Guerra aberta ou de guerrilha no Iraque
14 de abril de 2004O governo alemão exclui a possibilidade de enviar soldados ao Iraque, mesmo sob mandato das Nações Unidas. Trata-se de uma "questão de credibilidade", segundo o deputado social-democrata Dieter Wiefelspütz, referindo-se indiretamente à posição pacifista da Alemanha desde o início do conflito.
Não obstante, Berlim continua exigindo um "papel mais forte" da ONU para "legitimar o processo de transição", disse o porta-voz da coalizão Thomas Steg, nesta quarta-feira (14), na capital. "O governo alemão saúda expressamente o anúncio do presidente norte-americano, de manter o cronograma para entrega da soberania a um governo interino no dia 30 de junho", declarou.
30 de junho
Em sua declaração, o presidente norte-americano, George W. Bush, mostrou-se firme na disposição de quebrar a resistência dos rebeldes sunitas e xiitas, reforçando as tropas no Iraque. Bush manteve, porém, a entrega do poder em 30 de junho, do contrário "muitos iraquianos questionariam nossas intenções e se sentiriam traídos em suas expectativas".
O deputado social-democrata Gernot Erler, porta-voz de Política Externa de seu partido, manifestou dúvidas de que seja possível manter a data para a entrega do poder. Não haveria como passar o controle às tropas do Iraque.
Guerrilha ou guerra civil
Para Bush, o Iraque não passa nem por uma rebelião, nem por uma guerra civil. Na maior parte do país, a situação seria "relativamente estável". Ele rechaçou ainda qualquer comparação com o Vietnã.
Na Alemanha, predomina a opinião de que "os acontecimentos no Iraque se encaminham cada vez mais para um guerra aberta", como disse à DW-RADIO Michael Lüders, especialista em Oriente Médio.
Para o general Klaus Reinhardt, o seqüestro de estrangeiros é típico de uma guerra de guerrilha. O militar alemão está convencido de que pela força, o conflito não poderá ser solucionado: "O uso da força militar pode, no máximo, abafar um pouco a rebelião. Mas não fará com que voltem a reinar ordem e tranqüilidade, pois violência gera violência", declarou à DW-RADIO.
Policiais alemães
O ataque a dois policiais da tropa antiterror alemã GSG-9 no Iraque será examinado por uma comissão no Parlamento. O ministro do Interior, Otto Schily, apresentará os resultados das investigações assim que elas forem concluídas. A morte dos policiais não foi confirmada oficialmente pela dificuldade de acesso ao local onde se supõe terem sido enterrados seus corpos. Mas jornais como o Daily Telegraph britânico e o Bild alemão publicaram a foto de um morto, afirmando tratar-se de um dos agentes alemães.
Os policiais estavam no último carro de um comboio de seis veículos alemães que se dirigiam a Bagdá, provenientes de Amã, na Jordânia. Eles iriam substituir outros agentes que cuidam da segurança da embaixada alemã. Optou-se pelo caminho por terra, usado inúmeras vezes anteriormente, para poder transportar armas e equipamento especial.
ONGs preocupadas com civis
Centenas de estrangeiros deixaram o Iraque desde a nova onda de violência, entre eles vários alemães que integravam equipes de ajuda humanitária. Frank Mc Areavev, da ONG Help manifestou sua frustração à DW-RADIO: "Se não recuperarmos agora nosso equipamento, todo o trabalho terá sido em vão".
Outras ONGs estão preocupadas com a população civil no Iraque. A ajuda humanitária prosseguirá, mas em forma reduzida, declarou a Diakonie-Katastrophenhilfe, da Igreja Protestante nesta quarta-feira (14), em Stuttgart, que se engajou em restabelecer o abastecimento de água em algumas cidades.
O diretor do comitê de médicos Cap Anamur, Elias Bierdel, lamentou não poder mais enviar estrangeiros ao Iraque. O funcionamento de duas clínicas e a construção de um hospital em bairros pobres xiitas só poderão ser garantidos através de pessoal iraquiano ou jordaniano, "porque pessoas de origem árabe podem se movimentar com muito mais segurança".
O Unicef, Fundo das Nações Unidas para a Infância, também tenta prosseguir seu trabalho no Iraque com pessoal local. A construção de escolas e sistemas de abastecimento de água estaria a cargo de firmas contratadas, segundo Helga Huhn, da sede alemã do Unicef, em Colônia.
As crianças, segundo ela, são duplamente vítimas da escalada do conflito: estão entre os mortos e feridos, ou continuam traumatizadas e fechadas em casa, sem poder ir à escola. "Nessas condições, não têm nada para fazer, a não ser sentir medo o dia todo", acrescentou.