicanos, ou até mesmo com uma maioria do partido, não haveria chance alguma de aprovação de tratados de proteção ambiental, que precisam de dois terços dos votos do Senado para serem ratificados, analisam especialistas.

Incerto, em função da oposição republicana, é até mesmo o futuro do novo acordo Start, que sucedeu ao pacto de desarmamento nuclear assinado pelo ex-presidente Ronald Reagan, ícone dos republicanos, e pelo então presidente soviético Mikhail Gorbachov.

Em meados de novembro, o atual Senado irá votar a favor ou contra o novo acordo. Os resultados ainda são uma incógnita. Caso o tratado não seja ratificado, uma aprovação pelo Senado a ser eleito parecerá tão mais improvável.

"Não acredito que importantes acordos internacionais venham a ser ratificados, pelo menos não com facilidade", acentua Chrobog. "Espero que o presidente Obama e os democratas mantenham ao menos a maioria no Senado", diz ele.

A esperada guinada para a direita na eleição do Congresso norte-americano poderia tornar a política externa do país bem mais complicada e menos previsível, preveem os especialistas, alertando, contudo, que os europeus não deveriam se preocupar tanto com o assunto antes dos resultados do pleito.

"Acho que o mais importante a ser sabido por aqueles que observam a eleição nos EUA de fora do país é entender que ali não se trata, de fato, de ideologia, mas sim de que os norte-americanos estão preocupados, aborrecidos e pessimistas em relação ao futuro econômico pessoal. E por isso votam instintivamente contra o partido que está no poder", explica Mann.

Autor: Michael Knigge (ca)
Revisão: Carlos Albuquerque