Arte urbana
22 de maio de 2009Quando o Muro de Berlim caiu, em 1989, várias áreas da parte oriental da cidade passaram a oferecer a artistas a possibilidade de intervir no espaço urbano, experimentando e criando um novo tipo de arte. Do grafite à sticker art, cut-out, estêncil e past-up, havia de tudo.
Hoje, as ruas de Berlim são uma espécie de galeria a céu aberto para os apreciadores da arte urbana. A fim de facilitar o acesso a esta arte mesmo a quem não vive na cidade, um novo guia digital seleciona e documenta alguns exemplos interessantes de obras espalhadas pela cidade.
O Urban Art Guide (guia de arte urbana) é uma aplicação digital que pode ser usada online ou em iPhones e que dispõe de três ferramentas básicas. A primeira delas é a locate me (me localize), que oferece um mapa de Berlim com a indicação das obras situadas nas proximidades do usuário, informações sobre as mesmas, o artista e o caminho para chegar até elas.
Outra ferramenta do guia é a galeria, que inclui mais de cem obras de arte urbana. Já a terceira função oferece aos usuários rotas selecionadas, que passam pelos bairros mais descolados de Berlim, destacando o que há de melhor em termos de arte urbana na cidade.
Maria Zeeman, da equipe editorial, conta que diariamente são descobertos novos trabalhos e incluídos no guia. Os próprios usuários costumam dar dicas. "Eles acham alguma coisa e avisam a gente se for interessante, legal, fofo ou romântico. Somos mais um tipo de plataforma para as pessoas trocarem ideias sobre o que há de mais novo, quais são as melhores ideias, o que é arte e o que não é", diz Zeeman.
A "Igreja da Arte Urbana"
No coração de Berlim, aqueles que estiverem em busca da arte urbana real podem encontrá-la na Urban Art Church (igreja da arte urbana). Ali, tudo – desde teto, portas e até caixas de correio – é coberto por algo que mais parece uma enorme colagem eclética: figuras como em histórias em quadrinhos, roupas íntimas dependuradas num varal, uma cobra enorme, robôs, bem como desenhos de cenas eróticas.
Trata-se de uma espécie de reunião do trabalho de vários artistas urbanos. A "igreja", segundo Zeeman, está em constante transformação, de acordo com o número de artistas e coletivos que encontram ali seu espaço de expressão. "Os artistas não trabalham apenas individualmente, mas em equipes, comparáveis às do esporte", explica.
"Às vezes, há uma espécie de batalha pelo espaço, quando uma equipe põe uma nova peça de arte e, no dia seguinte, outra vem e coloca uma maior ainda ali. Dessa forma, você pode ver um muro se modificando e crescendo", conta ela.
Encontro com o artista por trás da arte
Nomad é um dos artistas de Berlim cujo trabalho está bem representado no guia. Ele trabalha com arte urbana há vários anos e diz que não planeja seus trabalhos, se deixando simplesmente inspirar pelas ruas da cidade. "Quando ando por aí, pinto um monte de lixo que fica jogado nas ruas, que você pode perfeita e legalmente transformar em arte, porque não é proibido pintar o lixo. É proibido deixá-lo nas ruas, mas não pintá-lo", diz Nomad.
Para o artista, qualquer coisa pode servir de "tela" para suas pinturas: desde sofás e colchões até máquinas de lavar antigas. "Eu pinto, uso spray e, na maioria das vezes, uso um marcador hidrográfico clássico, porque posso levá-lo comigo todo o tempo, o que pode vir a calhar quando estou simplesmente andando por aí", explica.
Embora Nomad aprecie a apresentação interativa do Urban Art Guide, ele acredita que muita coisa se perde na "tradução digital" do seu trabalho, quando este é tirado das ruas. "Não acredito que a arte urbana aconteça em galerias nem na internet. Ela não acontece em nenhum lugar a não ser na rua", conclui Nomad.
Autoras: Leah McDonnell/Catherine Graue
Revisão: Rodrigo Abdelmalack